O Presidente da República colocou na ordem do dia a crise que a comunicação social atravessa, devido aos novos hábitos de consumo na era digital e à fuga do investimento publicitário para outras plataformas. Mas ainda há quem fature milhões de euros por ano com a venda dos conteúdos produzidos pela comunicação social, como as empresas que fornecem serviços de “recorte” de notícias, o denominado “clipping”, a centenas de entidades públicas e privadas em Portugal.
Não foi possível confirmar se empresas como a Cision Portugal, a Manchete Research ou a Multicomunicação, entre outras, pagam uma compensação financeira aos produtores dos conteúdos que difundem através dos seus serviços. O certo é que as únicas empresas de clipping licenciadas pela Visapress, entidade que gere coletivamente os direitos de autor da maior parte da imprensa portuguesa, são a News Search, a Media Monitor, a Press Power e a Surprise Evolution. “Nós pagamos uma compensação através dessa licença”, afirma Vera Pereira, membro da direção da News Search.
Questionada sobre o valor dessa compensação, Vera Pereira diz que “é confidencial”. Por seu lado, a Visapress não respondeu aos contactos do Jornal Económico. Na medida em que a News Search paga uma compensação à Visapress, ao contrário de várias concorrentes, não se trata de uma situação de concorrência desleal? “Cada qual sabe de si, a única coisa que posso dizer é que a News Search tem a licença e paga uma compensação anual”, responde Vera Pereira.
A Cision Portugal é a empresa dominante no mercado de serviços de clipping em Portugal. Em 2017 registou um volume de negócios de 9,7 milhões de euros e um resultado líquido (depois de impostos) de 2,64 milhões de euros. No ano anterior, o volume de negócios da Cision Portugal foi de 9,57 milhões de euros.
O Jornal Económico contatou a direção da empresa, perguntando se paga alguma compensação aos produtores dos conteúdos e que percentagem do volume de negócios corresponde efetivamente a serviços de clipping, mas até ao fecho não obteve resposta.
Entidades públicas pagam milhares de euros pelo “clipping”
Entre os clientes da Cision Portugal destacam-se várias entidades públicas. Durante o ano de 2018, por exemplo, a Cision Portugal recebeu contratos por ajuste direto do Município de Braga, Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, Águas de Portugal, Tribunal de Contas, Instituto do Turismo de Portugal, Infarmed, Universidade Nova de Lisboa, Região de Turismo do Algarve, Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, Município de Viseu, entre outras.
O contrato do Tribunal de Contas, por exemplo, visou a “aquisição do serviço de recolha, tratamento e arquivo de informação noticiosa (recorte de imprensa nacional e ‘alertas’ de rádio e televisão), que tenha relação com o Tribunal de Contas e as entidades fiscalizadas por este órgão”. Preço contratual: cerca de 35 mil euros.
Quanto ao contrato por ajuste direto da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, celebrado em novembro de 2018, visou a “prestação de serviços de seleção e disponibilização eletrónica de notícias”, com um preço de cerca de 10 mil euros.
Por sua vez, a News Search teve um volume de negócios de 258 mil euros em 2017, ao passo que a Manchete Researche alcançou 149 mil euros e a Multicomunicação registou 457 mil euros (importa contudo salientar que a Multicomunicação também presta serviços de “assessoria” e “imagem”).
De acordo com vários especialistas em direitos de autor e propriedade intelectual, contatados pelo Jornal Económico, se se verifica uma exploração comercial dos conteúdos, as empresas em causa têm de pedir uma licença à sociedade de gestão coletiva, neste caso a Visapress, para poderem utilizar e divulgar os respetivos conteúdos, sob pena de estarem a violar eventuais direitos de autor.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com