Enquanto o mundo acelera rumo à automação inteligente, muitas empresas continuam estagnadas no básico: organizar os próprios dados. Apesar do entusiasmo em torno da Inteligência Artificial (IA), a maioria das organizações ainda não ultrapassou a fase das boas intenções. A transformação prometida pela IA não acontece por decreto nem com comunicados otimistas. Exige estrutura, estratégia e, sobretudo, ação concreta.
Comecemos pelo óbvio: não há IA sem dados. Existem muitas empresas que ainda tratam os dados como um subproduto das operações, em vez de os verem como um ativo estratégico. Estudos internacionais apontam que 99% das organizações reconhecem a importância dos dados, mas poucas os sabem usar bem. Apenas 28% das empresas no mundo conseguiram escalar verdadeiramente soluções de IA.
A maioria das organizações nacionais ainda está presa na construção das chamadas “fundações de dados”. Isso significa, em bom português, pôr ordem na casa: integrar sistemas, eliminar silos, garantir qualidade e segurança da informação. Parece simples, mas continua a ser o principal obstáculo. E enquanto este passo não estiver consolidado, falar em inteligência artificial é como querer correr uma maratona sem saber andar.
Nas empresas que ultrapassam essa fase, o passo seguinte é usar os dados para prever, automatizar e melhorar decisões. No entanto, mesmo quando há projetos-piloto com algoritmos e modelos matemáticos, estes ficam frequentemente confinados a departamentos isolados, sem ligação real à estratégia do negócio. Em muitos casos, são vistos como “experiências interessantes” – o equivalente digital de ter um laboratório bonito mas fechado ao público.
Depois, há as exceções. As empresas que já chegaram ao nível de liderança em IA fazem da tecnologia um motor do negócio. Estas organizações não se limitam a usar IA; vivem-na. Investem mais, têm equipas mais experientes e lideranças que compreendem o valor estratégico da automatização inteligente. A diferença entre estas e o resto não está na tecnologia em si, mas na visão e na coragem de executar.
Os dados falam por si: líderes em IA têm equipas com o dobro da experiência (em média 9,1 anos, contra 4,3 nas restantes), investem 69% mais em projetos estratégicos e sabem exatamente onde a IA está a criar valor. Por outro lado, 57% dos gestores dizem estar preparados para a IA, mas só 8% têm, de facto, as bases técnicas e organizacionais para o provar.
A verdade é incómoda: muitas empresas ainda não fizeram o trabalho de casa. Continuamos a confundir digitalização com transformação. E, sem mudar esta mentalidade, continuaremos a correr atrás dos outros – enquanto assistimos de fora à revolução que prometemos liderar.