O Verão de 2017 chamou a atenção do país, e de todos e cada um de nós, para um país habitualmente ausente das notícias.

A dimensão humana da tragédia, com a perca de vidas humanas e o cenário de destruição que saltou aos olhos de todos, convocou os portugueses para uma realidade desconhecida de muitos de nós. O que as imagens do Verão passado mostraram foi um país envelhecido e desertificado, pessoas abandonadas pelos seus e, acima de tudo, um país e pessoas pobres, muito pobres.

É minha convicção que aquele trágico choque de realidade criou as condições mínimas para se poder mudar esta situação, sem a habitual atitude de passa culpas, antes buscando novos caminho e soluções.

Hoje, como já antes na nossa história, é preciso fazer um esforço de povoamento/repovoamento do território. Já não será, certamente, através da atribuição de cartas de foral ou do apelo à vinda de Flamengos e Borgonheses, mas é bom não esquecer que as razões de soberania de outrora se mantêm – dificilmente um povo que não ocupa o seu território exerce sobre ele a soberania. E também não será, seguramente, através da impossível concretização da ideia romântica do regresso às aldeias hoje abandonadas. Mas poderá ser através da criação de novos atractivos para a fixação de famílias e de empresas familiares em cidades e vilas de média dimensão.

O caminho da humanidade vai, em todo o mundo, no sentido da urbanização, e não no inverso. E, com este propósito, será seguramente relevante desenhar políticas públicas diferenciadas que ajudem à manutenção das empresas familiares que já estão instaladas e que têm a sua direcção efectiva nesses territórios e que, simultaneamente, promovam activamente a captação de novas empresas familiares que se queiram ali instalar.

Estas empresas, pelas suas características, poderão dar um contributo muito importante para este objectivo. Uma maior vocação de longo prazo, uma tradicional sucessão de gerações da mesma família a gerir e a trabalhar na empresa, uma maior prevalência do reinvestimento e do crescimento orgânico em detrimento da distribuição imediata dos resultados, são algumas das características que podem fazer a diferença.

Estes factores, a par da ligação afectiva que as famílias empresárias criam habitualmente com as regiões em que estão instaladas e com as comunidades em que se inserem, poderão contribuir para um renascimento destes territórios através do investimento produtivo e do emprego digno e bem remunerado. E para diminuir a chocante pobreza que a todos envergonha.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.