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Empresas negoceiam residências para imigrantes

Pela região do sudoeste alentejano passam 10 a 15 mil imigrantes asiáticos para trabalharem numa indústria forte em exportações. O objetivo é fazer o que Espanha tem na lei há duas décadas: residências coletivas com todas as condições de habitabilidade.
6 Junho 2025, 06h47

A situação é precária, cara e insustentável. Uma parte dos 10 a 15 mil imigrantes da Índia, Nepal, Bangladesh ou Tailândia, que chega ao sudoeste alentejano para trabalhar na agricultura fica alojado em contentores. Embora requalificados, não chegam para todos os trabalhadores que passam por esta região forte em exportações de frutas, legumes, flores e plantas ornamentais. Outros imigrantes são hospedados em casas particulares, muitas vezes sobrelotadas e pagas pelos empresários agrícolas. Agora, o objetivo é fazer o que Espanha já tem na lei há duas décadas: residências com divisões para quatro pessoas e todas as condições de habitabilidade.

Inspirado neste modelo espanhol bem-sucedido, a Associação de Horticultores, Fruticultores e Floricultores do Sudoeste Alentejano (AHSA) pretende melhorar as condições de vida dos imigrantes temporários que trabalham nesta região. A missão é criar uma residência coletiva para trabalhadores e, à volta do edifício principal, aproveitar as estruturas modulares já existentes para estadias mais curtas.

“Há uma intenção de tentar ajudar a replicar na região o exemplo espanhol da Residência Tariquejo, em Cartaya, na província de Huelva, região da Andaluzia”, diz Luís Mesquita Dias, o presidente da AHSA, ao Jornal Económico.

A Associação já iniciou contactos com o governo de Luís Montenegro (ministérios da Agricultura, Infraestruturas e da Habitação e Presidência) e vai montar um grupo de trabalho com empresas locais, a Câmara Municipal de Odemira e as Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo e Algarve.

Todos os anos, pela região do sudoeste alentejano, passam 10 a 15 mil imigrantes da Índia, Nepal, Bangladesh e Tailândia, que trabalham na produção de frutas, legumes, flores e plantas ornamentais – um setor que ocupa seis mil hectares na região e vale 500 milhões de euros em exportações a nível nacional. Alguns imigrantes ficam alojados em Instalações de Alojamento Temporário Amovível (IATAs), uma estrutura modular semelhante aos contentores dos navios, com dois quartos, duas casas de banho e uma mini-cozinha. “Neste momento, há IATAs que dão para mais de duas mil pessoas e há ainda mais mil e tal em construção e legalização”, revelou Luís Mesquita Dias. Estas construções representaram um investimento de 10 milhões de euros por parte das empresas agrícolas, que receberam uma comparticipação de 15%. ainda durante o governo de António Costa. No entanto, têm de ser desmanteladas após 10 anos de utilização por decisão do antigo governo socialista.

Além das vantagens económicas, o modelo espanhol permitiria ainda reduzir a atividade de organizações criminosas e os proprietários agrícolas ficariam menos dependentes dos senhorios locais a quem pagam uma renda. Por outro lado, a capacidade de controlo e a fiscalização passaria a estar mais centralizada nas empresas. “Estimo que uma unidade para 500 pessoas e semelhante à de Espanha possa custar cinco milhões de euros”, diz Luís Mesquita Dias. No total, o investimento necessário para melhorar a vida dos imigrantes rondaria os 50 milhões de euros.

O JE sabe que algumas empresas locais já se mostraram interessadas neste projeto. O presidente da AHSA revela ainda que estão a decorrer conversações com empresas, consultoras e autarquias para promover a mobilidade sustentável no território.

A Residencia Para Trabajadores Temporeros, em Tariquejo, foi construída num terreno cedido pelo município de Cartaya e é detida por uma cooperativa de 11 empresas agrícolas, que tiveram apoio financeiro do Governo (40%). Fundada em 2010 é composta por um núcleo central e os quartos têm duas a três camas, casa de banho, zona de refeição, frigorífico, máquinas de lavar. À volta, existem estruturas modulares mais simples para estadias mais curtas, com ar condicionado, painel fotovoltaíco, água, internet.

Os imigrantes podem frequentar cursos de castelhano e outras formações. A quantidade de trabalhadores é indicada pelas empresas antes de cada campanha agrícola e autorizada pelo governo espanhol. Além de assegurar condições de vida dignas, este é um exemplo eficaz de uma gestão coordenada entre empresas, governo e municípios.

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