Apesar de há bastantes anos ser possível antever o “inverno demográfico” em que a Europa, e especialmente Portugal, estão a entrar, a sociedade e os seus principais responsáveis foram tomando uma atitude de faz-de-conta. Haveria sempre um qualquer tema mais importante e momentoso.

Do omnipresente futebol a alguma intriga política de segundo plano, de um qualquer escândalo que dura o tempo de o ler, às paixões relatadas na imprensa cor-de-rosa, tudo se sobrepõe às discussões sobre o que é estrutural no nosso futuro enquanto país.

As questões da população são uma delas. De facto, basta ler os estudos disponibilizados pelo INE para ficarmos a saber, pelo menos, o seguinte: nos próximos 50 anos, a população portuguesa diminui cerca de 25%; os idosos passarão a representar 40% da população, ou seja, passaremos a ter 137 pessoas em idade activa por cada 100 idosos; quanto aos jovens, desceremos abaixo do milhão.

Um povo que não assegura a sua continuidade, que, consequentemente, não assegura a ocupação do seu território, e que dificilmente consegue sustentar e cuidar dos seus idosos, não será seguramente um povo soberano.

A alteração desta situação há muito deveria ter sido encarada, e promovida a sua inversão. Infelizmente, assim não vem acontecendo e a dramática realidade está a impor-se. É por isso que vejo com especial simpatia a posição clara que o Ministro Eduardo Cabrita assumiu sobre esta matéria.

Disse o Dr. Eduardo Cabrita: “ A posição de Portugal é a de que as migrações são globalmente positivas para a Europa e o país está a assumir, na preparação do Portugal 2030, que o país precisa de mais imigrantes e quer que tal seja feito de forma planeada e regular. Portugal precisa de mais migrantes para combater o problema da demografia (…) para termos um saldo demográfico positivo, os migrantes são uma solução”

Ora, esta posição clara pressupõe migrações legais, integração das pessoas, trabalho com direitos e deveres e respeito integral pelos direitos fundamentais dos cidadãos.

E é neste particular que as empresas familiares poderão desempenhar um papel muito relevante. É sabida a importância que estas empresas dão às relações com os seus colaboradores, a sua integração com bastante proximidade às famílias detentoras das empresas, o especial cuidado com acções de responsabilidade social interna e externa e a tendência para uma maior perenidade dos vínculos laborais.

Por isto, talvez pudesse ser interessante o MAI desafiar as Empresas Familiares para construírem em conjunto um projecto neste domínio. Projecto responsabilizador e inclusivo, que poderia, a ser bem-sucedido como estou certo que será, representar um exemplo e um ensaio para adopção de medidas a uma mais larga escala.

Fica a sugestão e o desafio – para todos. Porque não há empresas sem pessoas!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.