MBA: Empresas valorizam mas não consideram determinante

Fazer um MBA está nos planos de muitos profissionais que ambicionam um crescimento profissional, maior remuneração e até mesmo uma recolocação na empresa. Mas isso envolve um investimento considerável, tanto de tempo como de dinheiro, e por isso a dúvida surge. Vale ou não a pena fazer um MBA? O Jornal Económico (JE) falou com algumas entidades e a resposta é unânime.

Por norma, em Portugal, um MBA nunca foi um requisito no currículo de um CEO ou de um executivo de primeira linha. No entanto, nos últimos anos tem-se registado algum interesse neste tipo de formação. Aos olhos dos gestores de recursos humanos, porém, este nem sempre é considerado como um ponto de desempate entre dois candidatos num processo de contratação. Na perspectiva das empresas contactadas, esta nova formação é “valorizada mas não é determinante”.

Ainda assim, do ponto de vista dos empregadores é unânime que quem se apresenta com MBA no seu currículo tem vantagem face aos restantes por se considerar que quem se propõe fazer uma especialização deste tipo, normalmente, apresenta características de abertura à mudança e de adaptação a novos projetos.

Mário Rocha, manager do escritório da empresa de emprego e recrutamento Hays no Porto, subscreve a ideia e considera que este upgrade profissional é uma “mais-valia” e uma “clara vantagem”, principalmente para os cargos de gestão. Porém, frisa que “não é um requisito obrigatório” na altura do recrutamento.

“Tendo em consideração o nível de ambições que a pessoa possa ter ou em que tipo de cargos a pessoa possa ter interesse dentro de uma empresa, a resposta é sim. Vale a pena investir num MBA”, esclarece Mário Rocha ao JE, referindo ainda a existência de uma relação entre os tipos de cargos que podem ser exercidos e as competências desenvolvidas através de um MBA.

“A relação com o tipo de cargos que podem ser exercidos por alguns profissionais com as competências estratégicas desenvolvidas através de um MBA mostra uma clara vantagem, principalmente em cargos de topo. Permite conciliar a aquisição de alguns conhecimentos técnicos com o desenvolvimento de algumas características pessoais, como as capacidades de liderança e gestão de pessoas”, acrescenta.

MBA pode significar oportunidades
Um MBA é um curso especializado em gestão da administração que pode ser tirado em algumas universidades em Portugal ou no estrangeiro. Normalmente, é um programa frequentado por quem já tem experiência profissional na área empresarial e/ou proveio de uma área relacionada como marketing, finanças, recursos humanos, contabilidade ou gestão.

O objetivo principal desta formação é ensinar quem o frequenta a olhar para a sua área de atuação como um negócio e tirar dela o maior proveito possível.

Durante esse período, nesta formação especializada, os candidatos desenvolvem competências no âmbito da gestão, liderança, networking e um olhar empreendedor, entre outras skills diferenciadoras, explica o senior manager da gestora de recursos humanos Michael Page Portugal. Razões pelas quais a aposta num MBA será sempre valorizada num mercado de trabalho. Contudo, ressalva, este tipo de especialização não é complemento de correção às falhas de uma licenciatura concluída ou de um mestrado inacabado.

“Um MBA não é um prolongamento do pós-graduação, nem um prolongamento do percurso académico. É um ‘refresh’ académico, mas não é uma componente”, explica Lourenço Cumbre.

“Um master deste género nunca deve ser tirado no sentido de achar que é um upgrade a nível profissional”, considera, acrescentando que “ter ou não um MBA não influencia a aposta numa formação deste tipo, principalmente a nível internacional, que tem maior peso para as empresas”.

Na realidade isso verifica-se. A direção de Recursos Humanos da Altice Portugal considera que incluir um Master of Business Administration no currículo de um profissional pode significar uma escalada na hierarquia da empresa, todavia, “não determina” o valor do colaborador.

“Consideramos que vale sempre a pena investir num MBA porque só traz valor acrescido ao colaborador e, por sua vez, faz com que surjam mais oportunidades, potencialmente, dentro da empresa”, conta ao JE Graça Rebocho, informando ainda que este incentivo por parte da Altice pode, por vezes, cobrir o custo total desta formação.

Na EDP, existe o mesmo incentivo e espera-se que a procura por esta formação aumente, dado que 44% dos colaboradores do grupo são da geração Y, ou seja, encaram esta altura como a ideal para apostar num MBA. Porquê?

“Hoje em dia vivemos num mundo cada vez mais complexo e incerto, onde é cada vez mais difícil diferenciarmo-nos”, explica Martim Salgado ao JE. “Há mais concorrência entre candidatos, procura-se cada vez mais perfis diferenciadores e especializações e, por isso, a esse nível, um MBA pode ajudar”, salienta o diretor da Transformation and Talent Unit da EDP.

No entanto, todos sublinham o mesmo aspeto: um profissional que tenha um MBA e não ponha em prática as suas aprendizagens de “nada serve”.

“Não é por ter um MBA que faz a diferença”, reforça Salgado. “Ajuda, mas a pessoa deve dar uso às ferramentas e experiências no dia a dia”.