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Energia acelera inflação, mas não deverá obrigar o BCE a por o pé no travão

Os analistas do BPI sublinharam que a subida de 2% da inflação foi influenciada pela componente energética, cuja variação homóloga foi de 13,1%. Segundo o ING, embora a inflação não deverá baixar dos 2% este ano, continua a ser vista pelo BCE como transitória, levando a uma manutenção da política monetária apesar do aumento da intensidade do debate.
  • © Portuguese Presidency of the Council of the European Union – Hugo Delgado
2 Junho 2021, 08h00

“Toda a gente viu isto a chegar, mas ainda assim está a fazer muita gente transpirar”. O comentário de Bert Colijn, economista sénior do ING, descreve na perfeição o longo caminho da inflação na zona euro até aos 2% de maio e, mais importante, o desconforto que o aumento dos preços está a provocar aos investidores e ao Banco Central Europeu (BCE).

Segundo os dados divulgados pelo Eurostat esta terça-feira, a variação homóloga do Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) na zona euro foi de 2% em maio, 0,4 pontos percentuais acima do mês anterior, superando dessa forma a meta de ‘perto, mas abaixo de 2%’ do BCE pela primeira vez desde outubro de 2019.

Os analistas do BPI sublinharam que a subida foi influenciada pela componente energética, cuja variação homóloga foi de 13,1%.

“Esta taxa elevada não foi surpresa, pois o preço do barril de Brent em bruto (altamente correlacionado com a componente energética) era de cerca de 30 dólares em maio do ano passado, enquanto agora anda à volta dos 70”, disseram. “Olhando para o futuro, acreditamos que este fator continuará a exercer uma pressão ascendente sobre a inflação global”.

A inflação subjacente, entretanto, subiu para 0,9%, impulsionada tanto pelo preço dos serviços como dos bens industriais (+0,2 e +0,3 p.p. em comparação com o valor do mês anterior, respetivamente).

“Este último componente poderia, a priori, ser um dos mais vulneráveis aos estrangulamentos causados pelos atrasos nos prazos de entrega de mercadorias e pela escassez de alguns materiais intermédios, situação que está a ser detetada na indústria global e europeia e que tem vindo a aumentar os custos de produção”, vincaram os analistas do BPI .

“Por conseguinte, é razoável pensar que o aumento de 0,3 p.p. poderia envolver algum destes elementos e que nos próximos meses poderia ir mais longe. Além disso, nos próximos meses, tanto a inflação subjacente como a inflação global poderão ser mais elevadas, devido aos efeitos de base da redução temporária do IVA na Alemanha entre julho e dezembro de 2020”, adiantaram, prevendo que no segundo semestre deste ano, a inflação subjacente poderá ser superior a 1,5%, mas a partir de janeiro de 2022, voltará a níveis mais contidos.

Para Bert Colijn, do ING, mesmo quando o efeito base de comparação com a inflação do ano passado diminuir, a inflação não deverá baixar dos 2% este ano, suportada pelos estrangulamentos nas mercadorias, enquanto o impacto real dos desconfinamentos nos preços dos serviços deverá somente ser refletido nos dados de junho.

“A discussão sobre se isso é de facto temporário ou estrutural será um debate muito proeminente nos próximos meses. Esperamos que a recuperação irá moderada após alguns meses fortes e vemos a maioria das ruturas na inflação de bens a enfraquecer no início de 2022. Isso significa que ainda esperamos que a inflação caia para cerca de 1,5% em 2022”, explicou.

Antes disso, grande parte desse debate terá lugar nas reuniões do banco central da zona euro. “Todos os olhos agora se voltam para o BCE, antes da reunião de 10 de junho”, vincou Colijn. O economista do ING acredita, no entanto, que é improvável a instituição monetária liderada por Christine Lagarde ponha em cima da mesa o tapering, ou a gradual diminuição do programa de compra de ativos, “uma vez que oradores proeminentes do BCE se manifestaram nas últimas semanas contra o um apertar prematuro das condições de financiamento, com as pressões sobre os preços vistas como temporárias”.

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