A época natalícia é quase sempre um momento alto do ano, em que os assuntos corriqueiros do dia-a-dia são abafados por toda aquela azáfama da preparação do natal, com as idas aos centros comerciais lotados em busca das últimas prendas de natal, a escolha do menu da consoada, do almoço de natal e dos doces, numa altura em que costumam cometer excessos alimentares. Tudo o resto passa a ser secundário e a política madeirense entra num certo limbo. Existem contudo alguns que aproveitam esta época em que a população anda distraída com as festas, para avançarem sorrateiramente com certos procedimentos.
Um exemplo disso é o polémico teleférico do Curral das Freiras, cujo concurso público internacional foi recentemente lançado pelo Governo Regional da Madeira. De estranhar ou não, é que esse tema quase nem foi veiculado pela comunicação social regional. Quem visita o Curral das Freiras fica geralmente assoberbado com a beleza natural que aquele local apresenta. Uma povoação rodeada por um alcantilado vertical de rocha basáltica que se ergue várias centenas de metros, e cujo acesso se faz agora através de túnel desde as serras da freguesia de Santo António. O miradouro da Eira do Serrado a 1.050 metros de altitude permite ao visitante ter uma vista sobranceira do Curral e absorver toda a beleza daquele lugar. Imagine-se agora um teleférico num vai e vem a estragar a vista! Na Madeira existe muito a iniciativa do betão, que para os governantes quanto mais melhor. Constroem-se túneis, mas não se mantém as antigas estradas vertiginosas, autênticas montanhas russas de emoções para os turistas. Instalam-se teleféricos, para enriquecer por várias décadas determinados concessionários.
Também nesta quadra natalícia foi anunciado que no célebre miradouro do Cabo Girão vai passar a ser cobrada uma entrada de dois euros por cada turista. Um absurdo tendo em conta que um miradouro público pode ser visto como uma espécie de bem público puro, em que o facto de um indivíduo ver uma determinada paisagem não diminui a quantidade disponível da mesma paisagem para outros indivíduos, não fazendo sentido praticar exclusão através dum preço. O congestionamento de certas atrações públicas resolve-se com planeamento e organização dos fluxos de visitantes. Mas será que existirão limites ao turismo?!
Outro tema que passou meio despercebido foi a antecipação por parte do Governo Regional do novo contrato de concessão da linha de ferry entre a Madeira e o Porto Santo que terminaria só em 2025. Qual era a pressa?! A resposta não tardou. Parece que a empresa concessionária reclamava ao Governo Regional 6,2 milhões de euros de indemnização devido a prejuízos durante a pandemia, e que está disposta a prescindir dessa quantia em troca de um novo contrato de concessão. Mais uma vez o Governo Regional ao serviço dos interesses privados.
Entretanto já estamos em 2023, com alguns desafios que se colocam como a guerra na Ucrânia sem fim à vista, o aumento das taxas de juro com impactos substanciais na prestação da casa, a inflação, e o mais que certo arrefecimento da economia que poderá mesmo levar a uma recessão, restando-nos esperar pelo melhor.
Também é ano de eleições legislativas na Região Autónoma da Madeira. Será que é desta?!
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