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‘Enterprise Risk Management’ é ferramenta para evitar destruição dos negócios

Identificar riscos e preparar as empresas para impactos negativos na atividade económica é um trabalho diário. O ERM passou a disciplina obrigatória na gestão.
  • Cybersecurity – Weak Password Concept
4 Novembro 2018, 17h00

Risco político e a corrupção, as catástrofes naturais, a perda de reputação da marca, os incêndios provocados por alterações climáticas, os danos associados aos defeitos de fabrico, a falta de talentos e o envelhecimento da mão-de-obra, os riscos da flutuação cambial e o cyber terrorismo. Estamos perante uma nova economia com uma nova realidade em termos de exposição ao risco.

O Governo português e a indústria de seguros em Portugal estão conscientes das novas necessidades e ainda neste final de outubro a Associação Portuguesa de Seguradores (APS) entregou ao Governo um projeto que propõe a inclusão obrigatória da proteção de riscos catastróficos nas apólices de incêndios e de multirriscos. É uma proposta de trabalho que José Galamba de Oliveira, presidente da APS, acredita que possa estar a ser implementada em 2020, conforme afirmou ao JE no final do seminário da Associação sobre este tema.

Nesta proposta aquilo que a APS propõe é que o Governo adote uma obrigação de proteção em caso de ocorrência de sismos e tsunamis, podendo numa segunda fase evoluir para a cobertura de outras catástrofes naturais, fruto de alterações climáticas e que a atingir o país. No mesmo evento foi recordado o terramoto de 1755 que atingiu Lisboa com uma força entre os 9 graus e os 9,5 graus na Escala de Richter e que se propagou ao Algarve, assim como ao interior do país e à Andaluzia. Estas são catástrofes naturais que tendem a repetir-se mas, tal como Galamba de Oliveira frisou no mesmo evento, apenas não se sabe quando.

A proposta da APS passa pela criação de uma associação pública em que o Estado é maioritário mas onde participam as seguradoras aderentes. O setor de seguros e resseguros está disponível para suportar sinistros com um custo anual até oito mil milhões de euros e o Estado ficará com o restante, caso seja necessário. Na prática existe uma entidade pública que garante o funcionamento do sistema que trabalhará num modelo de capitalização e, frisamos, envolve apenas a obrigação de incluir esta modalidade dentro dos contratos de incêndio e multirriscos e não a obrigação universal como seguro obrigatório. Para quem já detém esta cobertura não haverá alterações. O impacto no prémio variará entre os 25 euros e os 78 euros por ano.

Mas porque é que o tema das catástrofes naturais é relevante quando trabalhada a Gestão de Risco aplicada às empresas? A resposta é dada num recente relatório do segurador Zurich intitulado “Gerir os impactos das alterações climáticas: respostas à gestão do risco”. Este documento fornece ferramentas de gestão de riscos e faz recomendações e define abordagens e procedimentos para apoios às empresas.

Refere o relatório divulgado na Climate Week NYC que “as implicações das alterações climáticas para a Europa central e do sul (estão) relacionadas com o aumento extremo da temperatura, diminuição da precipitação, aumento da temperatura dos oceanos, aumento do risco de incêndios florestais e diminuição do valor económico das florestas”. Os analistas sugerem aos gestores uma estratégia em três níveis que começa por identificar os maiores riscos empresariais e estratégicos no longo prazo, depois devem desenvolver uma visão minuciosa dos riscos; e, por último, devem desenvolver uma estratégia de mitigação envolvendo seguros e resiliência. Diz Alison Martin, membro do comité executivo da Zurich Insurance Group que “o nível de esforço realizado para evitar a subida da temperatura global acima dos dois graus em relação aos valores pré-industriais, pode não ser suficiente. Perante este cenário as empresas devem preparar-se para as consequências de um planeta mais quente”.

Mas se os ciclones, incêndios, tempestades e alterações climáticas extremas é algo que toda a sociedade tem consciência em termos de risco, mais difícil é percecionar o risco a nível de cyber segurança e a ligação ao terrorismo e à perda de reputação e negócio. Uma análise do grupo Lloyd’s, representado em Portugal pelo broker de seguros MDS, refere que o reduzido nível de cobertura de seguros perante o cyber risk enfraquece a capacidade da Europa no objetivo de crescimento. Refere na análise de final e outubro que os níveis de cobertura de seguros nas economias desenvolvidas é significativamente mais elevado que nas economias dos mercados emergentes, “a Europa tem níveis mais frágeis a título de cyber insurance quando comparado com os EUA”. E isto é justificado pela legislação restritiva no “velho continente” que existia antes da implementação da nova regulação europeia relativa à Proteção de Dados. Indicadores de 2016 do Lloyd’s dão conta de que o nível de penetração da cobertura deste tipo de risco era de 30% na Alemanha, e 36% no Reino Unido, o que compara com os 55% dos EUA. Durante 2017 o grupo segurador estima que o custo para as empresas dos cyber ataques pode ter envolvido valores entre 445 mil milhões e os 608 mil milhões de USD. Com o novo Regulamento da Proteção de Dados a seguradora britânica espera um forte crescimento da cobertura daquele tipo de riscos.

A Gestão de Risco para os gestores e empresas é diferente consoante as regiões. O impacto dos sinistros e o nível de contratação de seguros tem impacto devastador em França com a alteração climática a atuar sobre o setor agrícola, nomeadamente nas zonas vitivinícolas. Na Alemanha as inundação têm impacto na zona Bávara e na Saxónia, sendo que as alterações climáticas devem ser uma prioridade para os decisores municipais que trabalham o planeamento das cidades. Itália é frequentemente fustigada por sismos, mas ainda assim persiste a reduzida penetração das coberturas de seguros nas regiões habitualmente afetadas por estes desastres. O documento “Lloyd’s City Risk Index” estima que as catástrofes natunrais e alterações climáticas na Europa resulte em perdas da ordem dos 13,34 mil milhões de USD. E a nível de cyber ataques as perdas estimadas pelos mesmos analistas situam-se nos 9,36 mil milhões de USD.

Tal como o documento entregue pela APS Associação Portuguesa de Seguradores o objetivo de incentivar os particulares e empresas a assumirem os custos pela cobertura de riscos catastróficos é libertar o Estado para se concentrar na recuperação de infraestruturas rodoviárias, de eletricidade, de água e do saneamento perante um sinistro e não a habitação. Aliás, o projeto da APS visa nesta fase apenas os contratos residenciais e o comércio inserido nos complexos habitacionais e não os riscos associados às indústrias. Também o Lloyd’s defende existirem soluções inovadoras dentro da indústria que permitem às entidades públicas o acesso a fundos para recuperação de infraestruturas e sem onerar os contribuintes. Jorge Luzzi, presidente global da RCG/Herco alerta que há riscos transferíveis comos danos à propriedade, os lucros cessantes, a responsabilidade civil ou acidentes de trabalho, nas há outros riscos que não são facilmente transferíveis em mercados tradicionais e dá o exemplo dos “riscos reputacionais, a deterioração de produtos ou mesmo a perda de colaboradores-chave na empresa”. Chama a atenção para a necessidade que todos os riscos, “seguráveis ou não, devem ser analisados e tratados minuciosamente para que o seu impacto não destrua a atividade empresarial”.

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