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Entrar em órbita nas Aldeias do Xisto

Não é preciso uma nave espacial para esta viagem, nem tem de ser craque em astronomia. Se vai de fim de semana ou de férias, passe por aqui.
  • Dark Sky Aldeias do Xisto, Foto cedida
18 Junho 2021, 17h40

Acordar acima das nuvens não é uma sensação que se esquece facilmente. Abrir a janela de par em par e tentar tocar-lhes até poderá roçar o absurdo, mas nem um adulto resiste à tentação de esticar o braço e imaginar que é possível.

Algures abaixo das nuvens o dia começa a despontar no Talasnal, uma das 27 Aldeias do Xisto, entre Coimbra e Castelo Branco. As silhuetas ganham forma, a humidade entra narinas adentro sem pedir autorização, os pulmões inspiram profundamente e o cérebro recebe um shot de oxigénio e um lembrete: saborear o pequeno-almoço, agarrar no stick e na pequena mochila, e arrancar para o tão ansiado trilho.

Estamos a 500 metros de altitude, na serra da Lousã, e só por isso já seria fácil “entrar em órbita”. Mas aqui a proposta é deixar-se inebriar pelas estrelas, divertir-se a descobrir galáxias, seguir a sua verve de astrónomo, com ou sem telescópio, ou muito simplesmente deixar-se levar pela beleza dos céus. Pois se antes o mais óbvio era pensarmos no que fazer durante o dia – e as opções continuam a ser muitas, mas já lá vamos – agora a ideia é desfrutar o mais possível da noite, da ausência de poluição luminosa que os humanos prodigamente vão produzindo.

Antes que isto possa parecer uma coisa de outro mundo, uma nota importantíssima: estamos num território onde 50% das noites, por ano, não têm nuvens. Tão-só um dos principais critérios da Fundação Starlight para certificar as Aldeias do Xisto como “Destino Turístico Starlight”, com o apoio da UNESCO e da Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas.

Foi o que aconteceu em 2019, tornando-se assim a segunda reserva “Dark Sky” em Portugal, após o Alqueva. E aqui importa referir, pois não é pormenor de somenos importância, que a Dark Sky Alqueva foi o primeiro destino do mundo certificado como ‘Starlight Tourism Destination’ em 2011.

Há reinos encantados por estas 27 aldeias

Decompondo o vasto território das Aldeias do Xisto, 12 situam-se na serra da Lousã, cinco na serra do Açor, seis acompanham o serpentear do Zêzere e quatro ladeiam o Tejo-Ocreza. E não é preciso invocar pandemias e confinamentos, ou sequer distanciamento social, para descobrir ou regressar  a um dos símbolos do interior centro do país, onde o diálogo entre natureza, história  e património continua bem vivo.

Com 600 Km de trilhos pedestres, os amantes de caminhadas na Natureza apenas enfrentam o drama da escolha. No site oficial das Aldeias do Xisto, há uma secção exclusivamente dedicada a caminhadas e passeios para se inteirar da imensa e variada oferta. É uma questão de estado de espírito, pois como é sabido caminhar não tem contraindicações. Pelo contrário. Por isso, escolha os percursos que rimem consigo e parta à descoberta.

Se lhe apetecer partilhar uma experiência, a dois ou em grupo, consulte o site das Aldeias e explore as sugestões. Desde safaris a caminhadas aquáticas e cursos de desenho, a diversidade é o mote. Para aguçar vontades, aqui ficam duas propostas.

As aldeias de Foz do Cobrão e Sobral Fernando, sobranceiras ao rio Ocreza e vizinhas das Portas de Rodão, são uma pérola geológica que merece ser descoberta. Numa vertente mais caseira, o Vale do Ninho Nature Houses, em Ferraria de São João, propõe que durante a sua estadia aprenda a confecionar queijo de cabra, utilizando técnicas artesanais. No final do workshop pode fazer a prova e, quem sabe, surpreender os amigos e a família na próxima refeição que fizer lá em casa!

Se a gastronomia é um prazer para si, tem muito por onde explorar. E se gosta de ir a banhos também. Por aqui não há mar mas há rios e ribeiros generosos. Logo, não faltam praias fluviais para refrescar as ideias. Este ano, foram distinguidas 14 com a Bandeira Azul e 17 com Qualidade de Ouro.

Depois de um dia intenso, não se esqueça de relaxar e contemplar o céu noturno em busca de estrelas. De perder-se nelas e de entrar em órbita.

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