Menos ambição e melhor capacidade de concretização deveria ser desejavelmente o foco da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, prestes a iniciar-se. Com efeito, os objetivos definidos para os curtos seis meses da nossa presidência transparecem, tal como apresentados pelo Governo português, uma desmedida vontade de acomodar os resultados desejáveis a alcançar com praticamente tudo o que consta da Agenda Estratégica da União Europeia (UE).

É compreensível que este Governo pretenda deixar uma marca. Afinal de contas, a sua atuação será alvo de um particular escrutínio internacional pelo facto de o primeiro semestre de 2021 vir a ser crucial para o combate à crise económica e social, resultante dos efeitos da pandemia de Covid-19. Para além disso, historicamente, as presidências portuguesas anteriores ficaram relacionadas com marcos de grande importância para a UE e a consolidação do projeto europeu. Em 1992, quando Portugal assumiu a presidência pela primeira vez, esse marco histórico foi a assinatura do Tratado da União Europeia. Em 2000, a adoção da Estratégia de Lisboa. E, em 2007, a redação e assinatura do Tratado de Lisboa.

A Estratégia de Lisboa é, aliás, um bom exemplo do fracasso resultante de uma ambição maior do que a realidade alcançável. Ao definir como objetivo a conversão da economia da União Europeia na economia do conhecimento “mais competitiva e dinâmica do mundo” no prazo de dez anos, até 2010, era desde o início evidente que essa meta não era atingível.

Desta vez, as intenções tocam em cinco eixos, todos eles tidos como “prioritários” e cada um deles, em si, todo um vasto e decisivo programa. O eixo da Europa Resiliente que junta a Moldura Financeira Plurianual ao Fundo de Recuperação da UE, integrados na designada “Next Generation EU”. O eixo da Europa Social onde se insere a mitigação do desemprego, pobreza e exclusão social. O eixo da Europa Verde, um dos mais ambiciosos nas suas metas e ainda os da “Europa Digital” e da “Europa Global”, este com uma agenda diplomática que abrange desde os Estados Unidos à Índia, passando pelo Reino Unido pós-Brexit e África, curiosamente não mencionando a China nos seus destaques.

Só no final, obviamente, será possível avaliar o que foi efetivamente conseguido. Mas seria bom que, à partida, existisse a consciência de que a dimensão dos desafios que esta presidência enfrentará não são compagináveis com o habitual discurso de boas intenções socialista e que, uma vez escrutinados, se traduzem nuns casos em muito pouco e outros em quase nada. Caso contrário, é a imagem do nosso país aos olhos, não apenas da Europa mas do mundo, que estará em causa.

 

Margaret Keenan, uma senhora de 90 anos cidadã do Reino Unido, ficará para a História por ter sido na passada terça-feira a primeira pessoa do mundo a receber a vacina contra a Covid-19. Com ela foi assim dado o sinal de partida para aquela que foi já designada “uma das maiores maratonas mundiais de inoculação de sempre”. Maratona essa em que todos deveremos participar para que, o mais rapidamente possível, possamos dizer com alívio que a medicina e a ciência alcançaram mais uma vitória sobre a doença e a morte.

 

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