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Entre o mundo que queremos e o champanhe derramado, a sabedoria do Amor triunfa e nada omite

A superficialidade e a alegoria da materialidade subjacente à condição humana moderna, ou a “objetualização da existência”, traduziu-se numa incessante procura por bens (de consumo), por antítese à procura de valores (de princípios).
15 Julho 2019, 07h15

O mundo que queremos não se celebra com champanhe.

Celebrar com champanhe os êxitos da civilização e do progresso da humanidade, seria ter falta de pudor ou porventura exercer uma prática demasiado “pornográfica”.
Quando a história nos narra que foram tantos os explorados, demasiados, não privilegiados e oprimidos, para que se construíssem e se afirmassem impérios.
Foram aqueles oprimidos, por uma vontade “civilizadora”, que perpetuaram e foram a garantia de uma hegemonia imperialista ao longo dos séculos.
E, muitos ainda se orgulham.

Na contemporaneidade os impérios deixaram de ser estruturas ou sistemas políticos, progressivamente tornaram-se estruturas macroeconómicas que determinam as novas formas de colonialismo.
Este colonialismo contemporâneo tornou-se cada vez mais cultural, enclausurado entre uma globalização tecnológica e um “revivalismo histórico”.

Recusar celebrar com champanhe, o aparente e confortável progresso da humanidade, não se trata de demagogia e muito menos uma dissertação em defesa de teorias económicas Keynesianas ou Marxistas.
É antes, persistir na necessidade de operar as transformações reais e necessárias para a construção de um futuro melhor.

Sempre foi este o desafio da humanidade ao longo da história:
a busca por maior felicidade, traduzindo-se na melhoria das condições de vida, na melhoria das condições de acesso à Saúde, à Habitação, ao Emprego, à Educação e à Cultura.

A superficialidade e a alegoria da materialidade subjacente à condição humana moderna, ou a “objetualização da existência”, traduziu-se numa incessante procura por bens (de consumo), por antítese à procura de valores (de princípios).

O ex-Presidente dos Estados Unidos e Prémio Nobel da Paz, Barack Obama, numa recente conferência, alertava que a “Educação não é Caridade”.
Dar uma Educação de excelência – universal e gratuita – e garantir um verdadeiro Estado Social, não se trata de fazer “caridade”,

Mas antes é uma necessidade do desenvolvimento integral e económico de um país ou de uma região!
“Quanto mais se investe em capital humano, mais as economias irão crescer. A chave do sucesso é a Educação!” referia ainda.

Sendo a Educação, factor estrutural de uma sociedade inclusiva e desenvolvida, o reconhecimento da autoridade de um professor reside no facto deste conseguir desenvolver a confiança no aluno, motivando-o para a partilha e assim potenciando uma maior qualidade na aprendizagem.
Porque o mais importante para um professor é a relação que é estabelecida com aluno, o objetivo do ato de “Educar” é a celebração de um mútuo compromisso, para inaugurarem um nova realidade neste mundo, mais profícua.
A este propósito, também o pedagogo Miguel Santos Guerra, especialista em Educação refere que “sem Amor nada se ensina e ninguém aprende”.

“O trabalho de um professor é a mais bela profissão do mundo porque nos permite entrar no mundo do outro” e isso deve implicar “uma melhoria de práticas” que vão ao encontro “do desejo de aprender dos alunos” mais do que “na necessidade de cada um mostrar que sabe muito de um determinado assunto”.
Por isso, os docentes devem “sair das certezas que trazem das suas formações de base” e passar a “uma atitude de incerteza, fundamental para melhorar as práticas letivas”, refere ainda.

Parafraseando o poeta e Arcebispo D. José Tolentino Mendonça, “os que vivem na fronteira reconhecem uma espécie de estranheza mesmo naquilo que pretendem entender e amar.”

Talvez, as periferias da existência, na fundura deste mundo, ressalvem o Amor, naqueles que há muito, nelas estão enclausurados.
Tantas dessas periferias são construídas por nós mesmos, quando ausentes desse Amor.
E nos esquecemos que a sabedoria do Amor reside em nada omitir.

Há muito chegou a altura de nos pronunciarmos sobre a estranheza dos muros que fomos erigindo neste mundo, ao longo da história.

Este mundo que é nosso, o único que temos e nele habitamos.

As soluções serão sempre políticas, que valorizem as transformações culturais necessárias à inclusão social, de todos os que nos rodeiam.

Numa sociedade do Pós-Relativismo, o recentrar das atenções no Ser Humano, e na procura por novos valores e desígnios, urge!

Permanecemos na ilusão do eterno ou relativizamos o efémero?
Tantas vezes brindamos com champanhe, derramamos e esteamos foguetes…

Entre o mundo que queremos ou idealizamos e o champanhe por nós derramado, talvez encontremos a sabedoria do Amor que nos abrevia, e ao mesmo tempo nos torna eternos.

Este Amor que se concretiza nada omite.

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