Quais são os maiores riscos para as empresas em 2020? Esta é a pergunta nuclear deste fórum relativo ao mercado dos Seguros de Crédito à Exportação. O tema das insolvências e não pagamento de mercadorias é outro risco. Neste fórum dão-se respostas sobre os setores que constituem o maior perigo de incumprimento, ou pelo menos de
retração de negócios.
A disputa entre EUA e China afeta diretamente um volume de comércio mundial correspondente a 700 mil milhões
de dólares. A incerteza é outro problema, pois para além das disputas diretas, as cadeias de valor e os fluxos comerciais também ppderão ser afetados.
Resultado? aumenta o risco de crédito e de insolvências. Acrescem os novos riscos ligados às alterações climáticas e escassez de recursos, como a água, e o impacto no crescimento das
empresas e economias.
Maria Celeste Hagatong, Chairman da COSEC
“Os estudos da Euler Hermes mostram que, em 2020, quatro em cada cinco países vão assistir a um crescimento do número de insolvências, e um em cada dois terão mais empresas em dificuldades do que no período anterior à crise financeira de 2008. Portugal não é exceção, mas terá um desempenho menos negativo do que a média. Estima-se que as insolvências aumentem, em média, 6% a nível global durante 2020, crescendo pelo quarto ano consecutivo, embora ao ritmo mais lento desde 2016. Na Europa Ocidental, prevê-se que o crescimento económico seja de 1%, abaixo do valor que, por regra, estabiliza o número de insolvências, ou seja um crescimento económico de +1,7%.
Assim, a maioria dos países vai registar uma subida do número de empresas em dificuldades, mas muito mais moderada que os blocos económicos acima referidos, em média +3%. Os países em que se estima que o número de insolvências fique abaixo da média são França (0%), Portugal (+2%), Alemanha e Reino Unido (+3%), Itália (+4%) e Espanha (+5%). No caso de Portugal, a Euler Hermes aponta para que se registem 2 590 insolvências, face às 2 540 verificadas em 2019”. Por outro lado “sempre que os países de destino das exportações têm um risco não aceitável pelas companhias de seguro comercial, existe em Portugal, como na generalidade dos países do mundo, um instrumento de política pública para colmatar estas falhas do mercado – o Seguro de Créditos com Garantia do Estado – SCGE. Uma das condições impostas para o recurso a este instrumento é que as exportações a partir de Portugal tenham um valor significativo de incorporação nacional. Por este sistema são cobertas exportações para mais de 70 mercados. Este Sistema tem sido crucial para o relacionamento comercial das empresas portuguesas, nomeadamente com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, e também para a diversificação das exportações para outros mercados de risco comercialmente não aceites. Em 2008, as responsabilidades do sistema de seguro de créditos com garantia do Estado ascendiam a 486 milhões de euros. No final de 2019, eram de cerca de 1,1 mil milhões de euros”.
De realçar que “a incerteza criada pela guerra comercial entre os grandes blocos poderá implicar uma redução no comércio internacional e impactar o crescimento dos seguros de créditos. Isso poderá resultar em graus de incerteza maiores e mais sinistros. Contudo, importa sublinhar que um aumento da incerteza conduz a um aumento da procura por seguros de créditos. A COSEC, em 2019, ano em que comemorou os seus 50 anos, reforçou a quota de mercado, para 53%. O mercado de Seguro de Créditos subiu 1,7% e a COSEC aumentou 5,2%. Para isso contribuiu a sua estratégia de aproximação crescente ao segmento de PME e a elevada taxa de retenção dos seus clientes. Estes resultados são, sem dúvida, o reflexo do trabalho comercial da COSEC na inovação permanente nos produtos e serviços dedicados aos vários segmentos de mercado, desde as grandes às microempresas, da parceria de distribuição estabelecida há mais de 10 anos com o BPI e, nos últimos dois anos, reforçada com novas parcerias do mesmo tipo, estabelecidas com a CGD, o Millennium bcp e o Bankinter, e também da atividade dos mediadores e agentes de seguros com quem sempre trabalhou. O nosso crescimento deve-se também à aposta que vimos fazendo em digitalização. Em 2019, disponibilizámos a todos os parceiros uma plataforma online – COSEC go!, para a gestão das carteiras de seguros por estes angariadas, o que lhes permite uma maior proximidade e eficiência na relação com os segurados. A prudente e vigilante política de avaliação de risco seguida pela COSEC e a sólida base de informações de empresas a que tem acesso em Portugal e internacionalmente (mais de 40 milhões de empresas) permitem-lhe manter uma taxa de sinistros baixa. É de referir ainda que a COSEC mantém um rácio de solvência, em setembro de 2019, de 263%, muito acima dos níveis exigidos pelas entidades reguladoras, o que demonstra a sua solidez financeira. Sublinho ainda a redução dos prazos de decisão da COSEC no último ano na atribuição de limites de crédito, que passaram para 0,3 dias relativamente a Portugal e 1,2 dias para o mercado externo: valores nunca antes alcançados. Mais de 96% das decisões são efetuadas em menos de 48h.”
Rita Lacerda, Diretora Geral da CESCE PORTUGAL
“A guerra comercial entre Estados Unidos e China, a volatilidade do preço do petróleo, as políticas fiscais, as novas normas internacionais ou a evolução da economia chinesa na sequência da epidemia do Coronavírus são alguns dos riscos mais prementes para os mercados e empresas no momento. São fatores desestabilizadores e as seguradoras dispõem das ferramentas necessárias para os cobrir. Nesta linha, as companhias especializadas cobrem os riscos comerciais como, por exemplo, o não pagamento de bens e serviços; riscos políticos, como uma alteração de regulamentação; e riscos extraordinários, como os derivados das catástrofes naturais. A sinistralidade nas empresas está a aumentar mesmo na zona euro. Por exemplo, a incerteza do Brexit aumentou as taxas de sinistralidade do Reino Unido para níveis de países como a Itália, bastante elevados. Em geral, nenhum mercado está isento desse risco de não pagamento de bens e serviços, mas uma das regiões com mais risco, mas também com mais oportunidade de negócio, pode ser a América Latina”.
Por outro lado, “a proximidade cultural de Portugal e as suas ligações com países como Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé fazem do nosso país uma espécie de placa comercial giratória de extraordinária magnitude. No entanto, essas economias emergentes requerem algumas precauções para segurar operações nos seus mercados. Mas Portugal também é um mercado natural para as empresas espanholas porque é o passo imediato mais óbvio para as empresas que começam a internacionalizar-se. Felizmente, neste caso, falamos de um país com estabilidade económica e com muitas oportunidades para fazer negócio. A segurança, neste caso, é maior e mais consolidada”.
De realçar que “a guerra comercial e tarifária entre a China e os EUA – que, na realidade, é uma guerra pelo posicionamento geoestratégico – está a gerar um forte impacto no setor. A desaceleração económica e a falta de crédito comercial abrandaram o comércio internacional, mas também abriram oportunidades para as seguradoras. Especialmente, em relação ao apoio ao financiamento de negócios e novas tecnologias: o desenvolvimento de plataformas de insurtech destinadas a evitar a paralisia dos mercados internos e a aumentar exponencialmente as trocas comerciais e as coberturas associadas a elas, já é uma realidade com a qual devemos conviver.”
Paulo Morais, Country manager da Crédito Y Caución
“Um dos mais recentes estudos divulgados pela Crédito y Caución sobre as perspetivas económicas para 2020 aponta a escalada da guerra comercial como o principal risco para as empresas em 2020. A possibilidade de abertura de novas frentes de batalha entre os EUA e a UE ou com os países asiáticos que mantêm um superavit em conta corrente com os Estados Unidos provocaria represálias por parte dos parceiros comerciais gerando uma nova escalada na guerra comercial e novos condicionamentos ao comércio e ao crescimento.
O aumento da incerteza, fator que influencia em grande medida o comportamento económico das empresas e das famílias, é apontado como o segundo grande risco para o crescimento em 2020. Mais do que a incerteza sobre a escalada da guerra comercial, este aumento da incerteza espelha a dificuldade que existe em prever a evolução da economia mundial face a acontecimentos como o Brexit, a crise institucional em Itália ou, mais recentemente, o impacto económico do novo coronavírus.
A análise da Crédito y Caución sobre as perspetivas económicas para 2020 prevê um aumento de 2,6% nos níveis de insolvência. Um aumento pouco abaixo dos 3% esperados para 2019 e que afetará todas as regiões, com exceção da Europa de Leste. Numa análise por países, podemos dizer que um em cada três enfrentará uma deterioração das condições de insolvência em 2020. Os maiores aumentos são esperados no Reino Unido e em Hong Kong (na ordem dos 7%), seguidos de perto pela Turquia, Singapura e Roménia (5%). Num plano considerado estável (na ordem dos 2%) encontram-se os países que irão registar um leve aumento, mas cujo número duplica face àqueles que esperam uma melhoria.
Outro sinal de que o ciclo de insolvências está a mudar é que a maioria dos países com baixos níveis de incumprimento em 2007 enfrentam um aumento das insolvências em 2020. Na Europa Ocidental prevê-se para este ano um aumento inferior a 1,3%, enquanto para os EUA as previsões apontam para um aumento de 4%. Muitas empresas norte-americanas aproveitaram a ampla disponibilidade de capitais para distribuir dividendos mais elevados em vez de investirem na economia real o que elevou a sua vulnerabilidade a crises económicas e financeiras. No Canadá, devido ao modesto crescimento económico e a uma maior incerteza, estima-se que as insolvências sofram um aumento de 6% em 2019, com um incremento de mais 2% este ano”.
Por outro lado, “há países com risco de crédito extremo, como são os casos da Venezuela ou da Líbia, e há outros que apresentam um risco de crédito elevado no qual se enquadram muitos países de África e do Médio Oriente, como Moçambique, Angola ou o Irão. Contudo, os principais destinos das exportações portuguesas mantêm-se os mesmos: Espanha, Alemanha, França e Reino Unido e para estes, apesar de todos os condicionantes atuais, o nível de risco de crédito é substancialmente atenuado. A guerra comercial está a afetar o comércio mundial. Se se expandir para outras economias da Ásia e da Europa, o que é muito provável que aconteça, poderemos viver uma desaceleração ainda mais acentuada no comércio. A incerteza criada por este e outros eventos económicos e políticos em todo o mundo são um verdadeiro desafio para o crescimento económico e para as empresas. Numa conjuntura de incerteza a melhor arma que as empresas podem ter é o acesso a informação credível sobre os seus parceiros de negócio e uma garantia de que em caso de que algo corra mal a sua estabilidade financeira não é afetada.”
José Monteiro, Diretor Geral da Coface Portugal
“Em 2020, as empresas vão enfrentar, principalmente, riscos não económicos. No final de 2019 assistimos a um aumento das tensões sociais com “focos de conflito” em todos o mundo, com diferentes níveis de intensidade. Em 2020, o Índice de Risco Político da Coface prevê um elevado nível de risco social em diversos países em África, no Médio Oriente, na Ásia Central e até na Rússia. Desde 2019, o descontentamento social também se manifestou num aumento de exigências para a proteção ambiental. Os riscos ambientais têm um efeito de largo espectro no crédito das empresas: maior frequência de riscos físicos (desastres naturais decorrentes das alterações climáticas), mas também riscos de transição (regulações novas e mais restritivas, alterações nos critérios dos consumidores). Por último, os efeitos dos regulamentos antipoluição mais rigorosos para o sector automóvel na Índia ou no transporte marítimo global, devem ser monitorizados este ano”. Por outro lado, “existe, claramente, uma diminuição das transações económicas no comércio mundial, face a anos anteriores. Assim, a Coface espera uma continuação do abrandamento económico global em 2020, com um crescimento global do PIB previsto de 2,4%, contra os 2,5% do ano anterior. A Coface espera que o crescimento do comércio mundial continue fraco em 2020 (apenas +0,8% em termos de volume), após uma queda de 0,3% no terceiro trimestre de 2019, ou seja, o ritmo mais lento desde a grande crise de 2008-2009. Neste contexto, espera-se que as insolvências empresariais aumentem 2% globalmente em 2020 (semelhante a 2019).
Os principais destinos das exportações portuguesas continuam a ser o mercado Europeu, com países como a Espanha, França, Alemanha, Reino Unido a liderarem a lista, existindo também uma percentagem de exportação já considerável para os Estados Unidos que já é superior à exportação para Itália. Estes mercados, devido ao seu equilíbrio financeiro e estabilidade política, estão naturalmente cobertos e os riscos prendem-se com sectores de atividade mais específicos e fragilizados pela conjuntura económica mundial, como é o caso dos sectores têxtil, metalúrgico e automóvel”.
De realçar que “as tensões originárias das medidas protecionistas devem continuar em 2020, apesar da assinatura do “acordo de tréguas” entre os EUA e a China. A Coface não prevê que este acordo coloque fim às tensões comerciais em 2020, por várias razões. Em primeiro lugar, o acordo não conseguiu resolver algumas das maiores fontes de tensão, incluindo o uso de subsídios industriais chineses. Além disso, nesta fase, a maior parte das tarifas permanece em vigor e o efeito negativo sobre a economia global, também se faz sentir. Estes continuam a ter importantes repercussões em ambas as economias, em particular sobre os sectores automóvel, TIC e agroalimentar. Além disso, a União Europeia está particularmente preocupada com o facto deste acordo, que exclui de facto as empresas europeias, não cumprir as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) em determinados pontos, abrindo assim o caminho para os recursos da UE junto da OMC. As medidas protecionistas não são exclusivas das duas maiores economias do mundo. O desejo de muitos países emergentes de proteger um grande número das suas indústrias, enfraquecido pela concorrência internacional, continuará a torná-los cautelosos quanto à abertura ao comércio. Neste contexto, apesar da vontade de outros países de compensar os efeitos da guerra comercial sino-americana através da assinatura de novos acordos comerciais, como mencionado anteriormente, o comércio internacional, em 2019 e em volumes de mercadorias, foi inferior ao do ano anterior, pela primeira vez em dez anos”.
E sobre alterações climáticas a apólice de seguro de crédito da Coface “já contempla uma Opção de Cobertura de Risco de Catástrofes Naturais, que é compreendido como qualquer facto de natureza ambiental, tal como, mas não exclusivamente, uma erupção vulcânica, um terramoto, um maremoto, um tufão ou uma inundação”.
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