[weglot_switcher]

Escuteiros norte-americanos abrem falência após denúncias de abusos sexuais desde 1920

Este processo, iniciado esta terça-feira, tem tudo para ser longo, mas é o valor coberto pelos seguros que vai ajudar a cobrir as indemnizações e a decisão de os bens das 261 delegações espalhadas pelos 50 estados norte-americanos vão ser contabilizados para as compensações financeiras.
18 Fevereiro 2020, 21h48

A associação Boy Scouts of America, a maior organização de escuteiros norte-americana, iniciou o processo de bancarrota no tribunal de Delaware, de forma a enfrentar os 12 mil pedidos de indemnização por abuso sexual de menores ao longo de várias décadas, avança o “Wall Street Journal”.

Grande parte dos casos remonta às décadas de 1960, 1970 e 1980, mas a organização de escuteiros admitiu, em 2018, que só tinha conhecimento de cinco vítimas de abuso, sendo que a lista conta com mais de 12 mil nomes de vítimas. Só no ano passado, um grupo de apoio encontrou perto de dois mil antigos e atuais escuteiros vítimas de abusos sexuais, com idades entre os oito e os 93 anos de idade, uma vez que o processo de falência entrou no tribunal 10 dias antes da organização celebrar os 110 anos de existência.

Com a abertura de um processo de bancarrota, a organização passa a ter uma protecção financeira contra futuros pedidos de indemnização. Assim, para proceder a uma compensação monetária, as vítimas que ainda não foram identificadas têm de fazer queixa nos tribunais, durante os próximos três meses.

A associação fundada em 1910 declarou no seu relatório anual de 2019, um passivo entre os 100 e 500 milhões de euros. Ainda assim, os Boy Scouts of America hipotecaram as maiores propriedade, que pertencem aos membros da direção, incluindo a sede em Irving (Texas) e o Philmont Ranch (Novo México), cuja propriedade conta com 57 mil hectares, para conseguirem crédito para pagar futuras indemnizações às vítimas.

Este processo, iniciado esta terça-feira, tem tudo para ser longo, mas é o valor coberto pelos seguros que vai ajudar a cobrir as indemnizações e a decisão de os bens das 261 delegações espalhadas pelos 50 estados norte-americanos vão ser contabilizados para as compensações financeiras.

Atualmente, a organização conta com 2,4 milhões de participantes, um número longe do período em 1970 onde atraiu mais jovens, mas fez parte do crescimento de mais de 110 milhões de crianças e jovens.

De acordo com a imprensa internacional e com os dados divulgados mais tarde pela organização, desde 1920 que a Boys Scouts of America mantém uma ‘lista vermelha’ com as queixas de abusos sexuais. Ainda assim, a dimensão dos abusos sexuais dentro da associação só começou a ser revelada na última década, depois do tribunal de Oregon ter atribuído uma indemnização no valor de 17 milhões de euros num processo que começou alguns anos antes.

Esta terça-feira, quando foi conhecido o processo de falência, o presidente e diretor executivo da associação, Roger Mosby, pediu desculpas pelos abusos sexuais cometidos ao longo das décadas de existência. “Os Boy Scouts of America preocupam-se profundamente com todas as vítimas de abusos e pedem desculpas sinceras a todos os que foram afectados durante o seu tempo no escutismo. Estamos indignados com o facto de terem existido tempos em que indivíduos se aproveitaram dos nossos programas para fazerem mal a crianças inocentes”, disse o responsável.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.