As eleições deste domingo em Espanha envolviam muitas incógnitas, e a maior parte delas ainda sobreviveram à noite eleitoral e vão persistir nos próximos dias, mas há uma que já está desfeita: afinal, não havia um voto oculto no Vox – o partido de extrema-direita que tem vindo a crescer de forma fulgurante em Espanha.
O partido – que o democrata-cristão português Nuno Melo não concorda ser de extrema-direita, contrariando assim vaticínios nesse sentido de Steve Bannon, ex-conselheiro político de Donald Trump – atingiu uma percentagem um pouco acima dos 12%, mais ou menos a mesma que tinha conseguido na Andaluzia há poucas semanas. Não se revelaram por isso acertadas as análises que apontavam para um voto oculto no Voz, que poderia colocar o partido como a terceira (ou mesmo a segunda) força mais numerosa do próximo parlamento espanhol.
Os resultados ainda não estão totalmente fechados, mas parece mais que certo que a Espanha não vai, ao contrário desses analistas, ‘atirar-se’ para os braços da direita: o lado esquerdo do Parlamento vai a ser mais concorrido da próxima legislatura – o que permitiu uma noite descansada a Donald Tusk e Jean-Claude Juncker, presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, respetivamente, que não querem mais um país europeu (ainda por cima dos ‘grandes’) a derivar para as águas movediças do populismo extremista e antieuropeísta.
De algum modo, muitos analistas consideravam que Espanha estaria a passar por um momento sociológico semelhante ao que está a passar a Itália, o que iria engrossar o número de anticéticos que irá dar entrada no Parlamento Europeu nas eleições de daqui a um mês. Mas, aparentemente, essa deriva não se verificou em Espanha.
Quanto ao resto, as incógnitas mantêm-se. Pedro Sánchez, do PSOE, é o vencedor das eleições deste domingo, mas a maioria absoluta (com o Juntos Podemos) ficou muito longe – aparentemente mais longe que aquilo que lhes era atribuído pelas sondagens mais ‘confortáveis’. Mas isso acaba por não ser muito diferente do cenário que estava em cima da mesa: muito dificilmente o PSOE poderia deixar de contar com os independentistas para formar um novo governo.
Mesmo assim, e segundo alguns jornais espanhóis, o PSOE ainda tem outro cenário em vista: a eventualidade de tentar uma coligação com o Ciudadanos (para além do Juntos Podemos) – o que teria a dificuldade acrescida de ter no mesmo governo (ou no mesmo grupo parlamentar de apoio) dois partidos diferentes em praticamente tudo o que importa. Mas os analistas que convergem nesta possibilidade recordam que foi precisamente essa coligação improvável que retirou Mariano Rajoy do poder há pouco mais de meio ano.
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