A marcação de eleições legislativas antecipadas para julho por parte do chefe do governo espanhol é a evidência de que “Pedro Sánchez admite a derrota, mas também que “está interessado em continuar a liderar os socialistas”. Comentou ao JE o politólogo especialista em política espanhol Diogo Noivo.
A ideia é simples: uma vez marcadas eleições, “os partidos têm 10 dias para apresentarem assuas candidaturas” – o que quer dizer que qualquer oposição interna não terá tempo sequer para “debater o futuro do partido”. Quer isto dizer que o analista está convencido “que o atual chefe do governo irá apresentar-se novamente ao eleitorado” – apesar de haver vários críticos que o aconselham vivamente a demitir-se da liderança do PSOE. Pedro Sánchez não só dá indicações de que não o fará, como tenta manietar a oposição interna – “nomeadamente aqueles que consideram que o atual líder moveu o partido para a esquerda e assim perdeu a tradição social-democrata do PSOE de, por exemplo, Filipe González”.
Esta ‘pressa’ que bloqueará a oposição interna “servirá também para não dar tempo ao Partido Popular de cartar vitória” e assim cimentar o que parece ser a vaga de crescimento que respaldou a vitória de domingo passado.
Mas Pedro Sánchez, afirma Diogo Noivo, consegue ainda obrigar a esquerda à esquerda do PSOE a tomar decisões: “o Sumar, que não se apresentou a eleições, mas cujos membros mais importantes não conseguiram bons resultados, terá de se haver com o Podemos, que ficou próximo da irrelevância política”. Tal como antes, considera Diogo Noivo, o PSOE não apresentará qualquer acordo pré-eleitoral com a esquerda à sua esquerda, Mas “todos sabem que os socialistas não conseguem ganhar eleições sozinho”.
Nesta fase, esse quadro também serve para o PP: “terá também que se coligar com a extrema-direita do Vox para formar governo. Não se deve extrapolar de umas eleições para as outras, mas é possível que a soma do PP com o Vox seja suficiente para conseguir uma coligação de maioria absoluta”.
Diogo Noivo recorda que, apesar dos vários exemplos de entendimento político entre a direita conservadora e a extrema-direita, isso nunca foi tentado a nível nacional. Mas não crível que (como acontece por exemplo em Portugal) isso venha a ser um problema. “E não é só por causa dos exemplos de entendimentos que já foram conseguidos. É que, ao ter como apoio parlamentar partidos como o Bildu – herdeiro da ETA e que apresentou nas suas listas 44 ex-militantes desse grupo – Pedro Sánchez criou um precedência de entendimento com os radicais que o PP pode agora usar para explicar qualquer acordo nacional com o Vox”.
De qualquer modo, lembra o politólogo, o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, faz parte do grupo dos populares que não tem grande gosto numa coligação desse género. Mas uma coisa é o gosto, outra bem diferente “é a necessidade” – e aí os populares, diz Diogo Noivo, não deverão hesitar.
Num verão que todos os prognósticos dizem ir ser muito quente, as autárquicas e as regionais espanholas conseguiram encontrar uma forma de o tornar ainda mais escaldante.
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