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Especialista considera “uma vergonha” o número de incêndios na Madeira e no País

O especialista do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, Joaquim Sande Silva classificou esta semana no Funchal de “vergonha” o elevado número de incêndios florestais registados em Portugal e na Madeira.
8 Junho 2017, 00h57

O docente, que falava numa conferência promovida pela Câmara do Funchal no âmbito da Semana do Ambiente, alertou para o facto de que entre 2006 e 2013 a área ardida na Madeira ser equivalente a 30% do território da ilha. “Isto é algo que não se verifica no mundo civilizado. No continente o quadro também não é favorável”, disse.

Lembrando que um relatório da FAO de 2010 já avançava que considerando apenas a percentagem de floresta ardida apenas quatro países africanos rivalizam com Portugal, Joaquim Sande Silva acrescentou:

“Estamos num país e numa ilha que se orgulha de ter um Cristiano Ronaldo, que está no topo, ao nível dos melhores, mas esquecemo-nos às vezes de pensar naqueles rankings que nos põem no topo mas pela negativa. Como eu costumo dizer aos meus alunos, isto é uma vergonha”.

Aquele especialista lembrou que Portugal tem um problema grave e não se pode desculpar com o clima ou com o tipo de vegetação, na medida em que Espanha tem condições similares e em 30 anos conseguiu reduzir a área ardida para metade.

“O que está a falhar no nosso país? O principal problema é o alheamento da população, que encara a questão os incêndios como um filme de Hollywood, em que há os bons (os bombeiros) e os maus (os incendiários) e fatores que não controla (o clima). Ou seja, os cidadãos esquecem-se que têm um papel a desempenhar neste filme, o que leva os políticos a seguirem o mesmo caminho de desresponsabilização”, acrescentou.

Para Joaquim Sande Silva está a falhar a preparação técnica, a capacidade de antevisão dos problemas e uma filosofia diferente em termos de uso do solo e de cobertura vegetal.

Para o docente “falta também coragem política para mexer na estrutura da prevenção e combate das ignições”.

Joaquim Sande Silva defendeu a divulgação do risco meteorológico dos incêndios por ser importante que as pessoas saibam que não podem fazer queimadas em determinados dias e épocas do ano.

Admitindo que a existência de gado nas serras pode ser encarada como importante na redução de material combustível em locais preparados para o efeito, o docente alertou contudo que “lançar o gado indiscriminadamente pela serra não resulta eficaz em termos de conservação da vegetação e dos solos”.

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