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Especialistas anteveem transição para cidades “humanizadas” e ligadas digitalmente

A necessidade de colocar os cidadãos no centro da resolução dos problemas deverá marcar as cidades do futuro, onde soluções inovadoras e disruptivas terão um papel central, mas com as condições de investigação e experimentação que permitam o seu teste aprofundado antes da implementação.
  • Avenida Almirante Reis
20 Abril 2021, 15h09

A transição para as cidades inteligentes do futuro, além de necessária e ligeiramente facilitada pela aceleração criada pela pandemia, necessita de ser focada nas pessoas que compõem estes espaços e, simultaneamente, necessita de vários motores e de planeamento a vários níveis. Esta foi a ideia principal defendida pelos oradores da conferência ““WhatNext.Law | As Cidades do Futuro”, realizada esta terça-feira pela Vieira de Almeida (VdA) e a Nova School of Law, que contou com a moderação do JE.

Perante a necessidade de manter o distanciamento social, a transição digital de inúmeras atividades teve, por um lado, o condão de acelerar o progresso tecnológico, mas, por outro, expôs várias fragilidades já existentes no cenário pré-pandemia.

Ideias como a mobilidade sustentável ganharam nova tração durante o último ano, como começou por explicar Alice Charles, líder de projeto da Cities, Infrastructure and Urban Services Platform do Fórum Económico Mundial, mas problemas como o isolamento e as questões de saúde mental agravaram-se. Assim, urgem respostas ao nível das infraestruturas de habitação e transporte, energéticas, de saúde ou na gestão de água e dos resíduos, advoga.

Para Alice Charles, e dada a perda de receitas e o aumento das despesas das entidades municipais durante a pandemia, urgem respostas coordenadas. Como tal, a responsável do Fórum Económico destacou programas como o Net Zero Carbon Cities, uma “abordagem integrada” que almeja o aumento da eficiência e sustentabilidade através da digitalização dos edifícios e dos sistemas de gestão dos recursos, ou o BiodiverCities, focado na harmonia entre os espaços urbanos e a biodiversidade.

Alexandra Paio fez eco das sugestões, dando especial destaque à necessidade de “as cidades do futuro serem humanizadas”, ou seja, desenvolvidas com foco nos cidadãos que as compõem. Adicionalmente, é uma oportunidade para, argumenta a professora do ISCTE-IUL, de forma multidisciplinar, serem pensados os problemas dos espaços urbanos.

“É este ecossistema de inovação e de base comunitária que vai fazer com que se consiga resolver e haja um diálogo frutuoso sobre o futuro das cidades”, defendeu.

Para Miguel de Castro Neto, coordenador da pós-graduação em Smart Cities da Nova IMS, a passagem para este paradigma terá de ser feita sobretudo ao longo de três eixos principais: os dados, pela necessidade de assentar as políticas públicas em factos concretos, as competências e conetividade digital.

“Esta conetividade digital é hoje o maior elevador social a que podemos ambicionar. […] Portugal, pela sua dimensão, poderia ter negócios e pessoas em qualquer ponto do país, é um território muito reduzido”, argumentou.

Catarina Selada, diretora do City Lab do CEiiA, expõe “uma visão mais humanista e colaborativa da cidade”, em linha com o anteriormente defendido, mas pede mais condições para testar e experimentar soluções disruptivas.

“Quando queremos testar soluções mais disruptivas precisamos destas cláusulas de experimentação”, argumentou a investigadora, lembrando que a adoção de tecnologia é a parte mais rápida do processo de transição, pelo que importa igualmente testar estas alterações ao nível da regulamentação e da aceitação pelas pessoas.

Foi precisamente sobre o papel do Estado que se debruçou Ana Marques, coordenadora do Pilar da Digitalização do Estado da Estrutura de Missão Portugal Digital. Além da ação facilitadora no processo de transição das cidades, a administração pública terá de ser dotada das ferramentas e capacidades para ser eficiente numa realidade mais tecnológica e digital que se adivinha após a Covid-19.

“Dentro da Administração Pública há recursos capacitados, mas há também recursos que precisam de se recapacitar e existem medidas, quer no Pilar 1, de capacitação e inclusão digital, quer no Pilar 3, de digitalização do sector público, focadas especificamente nessa recapacitação”, referiu.

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