Uma figura de referência da história do jornalismo português, Victor Cunha Rego, terminava várias das suas crónicas concluindo em jeito de assinatura que “o mundo está cada vez mais perigoso”.

Felizmente, nesta, diria que o mundo começa a dar sinais de estar um pouco menos perigoso e também que, após praticamente ano e meio desde o início da reação à pandemia de Covid-19, surgem finalmente vários sinais concretos que permitem olhar para o próximo semestre, se não com otimismo, pelo menos com uma base sustentada de esperança no que toca ao enquadramento macroeconómico.

Efetivamente, terminada esta primeira metade de 2021, devemos reconhecer que uma conjugação reunida de fatores eleva as expectativas face ao que aí virá.

A confirmação dos elevados índices de eficácia das vacinas e a rapidez no processo de vacinação permitem-nos prever uma normalização ao longo dos próximos meses, isto apesar do surgimento das designadas “novas estirpes” e do facto de, a nível mundial, a cobertura da vacinação ser ainda muito desigual quando comparados os diferentes continentes.

No entanto, a confluência de menores riscos potenciais relacionados com a pandemia com a reabertura das economias, bem como o elevado impulso das políticas monetária e orçamental, resultou em assinaláveis revisões em alta das estimativas de crescimento económico e da inflação em 2021 e 2022.

É inquestionável que a natureza e também a forma de saída desta crise são distintas de situações anteriores e recentemente vividas como críticas pelos mercados, muito em parte devido à celeridade na reabertura das economias suportada por políticas económicas mais expansionistas e pela remoção faseada das mesmas.

Na área do euro, espera-se que o progresso na vacinação permita nos próximos meses aliviar as restrições pandémicas impostas. A confirmar-se, isso resultará numa forte retoma económica que beneficiará igualmente de níveis excedentários de poupança das famílias assim como da suspensão do Pacto de Estabilidade e Crescimento, o que permitirá um regresso gradual da disciplina orçamental.

A recuperação económica europeia, especificamente o investimento, deverá contar ainda com o contributo positivo dos fundos comunitários correspondentes aos Planos de Recuperação e Resiliência Europeus, cujos montantes de subvenções já começaram a ser distribuídos.

É verdade que, ainda assim, o mais provável é que o nível de atividade económica da região Euro permaneça abaixo do registo pré-Covid, pelo menos até ao final deste. Mas as expectativas são animadoras e as projeções para Portugal são igualmente otimistas, embora se mostrem mais vulneráveis à retração pandémica, face à sensibilidade da recuperação do consumo privado e principalmente das exportações relacionadas com a atividade turística.

Em suma, para aqueles que vão de férias no próximo mês de agosto, estou convicto de que será possível descansarmos este verão com bastante menos preocupação. Até breve, com saúde e força.

 

 

Se tudo correr bem e sem mais adiamentos (o que é ainda uma incógnita no dia em que escrevo), esta sexta-feira inauguram os Jogos Olímpicos de Tóquio. São quase cem os atletas portugueses apurados mas, mais do que focar-me na componente da competição, gostaria hoje de recordar o significado destes Jogos, aquilo que representam no espírito da união e da concórdia. O desporto, no seu máximo expoente e com tudo o que tem de melhor.

 

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