Estes tempos que a marcha inexorável do calendário determina que sejam de balanço e de prospectiva são propícios a que se olhe para o novo ano e se enumerem desafios, ambições, desejos…

Foi o que fez, com a habitual profundidade, a jornalista Teresa de Sousa no artigo que publicou no seu Público, de 28 de Dezembro, “Europa 2022, A tempestade perfeita”.

E ali se enumeram e analisam algumas das questões com que a Europa se confronta no actual clima de incerteza, insegurança e imprevisibilidade.

Desde a Europa pós-Merkel às incertas eleições francesas de 2022, do regresso da inflação às dificuldades de funcionamento da zona euro, da pressão migratória à transição digital.

Sendo a enumeração dos temas essenciais certamente consensual, como consensuais seriam muitos outros, não é esse o exercício que hoje me preocupa.

Fui-me habituando, desde jovem, a tomar posição. Sobre a vida, sobre as opções da sociedade, sobre os caminhos a seguir. Felizmente, pude fazê-lo em liberdade. Sem constrangimentos, limitações ou riscos.

Nunca tendo acreditado nos “amanhãs que cantam” e porventura por causa disso, formei-me a optar “à esquerda”.

Sempre achei que o caminho da justiça, da composição e do progresso sociais, do equilíbrio e da redistribuição dos rendimentos, do desenvolvimento inclusivo, da liberdade e da solidariedade passavam por essa opção.

E continuo a achar.

A questão é hoje outra.

No momento em que a Europa se confronta com opções estruturais, o que é que pensa a esquerda europeia? Quais as suas opções? Ou, se quisermos, o que é hoje a esquerda europeia?

Pode a Europa afirmar um caminho de integração e a esquerda europeia atomizar-se em opções nacionais, frequentemente contraditórias?

Pode a esquerda europeia deitar, leviana e ligeiramente, para o caixote do lixo da história o legado de Willy Brandt, Helmut Schmidt, François Mitterrand, Felipe Gonzalez, Jacques Delors ou Mário Soares?

Por décadas, a Internacional Socialista foi um farol no caminho da liberdade dos povos. Hoje não se sabe se existe, o que pensa ou o que propõe.

Talvez a esquerda europeia esteja a precisar de mais mundo e menos paróquia…

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.