Ninguém gosta de ser chamado de moço ou moça de recados, nem de ver manchada a reputação de independência. A credibilidade e a isenção são importantes em muitas áreas de trabalho, mas no jornalismo sério são indispensáveis, constituem as bases sobre as quais se estabelecem relações de confiança e interesse com os leitores.

Questionar se um órgão é independente ou se passa recados do poder é um exercício válido, mas tem de ser feito com cuidado, especialmente por quem tem telhados de vidro.

O processo da atribuição dos apoios estatais à comunicação social foi atribulado. Deveria ter sido mais célere, mais claro na forma como escolheu e calculou os apoios e, talvez, construído sobre outra premissa que não a compra de espaço publicitário.

Os que escolheram não aceitar os apoios, nomeadamente os jornais online “Observador” e “Eco”, têm todo o direito de tomar essa decisão e gerir as suas contas da forma como entenderem. Num país com liberdade de expressão, têm também todo o direito de dizerem o que pensam do processo e dos que aceitaram o apoio, grupo onde se inclui o Jornal Económico.

Infelizmente, optaram por usar esse direito para fazer acusações prévias e sem fundamento, aproveitando o momento de grave crise para pisar os outros. E não usemos paninhos quentes, são mesmo acusações e não insinuações.

O publisher do “Observador”, José Manuel Fernandes, ao dizer que o site não ia receber o valor que merecia porque são independentes, incómodos, não passam recados e não afinam pelo diapasão do poder, está a acusar os outros órgãos de ser e fazer precisamente o oposto. O “Eco”, concorrente mais pequeno do Jornal Económico no mesmo segmento, não foi tão longe, mas diz no material promocional que quando um Governo financia um jornal a independência jornalística fica ameaçada. Será?

Vamos por partes. O Jornal Económico foi construído com independência como ponto de partida. Os investidores são independentes, não fazem parte de um grupo corporate, nem de lóbis ideológicos. Não intereferem nos temas editoriais, deixando a direção e os jornalistas, muitos com reputações sólidas criadas em agências internacionais e nos melhores e maiores jornais do país, tomar as decisões em liberdade.

A rápida consolidação do projeto, com adesão dos leitores, anunciantes e parceiros teve por base a procura por um órgão independente. Não fazemos fretes ao poder, antes pelo contrário. Incomodamos os poderosos, que se chateiam por verem algumas verdades expostas, mas mesmo quando se queixam acabam por reconhecer que tínhamos razão. Separamos o tratamento publicitário do tratamento editorial.

Não vão ser os 28 mil e tal euros de compras de publicidade pelo Estado que vão mudar isso. Antes pelo contrário, num momento crucial para as famílias e empresas portuguesas, vamos continuar a questionar o poder para verificar se está a honrar as suas responsabilidades.

Não tenho recados do poder, mas tenho dois recados para os que nos acusam de não sermos isentos. Os vossos jornais, feitos por excelentes profissionais e direções experientes, têm aspetos muito positivos, mas a isenção ou a independência não serão certamente as características que vêm logo à cabeça.

O segundo recado é simples. A situação de crise é delicada para todos, mas não precisam de faltar ao respeito aos outros para tentar melhorar as vossas contas ou massajar os vossos egos.