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Estados Unidos e China iniciam negociações duras no Alasca

É a primeira vez que altos responsáveis dos governos de Washington e de Pequim se vão encontrar. E nenhuma das partes parece interessada em desanuviar o ambiente carregado que se instalou desde o primeiro instante.
FILE PHOTO: An attendant cleans the carpet next to U.S. and Chinese national flags before a news conference for the 6th round of U.S.-China Strategic and Economic Dialogue at the Great Hall of the People in Beijing, July 10, 2014. REUTERS/Jason Lee/File Photo
18 Março 2021, 23h16

As primeiras conversas de alto nível entre os governos dos Estados Unidos e da Cinha – a decorrer em Anchorage, no Alasca – não parecem auspiciar nada de muito positivo: o secretário de Estado Antony Blinken e o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan encontraram-se com o principal diplomata chinês Yang Jiechi e o conselheiro de Estado Wang Yi em Anchorage num clima de forte tensão.

“Vamos discutir as nossas profundas preocupações com a atuação da China, incluindo nas regiões de Xinjiang, Hong Kong e Taiwan, os ataques cibernéticos nos Estados Unidos, a coerção económica dos nossos aliados”, disse Blinken, citado pela comunicação social num comentário público invulgarmente contundente logo no primeiro encontro. “É essa atuação que ameaça a ordem baseada em regras que mantém a estabilidade global”, disse.

Yang Jiechi fez um longo discurso de abertura onde também criticou as batalhas democráticas que, apesar de o serem, têm espantado o mundo e o tratamento reservado às minorias em tantas geografias ocidentais.

Os chineses – que não são conhecidos por gostarem de debater temas internos com países terceiros – parecem assim apostados numa toada de ataque e contra-ataque que promete ser uma verdadeira batalha num território que já foi pertença da Rússia.

Washington tem na mão uma vantagem considerável: o facto de poder exibir uma espécie de agenda global, debatida com vários parceiros norte-americanos – entre eles a Europa e a Índia – geografias cujas ligações aos Estados Unidos a administração Biden tentou reforçar desde que chegou à Casa Branca.

A ‘mão’ chinesa para ‘cortar’ esta vasa é o mega-acordo comercial e de entendimento estratégico (o maior alguma vez feito em termos de PIB agregado) que a China concluiu recentemente com Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Indonésia, Tailândia, Singapura, Malásia, Filipinas, Vietname, Myanmar, Camboja, Laos e Brunei. Entre estes, contam-se países que anteriormente costumavam ‘ir a jogo’ com os Estados Unidos, como são os exemplos mais flagrantes do Japão e da Coreia do Sul.

E, claro, há ainda o caso da União Europeia, que tenta equilibrar-se numa perigosa posição de equidistância entre os dois blocos, não jurando fidelidade a nenhum deles, mas também não escorraçando nenhum dos pretendentes definitivamente.

Segundo os jornais norte-americanos, os dois lados não parecem dispostos a avançar com grandes consensos ao longo das negociações, que vão continuar ao longo desta sexta-feira.

Na véspera das negociações, os Estados Unidos emitiram uma verdadeira ‘enxurrada’ de ações dirigidas à China, incluindo um movimento para começar a revogar as licenças das telecomunicações chinesas, intimações a várias empresas chinesas de tecnologia de informação por questões de segurança nacional e atualização de sanções contra a China sobre a reversão da democracia em Hong Kong. Não terá sido um bom começo de conversa!

A posição de Washington, já explanada por Joe Biden, é que os Estados Unidos estão dispostos a trabalhar com a China quando for do seu próprio interesse e citou a luta contra as mudanças climáticas e a pandemia como exemplos dessa cooperação – mas a Casa Branca não promete nenhum tipo de amizade: apenas uma relação baseada no interesse, o que é, de qualquer modo, aquilo que verdadeiramente cimenta as relações.

Mesmo assim, e segundo as mesmas fontes, os Estados Unidos esperam que as negociações com a China, apesar de “muito difíceis”, passem por uma tentativa genuína de encontrar áreas onde os dois países possam trabalhar juntos, disse um alto funcionário do governo norte-americano em Anchorage. “Há claramente algumas áreas com sérias diferenças, mas talvez isso seja um pouco diferente do que se passava com a administração anterior [de Donald Trump]”, afirmou. O mundo vai ficar à espera de ver que tipo de madruga o espera no próximo sábado de manhã.

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