Segundo a imprensa dos Estados Unidos, o presidente norte-americano, Joe Biden, está por esta altura reunido com a sua equipa para gerar uma resposta ao ataque do Irão a Israel – levando com certeza em linha de conta os interesses de Israel mas também os seus próprios interesses, que não são necessariamente coincidente. É preciso recordar que o fim último de Joe Biden é a sua reeleição, muito mais que uma vaga preocupação com o Médio Oriente. A resposta de Biden a estes dois interesses em conflito é a chave para o futuro imediato e, a acreditar nos analistas que povoaram as televisões de todo o mundo ao longo da noite, resume-se à palavra ‘contenção’.
De facto, uma guerra ‘clássica’ entre o Irão e Israel neste momento não serve os propósitos estratégicos de nenhuma das partes em conflito – nem mesmo da Rússia, muito menos da China, que não são, para todos os efeitos, partes diretamente interessadas. Nesta fase de pré-eleições, Joe Biden não terá nenhum interesse em dizer aos eleitores – aos democratas e aos republicanos – que os Estados Unidos terão que aumentar a sua astronómica dívida pública para apoiar mais uma guerra, numa altura em que os norte-americanos se vão mostrando fartos de estarem a gastar dinheiro na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia.
As potências regionais vizinhas do conflito – nomeadamente a Turquia e a Arábia Saudita – também não parecem ter nada a ganhar com uma guerra aberta entre o Irão e Israel, uma vez que não poderiam manter uma posição equidistante entre os dois países, que é no fundo aquilo que têm feito nos últimos meses: a Turquia mostrando não sustentar Israel mas sendo contida na oposição ao Estado hebraico – ao contrário do que fez há alguns anos atrás – e a Arábia Saudita tentando não colocar em causa uma aproximação ao Irão (patrocinada pela China) que tanto lhe custou a alcançar.
Para além dos Estados Unidos, as potências globais também não têm nada a ganhar com o conflito entre Irão e Israel. A China – que tem de alimentar 1.400 milhões de pessoas – tem outos lugares para onde olhar e o Médio Oriente não é em definitivo a sua maior preocupação. A Rússia, aliada do Irão na Síria (mas apenas há meia dúzia de trimestres), está confrontada com uma economia de guerra virada para alimentar o conflito na Ucrânia. Por muito que Vladimir Putin quisesse capitalizar uma guerra entre os dois países, o mais certo é não ter dinheiro para isso. Este domingo, se se der ao trabalho de comentar o conflito, as suas palavras serão certamente de apaziguamento.
Do lado da União Europeia, as declarações serão as de sempre: fotocopiadas pelo que disser a Casa Branca, o que é sempre mais fácil que ter opções políticas próprias.
Para alguns analistas, o que vai acontecer amanhã é muito simples: coisa nenhuma. O Irão fez o seu ‘statement’, uma criança israelita ficou ferida (morreram milhares de crianças palestinianas em Gaza desde 7 de outubro), Netanyahu sairá internamente reforçado e as forças de defesa de Israel poderão voltar ao sul de Gaza para acabarem com a limpeza da área. A alternativa é o início de uma guerra mundial entre duas potências regionais – sendo que uma delas, Israel, tem armas nucleares não declaradas e a outra, o Irão, talvez não as tenha – mas nunca se sabe.
E depois, claro, há os palestinianos, mas esses parecem ser aqueles em quem verdadeiramente ninguém pensa.
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