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“Estamos em Portugal porque há talento”, diz o diretor-geral da Natixis

“Há uma mentalidade aqui de empreendedorismo, aqui no Porto”, disse o diretor-geral do banco francês, que já conta com mil pessoas no ‘hub’ de inovação. Etienne Huret foi um dos participantes mesa redonda organizada esta quarta-feira pelo Jornal Económico com o tema “Do salto tecnológico à retoma da economia, os desafios do sector financeiro no pós-pandemia”.
3 Março 2021, 17h25

A proximidade geográfica, histórica e cultural com França e a mentalidade empreendedora no Porto são fatores positivos, mas a principal razão pela escolha da cidade invicta para sediar um hub de inovação que já emprega mil pessoas foi a existência de talento com elevada formação nas várias áreas cruciais da tecnologia informática, afirmou Etienne Huret, diretor-geral da Natixis em Portugal.

“O primeiro fator e o mais importante é o talento”, Huret, no painel ‘Portugal como centro de transformação digital da banca’, da mesa redonda organizada esta  quarta-feira pelo Jornal Económico com o tema “Do salto tecnológico à retoma da economia, os desafios do sector financeiro no pós-pandemia”.

“Nós estamos em Portugal porque há talento. O nível da educação em Portugal é muito alto, há muito talento a sair das universidades com diplomas avançados em computer science, em novas tecnologias, também nas atividades financeiras”, explicou Huret, que está no cargo desde agosto de 2020.

O Natixis é um banco de investimento que tem entre as áreas de atividade mais importantes o trading, o investment banking, o wealth management, o insurance e os pagamentos. É uma empresa que emprega 16 mil pessoas, em 28 países.

“Em Portugal somos mil. Criamos o hub em 2017, e no início estavamos focados só na tecnologia e na informática, de forma geral, mas desde 2019 estamos agora a focar também no back office, nas atividades de compliance, de finanças, de risco e operações de CID (customer identification), e portanto somos agora 800 na tecnologia e 200 em back office”, adiantou Huret.

Em relação ao talento em Portugal, o gestor afirmou que encontrou uma boa ligação estabelecida entre as universidades e a empresa, com a cerca de 80 a 100 estudantes por ano a entrarem para estágios, muitos dos quais resultam depois em contratações permanentes.

Além do aspeto do talento e da formação, para prevalecer face a outros destinos analisados pela empresa, como Espanha, Roménia e Polónia , teve de mostrar vantagens noutros critérios utilizados pelo banco gaulês para como o empreendedorismo, a ligação com França, e a mentalidade internacional.

“Estamos a duas horas de viagem de Paris, o que é uma vantagem importante, há essa proximidade. Há também uma vantagem cultural, somos latinos e falamos línguas latinas, mesmo que existam diferenças, e há muitas ligações históricas também, temos muitas pessoas de origem portuguesa e também em Portugal muitas pessoas que falam bem o francês”, referiu Huret.

“Há uma mentalidade aqui de entrepreneurship, aqui no Porto. Não sei se foi sempre assim, mas desde que cheguei vi esta cultura que está bem presente nos nossos colaboradores”, adiantou. “Querem fazer, tomam iniciativa, estão sempre a fazer propostas, não ficam calados e acompanham mesmo os colegas em Paris, em Londres, seja onde for. É uma atitude muito boa”.

Vincou ainda que há muitas startups, fintechs na região do Porto que podem ajudar o banco, contribuindo também para o que chama de entrepreneurship mindset.

Os talentos portugueses na área da informática são disputados não só pelas empresas portuguesas, mas também pelas internacionais, tanto as que criam centros no país ou que oferecem postos apelativos nos estrangeiro.

“É bom haver concorrência, se não houvesse, iríamos nem pensar o que fazer para acrescentar e puxar pelas equipas e ter uma oferta interessante”, explicou Huret. “É verdade que de vez em quando temos pessoas que saem da Natixis. Temos de promover constantemente um processo de mobilidade interna para apoiar o desenvolvimento das pessoas e também formas de fazer diferente”.

“Com o nosso portefólio de atividades, somos competitivos porque estamos constantemente em crescimento, e isso é apelativo”, disse.

Esse aspeto ajuda o Natixis a atrair talento de outros países e Huret diz que o hub do Porto conta com mais de 100 pessoas que vieram do Brasil. A burocracia relacionada com essa captação de talento internacional é, no entanto, complicada, admitiu.

“É uma coisa que podia ser melhorada. Temos de atrair talento do mundo inteiro, e temos pessoas que vêm do Brasil e de outras partes do mundo, mas é complicado, a parte administrativa às vezes leva quatro, cinco ou mesmo seis meses a completar”, vincou.

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