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“Estímulos deverão levar a uma forte retoma em 2021”, antevê ‘head of global economics’ do Credit Suisse

A economia da zona euro deve recuar 4% este ano antes de disparar 5%. Em entrevista, Nannette Hechler Fayd’herbe diz que o exemplo da Ásia e os estímulos orçamentais e monetários suportam a projeção, mas que esta depende também do progresso dos sistemas de saúde antes do inverno em duas frentes: testes baratos disponíveis numa base ampla e tratamento clinicamente testado para controlar os casos mais graves nos grupos de risco.
13 Abril 2020, 08h10

A zona euro deverá ser uma regiões mais castigadas pela recessão global provocada pelo novo coronavírus, com uma contração de 4% este ano, mas se as medidas sanitárias, orçamentais e monetárias tiverem os impactos previstos poderão conduzir a uma recuperação forte de 5% em 2021, afirmou Nannette Hechler Fayd’herbe, global head of economics & research do Credit Suisse.

Em entrevista telefónica, Fayd’herbe explicou ao Jornal Económico que os pressupostos da tese do banco suiço, começando pelo aspecto da contenção do vírus.

“Em todos os países onde atualmente existem medidas de confinamento, vimos que eles funcionaram. Na Ásia, além de a China ter conseguido controlar a disseminação do vírus, de modo que agora está no processo de permitir que os trabalhadores e as empresas voltem ao funcionamento normal, também estamos a ver isso em países como a Coréia do Sul e o Japão”, disse.

Itália, França e Espanha estão a mostrar já, de certa forma, um caminho semelhante ao dos países asiáticos. “E o que esperamos, com base nisso, é que as medidas de contenção funcionem se forem drásticas”.

Fayd’herbe, que também é chief investment officer da área de international wealth management do Credit Suisse, acredita que é provável que esses três países europeus vejam um pico de infecções no decorrer das próximas quatro a seis semanas, portanto em maio. “Já vimos a desaceleração dessas novas infecções e, portanto, deve-se supor que, ao seguirmos para o verão e depois para o terceiro trimestre, haverá um retorno à atividade económica”.

A economista explicou que para essa visão se concretizar, os sistemas de saúde têm de continuar a progredir em pelo menos duas avenidas importantes, das três necessárias para declarar vitória contra o coronavírus. “O primeiro progresso importante é ter testes baratos disponíveis numa base muito ampla antes de chegarmos aos meses mais frios do ano. A segunda via importante é a de que existe um tratamento clinicamente testado para para controlar os casos mais graves nos grupos de risco e, é claro, a terceira medida, que é mais incerta no horizonte de tempo sobre o qual estamos falando, é a inovação em termos de vacinas”.

Com essas premissas como base, o Credit Suisse espera que haja uma recuperação que poderá até ser vista nos principais indicadores talvez já nos próximos dois a três meses. “Se olharmos para o que aconteceu na China entre fevereiro e março, como isso se refletiu, por exemplo, nos PMI, indicadores do sentimento de negócios, no mês de fevereiro ainda estávamos em níveis em torno de 30, indicando uma profunda desaceleração e contração da atividade económica, mas no mês seguinte o PMI voltou a ser cerca de 50”.

“Portanto, é esse tipo de recuperação que acho que deveríamos esperar nos outros países que seguiram o mesmo tipo de reação”, sublinhou. “Sob essa suposição, o que acontecerá é que teremos essa profunda contração no segundo trimestre, depois uma recuperação no segundo semestre, mas essa recuperação não será suficiente para compensar totalmente o que foi perdido, portanto, para o conjunto de 2020”.

Fayd’herbe vincou que a zona do euro como um todo será uma das regiões mais afetadas, com o Credit Suisse a projetar uma contração de 4% na economia do bloco da moeda única. A Itália, que foi muito afetada e que já estava numa situação delicada antes, a recessão poderá ser mesmo de 7% ou 7,5% em 2020.

“Mas à medida que avançamos para 2021 e a recuperação iniciada no segundo semestre do ano com essas premissas, a retoma ai pode acelerar porque existem todas a medidas de apoio de governos e bancos centrais e que depois serão implementadas e que depois vão se provar serem de estímulo ao invés de apenas impedirem o pior”, referiu.

“É provável que a estimulação direta leve a uma forte recuperação e portanto estamos a atualizar as nossas projeções de crescimento para 2021 em vários países”, adiantou. Para a zona euro, o Credit Suisse espera agora um crescimento real do PIB de 5%, com a Alemanha em cerca de 5,4% e a Itália em 8%. “Estamos a olhar para uma recuperação, mas ela será verdadeiramente visível em 2021, e não em 2020”.

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