Estes dados são salientados na 15ª edição do estudo Global da EY sobre Fraude, para o qual foram entrevistados 2.550 executivos de 55 países, onde se inclui Portugal.

No estudo é possível constatar que apesar dos reguladores e das agências de aplicação da Lei terem cobrado mais de 11 mil milhões de dólares em sanções, desde 2012, que 38% dos executivos entrevistados ainda acreditam que o suborno e as práticas de corrupção continuam a ser predominantes. Em Portugal este dado é ainda mais preocupante com 46% dos inquiridos a afirmarem que as práticas de corrupção nos negócios acontecem de forma abrangente.

Esta constatação leva-nos a crer que o comportamento anti-ético nos negócios continua a ser o grande desafio, deixando as empresas vulneráveis a significativos danos financeiros e reputacionais.

A diferença nos níveis de corrupção entre regiões mantém-se significativa, com 20% dos entrevistados em mercados desenvolvidos a indicarem que o suborno e a corrupção ocorrem nos negócios de uma forma abrangente, valor que sobe para 52%, no caso dos mercados emergentes.

Em Portugal, não existe ainda uma entidade com poderes de fiscalização no combate à corrupção. Este poder é crucial para dar efictividade às recomendações, como as do Conselho de Prevenção da Corrupção e/ou para alinhar com boas práticas internacionais, como seja a Lei Sapin II em França. Neste sentido, seria positiva a criação de regulamentação específica e de uma entidade independente com estes poderes, mas este é só um lado do combate à corrupção.

O outro lado, prende-se com os órgãos de gestão identificarem as principais causas da conduta anti-ética nas suas organizações e reforçarem os sues programas de Compliance. O estudo sugere que as organizações devem deixar claro que agir com integridade é uma responsabilidade de todos, embora isso compreenda a importância que a gestão têm em definir esse princípio desde o início. O estudo indica ainda que pode haver algum nível de frustração entre as empresas no que concerne à sua capacidade de fazer “cumprir a palavra” quando se trata de gerir a conduta imprópria. Entre os entrevistados, 78% acreditam que as suas organizações têm a intenção clara de penalizar a má conduta, mas apenas 57% estão cientes de ter havido efetivamente algum tipo de penalização. Em Portugal essa convicção é ainda mais baixa, situando-se apenas nos 40%.

Em Portugal, para combater este comportamento, o esforço das empresas públicas e privadas também deve passar pela criação e/ou reforço gradual dos seus mecanismos de prevenção com Programas de Compliance ABAC (Anti-Bribery Anti-Corruption), que passam pela: 1) revisão da governance corporativa 2) mapeamento dos riscos de corrupção 3) adopção de códigos de conduta 4) implementação de linhas de denúncia (whistleblowing) 5) avaliação de risco de terceiros/parceiros 6) adopção de tecnologias forenses e com 7) o desenvolvimento de acções de formação sobre estas temáticas, para instilar uma cultura de integridade em toda a organização.