A deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, perguntou para que serviram os primeiros 150 milhões que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) emprestou à Metalgest. “Foi para comprar ações e a maior parte desse dinheiro foi para investimento do BCP”, respondeu Joe Berardo.
“O BCP pediu para nós – como eles tinham o problema de não poder dar crédito para a compra das próprias ações – para ver se eu podia ajudá-los [a manter o banco em mãos nacionais]”, frisou o comendador. “As negociações com o BCP eram com o Filipe Pinhal e Duarte Pitta Ferraz”.
Mariana Mortágua colocou diversas questões sobre as reuniões que decidiram a nomeação de Carlos Santos Ferreira para CEO da CGD, sendo que houve sucessivas reuniões em diversos lugares, como no Banco de Portugal ou na EDP. Joe Berardo respondeu em diversos momentos: “não me lembro”.
Sobre o BCP, Joe Berardo reconheceu que “foi o maior desastre da minha vida”. Berardo acusou a Caixa de falta de profissionalismo na gestão dos seus empréstimos. “A Caixa tinha penhor sobre as ações do BCP com mandato para vender. Se tivesse usado essa prerrogativa, e vendido quando as ações deixaram de cobrir valor dos empréstimos, não teria registado perdas”, disse o advogado de Berardo, André Luiz Gomes.
A deputada do Bloco quis saber ainda como é que a Fundação Berardo, que não tinha dinheiro para pagar juros à CGD, investiu 153 milhões para a Coleção Berardo, sendo que a Fundação Berardo não tinha liquidez. “Eu gostava de saber de onde veio esse dinheiro”, questionou a deputada.
“Não estamos aqui para a falar da Coleção Berardo. Estamos a falar da Caixa e do BCP”, respondeu o comendador.
Porque é que foi a Fundação ficou como mutuária, quando tem fins caritativos, artísticos, e que pediu à CGD 350 milhões de euros para comprar ações do BCP? Perguntaram os deputados: “Qualquer instituição que precisa de retorno precisa de fazer investimentos para ter retorno dos investimentos para financiar essas atividades”.
Mais tarde, Mariana Mortágua perguntou qual é o valor atribuído à Coleção Berardo, que foi dada em penhor para o crédito à banca, no valor de 300 milhões de euros. “É melhor perguntar aos bancos”, retorquiu Berardo. “O que os bancos têm são títulos da Associação dona da coleção. Eles é que fizeram a valorização desses títulos [unidades de participação]. Como é que eles fizeram esta valorização, eu não sei”, adiantou.
Face às respostas de Joe Berardo, Mariana Mortágua mostrou-se incrédula e disse “não compreendo quem é que está a enganar quem”.
A deputada voltou à carga e questionou a imagem de “milionário” que o Joe Berardo tem dado e questionou por que razões não paga as dívidas.
“Eu pessoalmente não tenho dívidas, claro que não tenho dívidas”, assinalou Joe Berardo.
Mais tarde Cecília Meireles do CDS responde a Berardo que “a Fundação José Berardo deve e não é pouco”.
Sobre o aval pessoal, os deputados perguntaram se “houve uma insistência para dar o aval pessoal ao empréstimo de 350 milhões de euros à banca”? A resposta foi: “Eu acho que nessa altura nem falavam disso. Não me lembro”, responde Berardo. “Não demos aval. Se pediram, não foi aceite”, acrescenta.
Apesar desta resposta, em 2008 deu um aval pessoal a um financiamento de 38 milhões de euros da Caixa, mas, diz Berardo, isso foi para ajudar num aumento de capital do BCP. Isto é, segundo Berardo, foi uma nova operação que não tinha nada a ver com a linha de financiamento de 350 milhões negociada um ano antes.
O presidente da Metalgest e Fundação Berardo, entidades que passaram a ser clientes da Caixa, em 2006 e 20o7, disse inicialmente em comunicado (lido pelo seu advogado André Luiz Gomes) que “nunca participei em qualquer assalto ao BCP. Pelo contrário, as instituições reforçaram o investimento para apoiar a gestão de Paulo Teixeira Pinto, numa altura em que Jardim Gonçalves queria voltar ao poder no BCP”, disse no comunicado. Paulo Teixeira Pinto terá garantido que ficaria no BCP, mas passado dois meses saiu, lembra o advogado de Berardo.
Joe Berardo já antes tinha dito que “tentou ajudar os bancos numa altura de crise”.
O comendador Berardo lembra que foram os acionistas de referência que escolheram e aprovaram Carlos Santos Ferreira para a liderança do BCP, depois da saída de Paulo Teixeira Pinto. Essa escolha da nova administração do BCP, ocorreu numa reunião nas instalações da EDP e foi apadrinhada pelo então Governador do BdP, Vítor Constâncio.
No inicio da sessão, André Luiz Gomes, advogado de Berardo, leu uma introdução em nome do cliente, e disse que as “pessoas sujeitas a sigilo bancário prestaram informação” descontextualizada e enganosa, como terem feito “crer aos senhores jornalistas que só tinha em meu nome uma garagem no Funchal”, ignorando todos os ativos que, diz o advogado, foram entregues aos bancos ao longos dos anos como garantias. Berardo “ficaria grato se só lhes tivesse dado a garagem no Funchal”. O advogado falou de “fake news”.
“Fizeram crer aos jornalistas que só tenho uma garagem em meu nome”, disse Berardo. André Luiz Gomes acrescentou que o seu cliente apresentou ativos de boa fé para reforço de garantias no período em que foi essencial à banca que as dívidas não entrassem em incumprimento entre 2008 e 2014.
Explicou depois que as entidades que são clientes da Caixa, a Metalgeste e a Fundação Berardo, tinham uma política de realização de investimentos financeiros em atividades operacionais, com vista à realização de mais-valias e obtenção de dividendos. E foi nesse quadro que surgiram os investimentos realizados na compra de ações do BCP. O advogado referiu o nome de José Cabral dos Santos, o então diretor comercial de grandes empresas, como o interlocutor das empresas de Berardo na Caixa Geral de Depósitos.
André Luiz Gomes expõe o desígnio do seu cliente que no final de 2007 entrou no capital do BCP, “o depoente vem tomando conhecimento, até por cartas anónimas, de diversos factos que falavam de ilícitos de mercado que foram feitos por responsáveis do BCP, agravando a desvalorização das ações”. Berardo denunciou às autoridades o que soube, o que levou a que o Banco de Portugal penalizasse ex-administradores do BCP.
Segundo André Luiz Gomes não foi isso que fez cair as ações do BCP a partir de 2007. “Foram decisões pelas quais os ex-gestores ainda estão a prestar contas e a crise que teve efeitos devastadores. Berardo não quer que a culpa morra solteira”, disse o advogado.
O advogado de Berardo disse que “nos anos de 2005, 2006 e 2007, perante as contas conhecidas do BCP e perante toda a análise de investimento, a tomada de uma participação era um investimento altamente atrativo. Era o maior banco português, o lançamento da OPA sobre o BPI e as divergências internas no BCP, conduziram as instituições que represento a reforçar o investimento no banco”, explicou.
Mais tarde, Berardo desabafou: “Foi uma desgraça para mim. Podia ter comprado muito mais quadros se não tivesse entrado no negócio da Caixa” para comprar ações do BCP, referiu.
(atualizada)
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