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EUA querem suspender atividade da Chevron na Venezuela

Os EUA só garantem a integridade dos ativos da Chevron na Venezuela até 1 de dezembro. O Tesouro norte-americano quer que a Chevron suspenda a sua atividade local, enquanto os EUA apertam o cerco a Nicolás Maduro. A Chevron não se mostrou disponível para sair da Venezuela, sabendo-se que os grupos russos e chineses estão interessados em desenvolver maiores atividades no petróleo venezuelano.
  • AFP/Getty Images
22 Abril 2020, 15h52

Depois da suspensão das atividades da Chevron em Cabinda, para reduzir riscos da Covid-19 nas plataformas petrolíferas – onde esta companhia gigante norte-americana é um dos operadores históricos do petróleo angolano –, surge agora a vez de ser confrontada com uma imposição dos EUA, que pretendem obrigar a Chevron a fazer uma alteração radical na atividade que desenvolve na Venezuela, “um mercado que tem tido sempre um peso relevante na atividade internacional da Chevron”, alertou ao Jornal Económico um especialista português no sector petrolífero, académico do Instituto Superior Técnico.

Desta feita, o Departamento do Tesouro dos EUA anuncia que não permitirá que a Chevron efetue novas perfurações de poços petrolíferos na Venezuela, nem que mantenha uma atividade comercial e de trading com petróleo venezuelano – quer com produtos brutos, quer com refinados –, ou até com o transporte destas matérias-primas.

No entanto, a Chevron não se dispõe a abdicar dos seus ativos na Venezuela, nem a deixar de assegurar o bem-estar dos seus funcionários na Venezuela. Note-se que a Chevron é a última “supermajor” petrolífera dos EUA a laborar na Venezuela. Quer a Exxon Mobil, quer a ConocoPhillips saíram da Venezuela há cerca de dez anos, na altura em que o então presidente Hugo Chávez nacionalizou as empresas locais operadas por estes grupos.

Apesar da posição de reserva assumida pela Chevron, a unidade de Controlo de Ativos Estrangeiros do Tesouro dos EUA monitorizará a atividade da Chevron na Venezuela, dando apenas a garantia da integridade dos ativos venezuelanos do gigante norte-americano até ao primeiro dia de dezembro de 2020. Ou seja, segundo as autoridades dos EUA, a Chevron terá de encerrar todas as suas operações na Venezuela, o que representará uma quebra considerável na atividade petrolífera venezuelana e nas receitas obtidas pelo regime de Nicolás Maduro Moros.

Esta decisão dos EUA sobre o fim da atividade da Chevron na Venezuela surge como uma consequência óbvia na escalada de confrontações entre os EUA e o atual regime venezuelano. Segundo uma investigação do jornal The New York Times (TNYT), conduzida pelos jornalistas William Rashbaum, Benjamin Weiser e Katie Benner, e atualizada a 13 de abril, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, é acusado de tráfico de droga e lavagem de dinheiro nos EUA, segundo as autoridades federais de Washington, de Nova Iorque e da Florida.

O TNYT refere que Maduro está indiciado pela participação, durante “longas décadas”, no “narco-terrorismo e no tráfico internacional de cocaína”, e na “liderança de um violento cartel de droga”. O Departamento de Estado dos EUA anunciou inclusivamente o pagamento de um prémio de 15 milhões de dólares pelas informações que permitam efetivar a detenção de Nicolás Maduro.

Neste enquadramento, o Departamento do Tesouro dos EUA não permitirá que a Chevron perfure mais poços de petróleo na Venezuela. No entanto, a decisão dos EUA inclui igualmente a proibição de prestação de serviços em campos petrolíferos da Venezuela a quatro empresas de referência internacional neste sector, designadamente, a Weatherford International, a Baker Hughes, a Halliburton e a Schlumberger.

“São conhecidos problemas na atividade destas empresas de prestação de serviços desde há uns anos, sobretudo em África, designadamente em Angola, e no Brasil, mas esta decisão que agora as vai afetar na atividade que desenvolviam na Venezuela piora bastante todo o enquadramento em que vivem”, refere o especialista português.

“A questão que agora se coloca é a de saber que empresas poderão substituir, sobretudo, a Halliburton e a Schlumberger”, adiantou, considerando que “apenas a tecnologia chinesa ou algumas empresas russas, poderão fornecer os serviços que estas empresas internacionais vinham prestando à atividade petrolífera na Venezuela”.

Num comunicado entretanto divulgado, a Chevron esclarece que “continuará cumprindo as leis e os regulamentos aplicáveis ​​em relação às atividades que está autorizada a realizar na Venezuela”, adiantando que “continuamos comprometidos em zelar pela integridade dos nossos ativos que integram a joint-venture (a estatal Petropiar, controlada pela PDVsa) em que participamos, e pela segurança e bem-estar de nossos funcionários e das suas famílias, bem como com os programas sociais e humanitários promovidos pela companhia durante esses tempos difíceis”.

A produção petrolífera venezuelana registou uma nova queda significativa com a crise mundial provocada pela pandemia da Covid-19. Segundo várias fontes especializadas, a produção diária da Venezuela caiu cerca de 500 mil barris de petróleo a partir da segunda quinzena de março.

O peso do petróleo extraído na Venezuela é de apenas 1% da produção global da Chevron. Mas a maior relevância da Venezuela no sector petrolífero não está no que produz, mas na elevadíssima quantidade de reservas que ainda nem começaram a ser exploradas e que são cada vez mais cobiçadas pela Rússia e também pela China.

A joint-venture venezuelana em que a Chevron participa – a Petropiar, integrada no grupo estatal da PDVsa – registou uma quebra de produção que é quantificada em cerca de 58% devido aos efeitos mundiais da pandemia da Covid-19, caindo na segunda quinzena de março para cerca de 50 mil barris por dia, quando no início do ano rondavam os 120 mil barris diários.

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