O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, introduzirá novas tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para os EUA, além das taxas já existentes sobre metais, e anunciará novas tarifas recíprocas para todos os países, correspondendo às taxas tarifárias cobradas por cada um deles. As maiores fontes de importação de aço dos EUA são o Canadá, o Brasil e o México, seguidos pela Coreia do Sul e Vietname, de acordo com dados do governo e do Instituto Americano de Ferro e Aço. Mas o grande objetivo do presidente é parar a importação de aço e alumínio da China, o maior produtor desses produtos – que inundou os mercados mundiais com preços sem concorrência.
A China, como vem sendo seu costume, deixou poucas referências oficiais sobre o tema – com os analistas a preverem uma resposta imediata – tendo preferido avançar com números sobre o seu próprio desempenho: as importações e exportações de Xangai – uma das regiões mais importantes da China no que se refere à economia – atingiram 594,7 mil milhões de dólares em 2024, representando um aumento anual de 1,3% e batendo novo recorde, de acordo com a imprensa chinesa. No ano passado, as exportações da cidade aumentaram 4,6% e as importações baixaram 1%. O ímpeto do comércio deu-se muito à custa das empresas privadas, refere ainda um comunicado, respondendo por mais de um terço do total. Cerca de 43% do comércio que passa pela região deu-se com a União Europeia, a ASEAN e os Estados Unidos.
Também os agentes económicos de Yiwu, centro de exportação e manufatura da China, ignoraram as tarifas e medidas contra a China, dizendo que fizeram preparativos para amenizar o golpe, refere a agência Reuters. A cidade de Yiwu, na província de Zhejiang, no leste da China, é o maior centro de comércio por grosso do mundo para pequenas manufaturas.
Por uma grande margem, o Canadá, rico em energia hidroelétrica, é o maior fornecedor de alumínio primário para os EUA, respondendo por 79% do total das importações nos primeiros 11 meses de 2024. Mas, para já, o país está a usufruir de uma moratória de um mês sobre as novas tarifas de Trump, que deveriam ter crescido para os 25% se os dois países não tivessem chegado a um acordo.
De qualquer modo, os mercados mobiliários norte-americanos responderam positivamente a mais esta investida de Donald Trump – que ocorreu no mesmo dia em que se soube que o presidente permitirá que a japonesa Nippon Steel invista na US Steel – sob pena de o grupo norte-americano ir à falência – mas não permitirá que os nipónicos tomem uma participação maioritária. “As tarifas vão torná-la muito bem-sucedida novamente, e acho que ela tem uma boa gestão”, disse Trump sobre a US Steel. A Nippon Steel recusou comentar as declarações de Trump, refere a agência Reuters.
De qualquer modo, o plano de Donald Trump impulsionou os preços das ações de produtores norte-americanos nas negociações antes da abertura dos mercados, enquanto as ações de produtores externos ao país caíram. As ações dos produtores norte-americanos dos dois metais subiram, nomeadamente a maior siderúrgica dos EUA, a Nucor, que abriu subindo 9,5% e a Century Aluminium 8,5%. Do outro lado, a segunda maior siderúrgica do mundo, ArcelorMittal (com sede em Luxemburgo), caiu 2,2% e a sul-coreana Hyundai Steel perdeu 2,9%.
A Comissão Europeia disse esta segunda-feira que reagiria para proteger os interesses da UE, enquanto o Ministério da Indústria da Coreia do Sul realizou uma reunião de emergência com as siderúrgicas do país para discutir medidas para minimizar o impacto das tarifas. “Estamos preocupados que a mudança possa levar a aumentos nos preços de exportação e à redução nos volumes da quota de 70%”, disse um responsável da Hyundai Steel, citado pela Reuters, referindo-se à quota anual de aço isento de impostos da Coreia do Sul (70% dos volumes enviados para os EUA em média, acordada durante o primeiro governo Trump).
Recorde-se que, durante o seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio, mas depois concedeu isenções de impostos a vários parceiros comerciais, incluindo Canadá, México e Brasil. Posteriormente, o ex-presidente Joe Biden negociou acordos de cotas isentas de impostos com a Grã-Bretanha, a União Europeia e o Japão. Não ficou claro no anúncio de Trump o que acontecerá com essas isenções e acordos de cotas.
O uso da capacidade da siderurgia passou para níveis acima de 80% em 2019 após as tarifas iniciais de Trump, mas caiu desde então, pois o domínio global da China no setor reduziu os preços do aço. Kevin Dempsey, presidente e CEO do Instituto Americano de Ferro e Aço (AISI), disse, citado pela Reuters, que o grupo comercial do setor acolheu com satisfação o compromisso de Trump com uma forte indústria siderúrgica americana.
Outra vez os chips
Se há setor, para além dos metais, que importa na guerra entre as duas maiores economias do mundo, é o da produção de chips. Depois do ‘drama’ da investida da chinesa Deepseek – que deixou em pânico a concorrência norte-americana – as restrições dos Estados Unidos à possibilidade de a China comprar chips nos mercados internacionais atingiram o Império do Meio com mais força do que o esperado, refere o jornal ‘Nikkei Asia’. A tailandesa TSMC – a maior fabricante de chips do mundo – que há décadas está impedida de desenvolver os seus negócios com a China, parece estar a ter o máximo cuidado na matéria, para não chamar a ira de Trump.
Segundo a mesma fonte, os gabinetes de investigação e desenvolvimento de várias empresas chinesas que produzem ou usam chips estão a enfrentar interrupções no fornecimento devido ao reforço da conformidade exigido pela Casa Branca.
Os mais recentes controlos de exportação dos Estados Unidos no setor de chips da China estão a causar mais interrupções do que o que a indústria esperava, já que a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. adotou uma abordagem extremamente cautelosa para garantir essas conformidades. A TSMC tem informado os clientes chineses que usam as tecnologias de produção de 16 nanómetros (ou melhores) que não pode cumprir os pedidos, a menos que usem serviços de embalagem de chips de um fornecedor de uma “lista branca” dos Estados Unidos.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com