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Euronext: “É importante refletir se a poupança é compatível com as necessidades de consumo futuro”

A par de um ajustamento das expetativas quanto às pensões do Estado, a administradora Isabel Ucha considera que seria necessária uma evolução para um regime com uma componente privada de financiamento das pensões e para um regime de capitalização.
31 Outubro 2018, 16h26

A possível insustentabilidade do sistema de pensões em Portugal deve ser uma preocupação dos portugueses quando planeiam as suas poupanças, segundo alerta Isabel Ucha, membro do conselho de administração da Euronext Lisbon. No Dia Mundial da Poupança, a administradora alerta para os riscos das baixas taxas de poupança em Portugal.

“A taxa de poupança das famílias em Portugal é relativamente reduzida, quer quando comparada com outros países, quer numa perspectiva histórica. Mas talvez ainda mais importante seja reflectir sobre se as taxas de poupança atuais são compatíveis com as necessidades de consumo futuro das famílias portuguesas”, afirmou Isabel Ucha, em declarações ao Jornal Económico.

A taxa de poupança das famílias face ao rendimento disponível, em Portugal, ficou em 5,1%, em 2017. No segundo trimestre de 2018 terá subido para 7,5%, mas a média dos últimos 3 anos foi 5,3%.  A taxa de poupança é cerca de metade do registado na zona euro (12%) e na União Europeia (10%), nos últimos três anos.

Olhando para a evolução histórica, a taxa de poupança em Portugal chegou a atingir os 30% do rendimento disponível nos anos 1970. Aquando da adesão à UE, em 1986, era 24%, mas dez anos depois, em 1996 tinha caído para 13% e quando chegou o euro, em 1999,  tinha descido para 8%.

A administradora sublinha que “a poupança é fundamental para fazer face a despesas futuras, designadamente de saúde ou de educação dos filhos, ou para termos uma almofada para a reforma”.

“Num contexto em que dificilmente o Estado conseguirá continuar a suportar o regime de pensões atual, ou mesmo eventualmente o nível que temos de outros serviços públicos, seria muito importante termos níveis de poupança privada que fossem compatíveis com a estabilidade do poder de compra ao longo da vida”, defendeu.

O modelo atual de financiamento do sistema de pensões e apoios sociais poderá vir a tornar-se demasiado pesado para as gerações futuras dado o envelhecimento populacional.

A par de um ajustamento das expetativas quanto às pensões que o Estado poderá conseguir suportar, a administradora considera que seria necessária uma evolução para um regime com uma componente privada de financiamento das pensões e para um regime de capitalização, que pudesse compensar esse ajustamento. Nesse modelo, poderia ser mais fácil para as famílias perceberem que teriam que poupar mais, e o regime de capitalização iria apoiar o mercado de capitais.

Acrescentou considerar desejável que os portugueses poupassem mais, mas também que aplicassem mais das poupanças no mercado de capitais e, em particular, em empresas e instituições portuguesas. “É preciso ter presente que a capacidade de investir, de crescer e de preservar valor em Portugal, de forma sustentada, deve passar por níveis mais elevados de poupança nacional, aplicada em Portugal”, acrescentou Isabel Ucha.

 

 

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