Passam 41 minutos das 7 horas da manhã e o shuttle da Euronext está pronto a sair do Hotel Marriott e a levar empresários, oradores e jornalistas até Carcavelos, para a quarta edição do seu encontro anual de tecnológicas europeias. Os termómetros apontam 9 graus em Lisboa mas o sol já raiou e bate no vidro para dar as boas vindas às cerca de 130 empresas convidadas, oriundas de oito países. Entre as conversas ao longo da viagem não se ouvem outros idiomas além do Francês e do Inglês. Mesmo antes de o autocarro parar à porta da Nova SBE, alguém confessa ao companheiro de banco: “Abri o meu negócio aos 17 anos”.
Afinal, por que nasceu o campus TechShare? “Reparámos que havia muito trabalho a ser feito pré-IPO (Initial Public Offer – oferta pública inicial) com os modelos de negócio tecnológicos porque, naturalmente, no início, antes de se tornarem públicos, não têm muito dinheiro e não são muito rentáveis. Querem arranjar dinheiro para financiar as próximas fases de crescimento”, contou aos jornalistas Anthony Attia, CEO da Euronext Paris.
Segundo o Head of Listing deste grupo financeiro, geralmente, as empresas do ramo tecnológico – digitais e fintech mas também cleantech, medtech e ciências da vida – procuram investidores internacionais especializados e, muitas vezes, não os encontram. Anthony Attia afirmou que a Euronext tem procurado transmitir-lhes uma visão setorial. “Nos últimos anos temos feito muito para atrair pequenas e médias empresas e tecnológicas (…). Vemos os investidores a serem muito seletivos. Têm dinheiro mas são muito seletivos e cautelosos. Só têm sucesso os modelos de negócio fortes, que são compreensíveis”, explicou, exemplificando com as duas IPO de unicórnios que a Euronext teve em 2018, na Holanda e em França.
Desde o primeiro TechShare, quatro empresas optaram por um IPO. “A ideia não foi, de todo, convencer toda a gente a ir ao mercado. A ideia foi investir, com parceiros, na educação, para quando tomarem essa decisão – e se for positiva – já estarem preparados”, argumentou Anthony Attia. Ou seja, se decidirem seguir o caminho do mercado de capitais, todos os intervenientes no processo (empresários, investidores e assessores) podem ter um período de preparação neste campus.
Ainda assim, o responsável da Euronext mostrou-se adepto da diversidade e realçou que não há problema se as empresas não tiverem uma “abordagem passo-a-passo” para se financiarem, pois podem e devem decidir o que pretendem fazer para crescer. “Vemos muitas empresas que, antes da bolsa, estão tentadas a ‘tokenizar’ as suas ações e a usar as ICO [Initial Coin Offering – oferta inicial de moedas]. Essa pode ser uma terceira forma de angariar capital antes de se tornarem públicas. Por que não?”, questionou-se sobre o tema. E lançou também um concelho aos empreendedores: “Se o teu negócio é na Europa fica na Europa. Temos investidores suficientes” – i.e., só faz sentido voar para a bolsa de Nova Iorque e escolher o Nasdaq, por exemplo, quando os teus negócios estão lá. Portugal é também uma opção, de acordo com Anthony Attia. “Acreditamos que Portugal está numa posição e num ecossistema tecnológico muito vibrante para as startups. Também acreditamos que haja interesse para se tornarem públicas”, disse.
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Portuguesas Wine with Spirit, Viva Superstars, PICadvanced e Void Software foram a Carcavelos estudar hipóteses de financiamento
Antes dos workshops e sessões particulares agendadas para a tarde, quatro empresários sentaram-se connosco à varanda e contaram-nos a sua história, o que as levou a ser escolhido para estar neste encontro. A Wine with Spirit, a Viva Superstars, a PICadvanced e a Void Software operam em áreas diferentes e têm percursos e objetivos e crescimento igualmente distintos, mas todas quiseram absorver conhecimento e estudar novas oportunidades de financiamento – e garantem: a Euronext não pretende fazer-lhes ‘lavagens cerebrais’.
Clara Niza, acionista e diretora financeira, logística e administrativa da Wine with Spirit, é um dos rostos por trás desta produtora nacional de vinhos, que criou o conceito de “enotainment” (enologia + entretenimento) e uma plataforma de distribuição global designada “Lyfetaste”. Responsável por comercializar vinhos como o “Bastardô!” ou o “Bread & Cheese” – sobretudo para o Japão, Estados Unidos e Canadá – a empresa quer agora arrecadar entre 1,5 e 2 milhões de euros para ‘embeber’ outros mercados europeus e investir em tecnologia.
A organização espera que o número de participantes no TechShare cresça no próximo ano, sobretudo porque irá tentar conquistar empresas irlandesas. “Com o Brexit, podemos atrair ainda mais empresas com sede no Reino Unido”, sublinhou Anthony Attia, CEO de Paris e Head of Listing da Euronext.
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