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Europa deve preparar-se para nova investida de Trump contra o bilateralismo, destacam alemães

O influente instituto germânico IFO aconselha a União Europeia a ‘desalinhar’ com os Estados Unidos e a preocupar-se com as suas próprias prioridades. E a voltar a olhar para a China.
21 Março 2024, 09h23

Os europeus devem fazer mais pela sua própria força económica e tratar de largar as ‘amarras’ que a prendem à dependência face aos Estados Unidos. É o que recomenda Clemens Fuest, presidente desde 2016 do poderoso instituto germânico IFO – que analisa em tempo real a economia em estreita cooperação com a Ludwig-Maximilians-Universitat (LMU) de Munique.

“Se a segurança e a prosperidade da Europa dependem sobretudo do resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos, então estamos a cometer erros fundamentais”, escreve Fuest numa nova declaração do IFO inscrita no seu site oficial. Este reforço deve ser uma questão central das eleições europeias de junho de 2024, diz ainda, e da política da próxima Comissão Europeia. “Isso inclui defender a ordem internacional baseada em regras com parceiros, sempre que possível”.

Para o analista, “a Europa tem apenas uma preocupação limitada com as tarifas de importação anunciadas de um possível governo Trump. Desta vez, também devem atingir as exportações da Europa. No entanto, Trump também reduzirá os impostos novamente e aumentará a dívida nacional. Como resultado, as taxas de juro dos EUA subirão e o dólar apreciar-se-á. Isso, por sua vez, desencadeará uma atração de importações dos EUA”.

Ao mesmo tempo, aconselha, a União deve armar-se para o protecionismo da administração Trump e concluir o maior número possível de acordos comerciais com outros Estados e regiões. “Por exemplo, finalmente, com os Estados do Mercosul” – que esperam há duas décadas para que esse acordo seja conseguido, e que há uns meses atrás foi praticamente ‘enterrado’ pelo governo de França.

“A Europa também precisa de uma estratégia para a China, porque deve esperar pressão dos EUA para restringir ainda mais as relações económicas” com o antigo Império do Meio – o que “afetaria particularmente a Alemanha, que está mais envolvida na China do que outros países” da União Europeia.

O instituto recorda ainda que, durante o seu primeiro mandato, Donald Trump criticou os défices comerciais bilaterais dos EUA, particularmente com a China e a Alemanha. À época, muitos especialistas apontaram que esse foco nas balanças comerciais bilaterais era um absurdo. “Agora, Trump e os republicanos parecem olhar o comércio exterior como um todo. E querem aumentar as tarifas até que o défice do comércio exterior dos EUA desapareça completamente”, refere um research do instituto.

“Trump anunciou que planeia impor uma tarifa de 10% sobre todas as importações para os EUA e até 60% sobre as importações da China”. O objetivo é produzir mais bens e serviços nos EUA e criar mais empregos domésticos. Trump já havia introduzido tarifas de importação durante seu primeiro mandato, embora não de forma generalizada. “Isso não reduziu o défice do comércio exterior dos EUA, que foi de pouco menos de 3% do PIB da federação em todo o período de 2016 a 2020”, recorda a instituição germânica.

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