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Europa e os oceanos: da superpotência mundial à “desconexão emocional” dos europeus

O Oceanário de Lisboa recebeu esta segunda-feira a reapresentação do Pacto Europeu para o Oceano, da responsabilidade da Fundação Oceano Azul e do think tank Europe Jacques Delors. “Não podemos ter uma economia se não protegermos o capital natural em que assenta essa economia”, alertou Tiago Pitta e Cunha, administrador executivo da Fundação Oceano Azul.
3 Julho 2024, 09h30

O oceano deve estar no topo das prioridades da agenda da União Europeia, sempre acautelando a sustentabilidade conjugada com a justiça económica e social mas é preciso que a Europa ultrapasse a “desconexão emocional” que tem relativamente a este tema.

Estas foram algumas das conclusões da apresentação do manifesto para um Pacto Europeu para o Oceano, da responsabilidade da Fundação Oceano Azul e do think tank Europe Jacques Delors, que decorreu esta terça-feira do Oceanário de Lisboa e que contou com a presença de algumas individualidades ligadas a esta temática.

Esta reapresentação do manifesto acontece num contexto em que as autoridades europeias se preparam para confirmar as personalidades que irão liderar os órgãos europeus em Bruxelas assim como os eurodeputados que se preparam para tomar posse no Parlamento Europeu, em Estrasburgo.

Em jeito de balanço, Tiago Pitta e Cunha, administrador executivo da Fundação Oceano Azul (que já tinha referido ao JE no início da semana que a Europa tem todas as condições para ser uma superpotência europeia ao nível da economia azul e que Portugal tem tido um papel de liderança nessa matéria a nível continental), voltou a reafirmar a importância do tema no contexto do “Velho Continente”.

“É verdadeiramente transcendental o objetivo de chegarmos a 2030 com 30% do planeta protegido. Reduzimos de tal forma a natureza no planeta que se não conseguirmos essa massa crítica, deixaremos de ter sistemas de suporte de vida na Terra”, destacou ao JE.

Este responsável considera que “não podemos ter uma economia se não protegermos o capital natural em que assenta essa economia e portanto, há esta relação em que antes de termos o nosso capital comercial, financeiro, industrial temos que olhar para o capital natural”.

Assim, destaca Tiago Pitta e Cunha, “é importantíssimo que os decisores económicos compreendam que não é possível continuarmos por este caminho. Temos de pensar na ameaça tripla que o planeta sofre”.

“Enfrentamos uma guerra na Europa pelo que precisamos do oceano para a nossa defesa, segurança, geopolítica e geoestratégia. Temos que olhar para as pescas como um sector que tem de evoluir e apostar nas novas áreas, com programas de aceleração da biotecnologia azul e que incluem também os grandes grupos económicos”, realçou.

“Desconexão emocional” com os oceanos

Geneviève Pons, diretora-geral do think tank Institut Europe Jacques Delors, e Pascal Lamy, antigo comissário europeu que coordena alguns estudos na mesma instituição, marcaram presença em Lisboa e colocaram a tónica nos desafios que a Europa tem que ultrapassar para valorizar os oceanos.

A tunisina que preside ao think tank começou mesmo por uma apreciação relativamente ao distanciamento dos europeus relativamente a este tema, realçando que existe na Europa uma “desconexão emocional” com o oceano, “algo que é difícil para um português e para uma tunisina”, destacou. “Ignoram os benefícios e tudo o que o oceano nos dá. Temos que combater isso”, referiu.

Como plano de ação, a diretora-geral do Institut Europeu Jacques Delors considerou que “é preciso integrar o oceano nas questões climáticas” e que “para além de discursos e manifestos, temos de estar embrenhados na arena política”.

Para esta responsável, a transição verde, que deverá também ter em conta os oceanos, “tem que ter em conta a dimensão social e económica como aspetos indispensáveis para uma transição com justiça económica e social”. A concluir, deixou o repto: “Precisamos de um comité para os oceanos”.

Para o antigo comissário europeu, Pascal Lamy, “a sustentabilidade é um fator essencial para que o oceano esteja na agenda política”. Este coordenador referiu que será “necessária uma abordagem holística que defenda a sustentabilidade dos oceanos” sendo que o período pós-eleitoral “é essencial para definir as nossas prioridades”.

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