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Europeus vão eleger um Parlamento cada vez mais fragmentado

Partido Popular Europeu e Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas continuarão a ser as maiores forças no Parlamento Europeu, mas perdem muito peso para movimentos populistas e extremistas que pretendem combater a União Europeia bem dentro do seu coração.
21 Maio 2019, 17h55

Tal como acontece em vários parlamentos nacionais – os casos de Espanha e de Itália, mesmo que por razões diferentes, são paradigmáticos – o próximo Parlamento Europeu será, dizem as sondagens e os analistas, mais fragmentado que o atual e a própria consciência coletiva de uma Europa que quer seguir unida ficará esbatida, se não mesmo colocada em causa.

Isto porque os partidos eurocéticos e antieuropeus – como a Liga de Itália e o Partido Brexit do Reino Unido – tanto de extrema-direita como de extrema-esquerda, podem estar prestes a conseguir uma representação nunca antes alcançada. E, mesmo não sendo provável que os dois extremos do espectro parlamentar venham a ter um projeto comum de poder (ou de bloquearem o poder), o certo é que será, a partir do próximo domingo, bem mais difícil aos dois partidos do centro, que gerem o espaço comum desde que ele foi criado, conseguirem consensos para levarem por diante os seus programas eleitorais.

A crispação em torno da campanha eleitoral dá disso nota clara: um dos temas mais presentes em todos os debates é, por um lado, a grandeza a que chegarão os partidos eurocéticos e, por outro, qual é a forma eficaz de os combater – sendo certo que os próprios eurocéticos estreiam nestas eleições uma nova estratégia, explanada por Marine Le Pen, líder do Rassemblement National (antiga Frente Nacional): combater a União desde o seu interior e não apelando ao boicote eleitoral.

As sondagens para o Parlamento Europeu apontam para uma maioria de partidos pró-União Europeia – ainda não chegou a hora de se tornarem minoritários – mas todas elas convergem na evidência de que o euroceticismo ganha muito terreno em relação à composição que resultou das eleições de 2014. E o euroceticismo de extrema-direita tem agora um projeto comum.

Segundo números avançados por uma sondagem mandada fazer pelo próprio Parlamento Europeu, o maior grupo continuará a ser o do Partido Popular Europeu (PPE, onde se inclui o PSD, CDS e MPT), com 183 deputados — menos 34 lugares que os 217 conseguidos em 2014 e uma enorme erosão em relação aos 288 lugares que conseguiu nas eleições de 2009.

Em segundo ficará a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D, onde está o PS), que deverá atingir os 135 lugares, menos 51 que os 186 que conseguiram em 2014, sendo por isso o grupo político que sofre o maior desgaste ao fim destes cinco anos, apesar de a Comissão Europeia estar nas mãos do PPE.

Segue-se depois o grupo dos liberais, o ALDE, Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa, onde está o PDR de Marinho Pinto (que não deverá ser reeleito) e a Renaissance de Emmanuel Macron, que deverá crescer dos 68 para os 75 lugares.

Também a crescer está a aliança ENF, que junta vários partidos da extrema-direita e direita radical eurocética, como a Liga (Itália), os franceses da Ressamblement National, os holandeses do PVV e os austríacos do FPÖ. Partem dos 37 lugares atuais e esperam chegar, no mínimo aos 59. Logo a seguir deverá ficar o ECR, igualmente de tendência eurocética e de direita radical, que está, apesar de tudo, em queda: não deverá ir além dos 51 lugares, quando tinha 75 depois das eleições de 2014.

Surgem a seguir os Verdes/EFA (pró-união, ecologistas e alguns regionalistas), que deverão descer dos 52 para os 45 lugares. Movimento idêntico deve acontecer aos grupo GUE/NGL (extrema-esquerda e esquerda radical, onde estão vários partidos do euroceticismo de esquerda, como por exemplo a CDU e o Bloco de Esquerda), que deverá descer dos 52 para os 46 assentos.

O grupo EFDD, também de extrema-direita eurocética ou mesmo anti-europeísta, liderado pelo britânico Nigel Farage (agora no Partido Brexit) e onde está, entre outros, o Partido dos Verdadeiros Finlandeses, também está em crescimento: pode chegar aos 43 lugares, tendo agora 41.

Entre os 751 assentos parlamentares em jogo (maioria a partir de 376 lugares), deverá assim haver mais de 450 deputados provenientes de partidos pró-União, mas os eurocéticos (em diversos graus, entenda-se) já somam mais de 200, talvez se aproximem mesmo dos 250.

Mas parte deles já por lá anda há muito. Os que verdadeiramente preocupam as instituições europeias – que, recorde-se, tiveram sempre em vista a extrema-esquerda como a força potencialmente desestabilizadora do projeto europeu – são os 145 ou 150 lugares que serão ocupados pela extrema-direita anti-europeísta. E que serão monitorizados (é pelo menos essa a sua vontade) por Steve Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump e possivelmente também de Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, de Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro de Itália, e de Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, entre outros.

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