“Haverá um Estado palestiniano nos territórios que muitos israelitas acreditam que lhes pertencem. Se quisermos superar o ódio, as inseguranças, temos de estar preparados para abdicar de algo que foi nosso. Porque há uma causa superior: a paz. É algo superior ao vínculo emocional com uma parte do território”, sustentou o ex-primeiro-ministro de Israel (2006 e 2009), no Fórum La Toja — Vínculo Atlântico, que hoje termina na ilha de La Toja, na Galiza, Espanha.
“É possível” tomar decisões “que são o oposto a tudo quanto estivemos a defender” e quando um líder o faz, “isso muda a história, e eleva-a a novos níveis”, defendeu Olmert.
“Vamos continuar chocados pela forma como aconteceu tudo isto. Mas Israel é suficientemente forte, potente e capaz de tentar equilibrar, sem perdoar, o que lhe foi feito, tentando construir uma estratégia, um novo marco, para uma solução que assegure que não ficaremos presos num ciclo vicioso”, afirmou.
Olmert falava numa conversa com Samer Sinijlaw, ativista político palestiniano, subordinada ao tema Gaza: a paz é possível?.
O ativista defendeu que “não há outra opção que não seja a paz”, mas para isso “tem de haver uma mudança”.
“O mais importante para mim, como palestiniano, é celebrar eleições legislativas na Palestina. Se a Europa pode fazer alguma coisa pelo Médio Oriente é que haja eleições no Estado Palestiniano”.
Samer Sinijlaw observou que, “se houver mudanças de um lado, isso vai fazer com que também haja mudanças do outro lado”.
Para o ativista, um dos primeiros passos “para mudar a dinâmica da relação” entre Israel e a Palestina “é mudar a liderança”.
“Este conflito é sobre como pertencemos a ambos os lados. Esta história vai dar-nos um futuro comum”, disse.
Já o ex-primeiro-ministro perguntou quem acreditaria, no fim da 2.ª Guerra Mundial, “que França e Alemanha iam ser grandes aliados?”.
“Não acreditar é renunciar à força motriz mais importante para o ser humano, que é provocar mudanças. Estou convencido e convenço-me todos os dias de que isto é possível”, sustentou.
Olmert diz ainda obrigar-se diariamente a “manter vivo o sonho”.
“Se não sonhamos o que temos na cabeça? Só as dificuldades, os problemas, o ódio, os medos, os ciúmes. Os sonhos permitem voar acima dos problemas e das dificuldades, e passamos a uma nova esfera em que nos podemos convencer que as coisas se podem fazer e se hão de fazer”, defendeu.
“Se temos os sonhos e o desejo, então temos de dedicar-nos a lutar para o conseguir”, frisou.
Olmert observou que abordar a “questão emocional” ligada ao conflito entre Israel e a Palestina “é inevitável”.
“Fomos traumatizados de uma forma como nunca tínhamos sido antes [no ataque de outubro de 2023, quando o Hamas atingiu alvos civis]. Não se pode ignorar a questão emocional”, observou.
O mais simples, disse, “seria deixar que cada um se deixasse levar pela ira, pelo ódio, pelo desejo de vingança para sempre”.
“Mas em algum momento é preciso perguntar onde vamos com isto? Onde vou estar dentro de cinco, 10 ou 20 anos? Que vida estamos a oferecer, permanecendo capturados nesta ira, neste desejo de vingança?”, perguntou.
O diálogo decorreu sem grandes referências ao plano de paz proposto por Trump, depois de o movimento islamita palestiniano Hamas ter dito hoje que aceita alguns elementos do plano de paz do Presidente norte-americano e de Israel ter anunciado que se prepara para implementar o plano “de forma imediata”, embora o exército israelita continue a ofensiva na cidade de Gaza.
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