Uma questão premente da contemporaneidade é saber-se se a velocidade a que estamos a transformar o planeta, de forma a conseguirmos aumentar o consumo de bens e serviços, é sustentável. Ou seja: será que estamos a consumir demais? Depressa demais? Será que o planeta tem capacidade para absorver o lixo que produzimos? Será que vamos conseguir manter o ritmo de utilização das fontes energéticas?

A grande maioria das investigações científicas nesse domínio tem chegado a conclusões robustas: temos que abrandar. Caso contrário, rapidamente atingiremos um ponto de rotura em que, algo de abrupto, do ponto de vista ecológico, provocará esse mesmo abrandamento. Simultaneamente com o problema da sustentabilidade, é fundamental discutir-se em que medida a velocidade a que estamos a produzir (e a consumir) é a ideal do ponto de vista da felicidade mundial.

Também neste caso, a investigação científica tem concluído que os ganhos de bem-estar decorrentes do maior consumo (só possível com o ritmo de produção atual) não estão a ser suficientes para colmatar as perdas de felicidade resultantes do tempo de trabalho excessivo e da precariedade crescente que esse mesmo ritmo de produção e de mudança tem provocado.

A verdade é que vivemos com a maior abundância material da história da humanidade (nunca o PIB per capita mundial foi tão elevado), mas não podemos afirmar, categoricamente, que vivemos na época mais feliz de sempre. É que, apesar de produzirmos o suficiente para que nenhum ser humano passasse necessidades materiais (logo à partida, não passasse fome), a má distribuição dos recursos faz com que ainda existam milhões de pobres absolutos.

Depois, ainda subsistem inúmeras ditaduras (assumidas ou disfarçadas) e formas de organização social que condenam milhões ao ostracismo, à marginalização ou à exploração absolutas (por exemplo: as mulheres, certas castas ou etnias, pessoas com certas orientações sexuais ou posições ideológicas e religiosas).

Finalmente, esta era de prosperidade material sem precedentes convive com a desestruturação das famílias e do trabalho, o que, para além de mal-estar, provocou declínios perigosos nas taxas de natalidade, que invertem as pirâmides etárias e põem em causa a sustentabilidade social. Também por aqui o conselho será o mesmo: abrandemos.

Há, no entanto, um último argumento que poderia ser favorável à aceleração (ou ao não abrandamento) da produção: o progresso tecnológico tudo resolverá. É a ideia de que seremos capazes, em tempo útil, de construir as tecnologias que possibilitem ultrapassar todas as preocupações atrás levantadas (bactérias que destroem o lixo, árvores artificiais que absorvem o CO2, etc.).

Este argumento tem dois problemas: 1. Não resolve as questões sociais e de distribuição (são problemas de poder, não de tecnologia); 2. Muitos investigadores da área tecnológica estão preocupados com a chamada “singularidade”: aquele momento em que inventamos algo que, irreversivelmente, deixamos de conseguir controlar.

De tudo isto, parece-me sensato defender que, se queremos pensar nas gerações presentes e vindouras, devemos abrandar o processo de produção e alocar mais recursos na gestão dos problemas sociais e políticos, e sermos críticos na escolha de que liberdades estamos dispostos a abdicar em nome do consumo e de que liberdades estamos dispostos a entregar às tecnologias.