A inflação começou a dar “sinais de vida” na primavera de 2021. Nessa altura, como escrevemos aqui, o Banco Central Europeu (BCE) considerava que se tratava de um fenómeno temporário, mas que era importante evitar que se tornasse em algo mais estrutural.
Em maio de 2021, o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, aconselhava os governos e as empresas a não cederem à tentação de subirem pensões e salários de forma automática para evitar alimentar a inflação, sob pena de o BCE ter de subir taxas de juro.
O tempo passou e hoje sabemos mais coisas, desde logo que a inflação se instalou e atingiu máximos não vistos há décadas, alcançando os dois dígitos, obrigando o BCE a subir as taxas de juro.
Apesar de os salários nominais terem subido, os dados mostram de forma clara que os salários reais diminuíram consideravelmente, pelo que não estão a ser uma fonte de inflação.
Os governos, pressionados pelas dificuldades enfrentadas pelas populações, aproveitaram o espaço dos juros reais baixos e impostos nominais altos e refugiaram-se em políticas de subsidiação, essas sim, inflacionistas.
Uma das fontes de inflação mais evidentes tem sido a designada “expansão de margens” que, numa linguagem mais prosaica, poderemos chamar de “subidas dos lucros” das empresas com mais poder de mercado.
Aproveitando um ambiente geral de inflação alta, no qual os consumidores já não se surpreendem tanto com preços a aumentar, muitas empresas escolheram por repassar para o mercado mais do que o aumento dos seus custos.
É claro que o mercado deve funcionar e não devem ser defendidos mecanismos de controlo de preços. Mas devemos exigir que se mantenham os mercados o mais concorrenciais possíveis, sem conluios entre participantes, abusos de poder dominante ou enviesamento político.
É fácil confundir “lucros excessivos” com economia de mercado, mas a resposta é precisamente a contrária. É absolutamente necessário defender o espaço concorrencial – essa é uma das verdadeiras funções do Estado.