As exportações chinesas cresceram quase o triplo do que projetava o mercado em março, mostrando indícios de uma antecipação de encomendas por parte dos importadores norte-americanos na antecâmara da entrada em vigor das tarifas ‘recíprocas’ de 145%. As exportações para os EUA cresceram menos do que as exportações totais, sendo que os países vizinhos do sul asiático, fortemente visados no anúncio inicial de Trump, foram os que registaram um maior aumento.
A China vendeu mais 12,4% ao resto do mundo em março do que no mesmo período do ano passado, um salto que fica muito acima dos 4,4% projetados pelo mercado e do avanço de 2,3% registado nos dois primeiros meses deste ano. Os EUA importaram, em termos homólogos, mais 8,8% em março, de acordo com os cálculos da Bloomberg, e mais 4,5% no primeiro trimestre, isto depois de janeiro e fevereiro terem registado um salto combinado de 2,3%.
Estes dados não foram afetados pelo anúncio de Trump de tarifas recíprocas à China (o único dos países visados no ‘Dia da Libertação’ que não viu uma suspensão de 90 dias nas barreiras alfandegárias), reforçando a ideia de que os importadores norte-americanos anteciparam encomendas face à provável agressividade comercial de Washington.
Desde então, a situação escalou rapidamente e ambos os países impõem agora tarifas acima de 100% ao outro – um cenário que, de acordo com a generalidade dos economistas, se traduz num embargo de facto, matando o comércio entre as duas maiores economias do mundo. Com isto em mente, a análise do banco ING projeta que “os dados do próximo mês contarão uma história diferente”.
As exportações chinesas, além dos bens isentados por Trump (smartphones, computadores e outro equipamento eletrónico), “irão agora ser submetidas a testes no mundo real de elasticidade de preço”, sendo que, “com as atuais tarifas, a maioria dos produtos com alternativas viáveis será descontinuada”. Tal já se verificou na leitura de março, com a queda de 11,2% no calçado e de 1,9% no vestuário.
Por outro lado, “mesmo produtos sem alternativas viáveis deverão registar uma queda”, algo já observável, por exemplo, nas importações dos EUA de terras raras. Pequim impôs uma série de controlos à exportação destas matérias-primas em resposta às tarifas de Trump, e março trouxe logo uma contração de 10,9% nas vendas ao exterior destas commodities.
A Europa, por sua vez, registou um avanço abaixo do indicador nominal, com as exportações chinesas para o Velho Continente a crescerem apenas 3,7%. Em sentido contrário, os países do bloco da ASEAN, o maior destino das exportações chinesas, viram um forte disparo de 8,1%. Recorde-se que estes países foram inicialmente visados em força por Trump, que decretou tarifas acima de 30% para o Vietname, Indonésia ou Tailândia, vizinhos da República Popular da China, com quem Pequim tentará ganhar alguma quota dada a postura dos EUA.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com