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Exportações portuguesas disparam 32% em setembro

Os exportadores nacionais tiveram um desempenho notável em setembro. Mesmo assim, no acumulado dos nove primeiros meses, ainda perdem 12,7%.
22 Novembro 2020, 19h00

Setembro surpreendeu quem estava à espera de uma reação lenta das empresas exportadoras, temendo que permanecessem entorpecidas pela crise da pandemia de Covid-19. Mas o crescimento das exportações em setembro evidencia a resposta imediata dos exportadores portugueses, com um disparo notório por parte dos produtores de componentes automóveis, dos produtos agroalimentares, e de setores de muito alta tecnologia, embora em valores acumulados, de janeiro a setembro, inferiores aos do período homólogo do ano passado.

É neste contexto que avançará na próxima semana mais uma edição do certame “Portugal Exportador”. Elencando as “estrelas” das exportações em setembro, destaca-se o bom desempenho dos produtos farmacêuticos – neste caso, já era aguardado –, que levou estas exportações a crescerem 10% em termos homólogos, aumentando 80,8 milhões de euros em valor, com o que passaram para 887,7 milhões de euros, segundo dados da Aicep Portugal Global, que reportam valores do INE.

As bebidas e produtos alcoólicos cresceram 0,4% em termos homólogos e as exportações de frutas cresceram 13%, também em termos homólogos nos nove primeiros meses de 2020. Os artefactos têxteis aumentaram 17,4%; os produtos hortícolas aumentaram 6,2%; os peixes e crustáceos 10,9%; as carnes e miudezas aumentaram 16,7% (destacando-se os produtos exportados para a China); os açucares cresceram 43,3%; os químicos aumentaram 19,3%; as sementes, grãos e frutos diversos registam um crescimento de exportações de 29,7% no acumulado de janeiro a setembro, embora o total das exportações de produtos realizadas nos nove primeiros meses de 2020, registe uma redução homóloga de -12,7%, que, note-se, é inferior a várias previsões feitas por economistas e organizações empresariais.

 

Cluster dos componentes automóveis cresce 9,4%
No caso específico do cluster da AFIA – Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel, a variação homóloga mensal das exportações de componentes para automóveis registada em setembro foi positiva, crescendo 9,4%, sendo este o terceiro mês consecutivo de subida, depois de ter aumentado 3,1% em agosto e 1,4% em julho, segundo dados referidos ao JE.

Esta evolução evidencia um grande contraste com as quebras de -76,4% registadas em abril, ou os -57% de maio e os -8,4% de junho. Mais: a AFIA refere que o valor total de componentes automóveis exportado em setembro de 2020, que ascendeu a 947 milhões de euros, é mesmo o mais elevado de sempre para o nono mês do ano, bastante acima dos 866 milhões de euros exportados em setembro de 2019, ou dos 801 milhões de euros exportados em 2018.

É certo que no acumulado de janeiro a setembro de 2020, as exportações de componentes automóveis ficaram-se pelos 6,1 mil milhões de euros, o que, segundo a AFIA, representa uma diminuição de -16,3% face ao período homólogo de 2019, o que significa que nos nove primeiros meses deste ano as vendas ao exterior diminuíram cerca de 1,2 mil milhões de euros, face a 2019, quando já totalizavam 7,26 mil milhões de euros.

 

Espanha reforça liderança
Espanha é o maior mercado de destino das exportações de componentes automóveis de janeiro a setembro de 2020, com 1,8 mil milhões de euros (menos 5,2% que em igual período de 2019), seguindo-se a Alemanha com 1,3 mil milhões de euros (menos 14,5%), a França com 719 milhões de euros (menos 30,3%) e o Reino Unido, com 419 milhões de euros (menos 34,1% em termos homólogos).

Segundo dados da Aicep Portugal Global, de janeiro a setembro de 2020, um total de 71,6% das exportações portuguesas tiveram como destino a União Europeia. Apenas 28,4% foram para fora da União Europeia (em igual período de 2019 as exportações para fora da UE eram superiores, captando 29,1% do total).

Espanha reforça a primeira posição nos mercados de destino das exportações portuguesas, recebendo 25,3% dos nossos produtos (nos nove primeiros meses de 2019 recebera 24,6% do total exportado). França está em segundo lugar, com 13,7% do total exportado, a Alemanha em terceiro com 12,1%, o Reino Unido em quarto lugar com 5,5%, os EUA em quinto lugar com 5,1%, a Itália em sexto (4,3%), os países baixos em sétimo (3,8%), a Bélgica em oitavo (2,4%), Angola em nono (1,7%) e a Polónia em décimo lugar (1,3% das exportações portuguesas).

 

Aicep aplaude exportadores
A rápida capacidade de resposta dos exportadores portugueses foi aplaudida pelo presidente da Aicep Portugal Global, Luís Castro Henriques, que explicou ao JE (ver páginas 6 e 7), em entrevista ao programa “Primeira Pessoa”, da plataforma JE TV, os últimos dados das exportações portuguesas, referentes a setembro.

“Temos de olhar sempre para dois números. Há um número imediato, que reflete a evolução em cadeia, e que mostra que as exportações cresceram 32%, mas, como é óbvio, isso é um valor que só mostra que há quem esteja a conseguir vender mais para regressar ao normal”, refere o presidente da Aicep. Porque, diz, “este é um ano em que estamos sempre a combater o embate que tivemos no segundo trimestre”.

Mas, em termos agregados, “que é o primeiro dado que nos suscita sempre atenção, e que reflete o que aconteceu de janeiro a setembro, neste período, as exportações estão a cair 12,7%”, adianta Castro Henriques [no total das saídas ‘fob – free on board’, embora as exportações fob, para países terceiros, tenham registado uma queda de 14,7% em termos homólogos de janeiro a setembro].

“Isto significa que a curva das exportações está a começar a cair em linha com o que se prevê para o final do ano ao nível da queda do PIB”, considera o presidente da agência Aicep, sublinhando que “as exportações são uma série mais volátil do que a série do PIB”.

 

Brilhante Dias está otimista
Também para o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias – que detalha a evolução das exportações de janeiro a setembro de 2020 na edição do JE da próxima semana, no Especial Portugal Exportador –, faz uma leitura otimista sobre os dados de setembro.

Brilhante Dias explica que “a estratégia do Governo foi desde o início procurar limitar o efeito conjuntural nos elementos mais estruturais do setor exportador, portanto o objetivo nuclear da política do Governo é fazer com que o setor exportador ultrapasse este momento e que esteja preparado para a reativação da atividade económica, assim que ela se dê”.

“Aquilo que aconteceu em março, abril e maio foi particularmente negativo porque o confinamento gerou uma diminuição brutal muito acentuada da procura. Portanto, todas as medidas que o Governo tem vindo a tomar são medidas de proteção do setor exportador, aquilo que nos apraz registar – fazendo já aqui uma diferença para o setor dos serviços, falando essencialmente do turismo e do transporte aéreo, ambos afetados pela incerteza existente junto das populações que fazem turismo e que habitualmente viajam –, a verdade é que o setor de bens conseguiu retomar a sua atividade logo a partir de junho, aproximando-se ao período homólogo”, diz.

“Em setembro foi possível verificar que no conjunto das exportações de bens temos do ponto de vista global um ligeiro decréscimo de 0,4% mas se excluirmos os combustíveis, a verdade é que as exportações estavam a aumentar ligeiramente 0,2% em setembro 2020, em termos homólogos”, refere o secretário de Estado.

“É evidente que o acumulado do ano continua a ter um decréscimo em torno dos 14%, mas que é um decréscimo que tem vindo a ser mitigado e que está muito associado àqueles meses em que o decréscimo das exportações foi da ordem dos 40%, portanto temos vindo a recuperar do período de confinamento”, refere Brilhante Dias.

“Aquilo que para nós é muito importante, é perceber que quando a procura regressa a alguma normalidade, ainda que fortemente condicionada pelas medidas de confinamento e de diminuição da mobilidade, as nossas exportações de bens conseguiram reagir bem e reagiram para patamares equivalentes àqueles que tinham o ano passado, no caso de setembro, sendo que em agosto a diminuição das exportações já tinha sido muito ligeira – comparando agosto 20 com agosto 19, a diminuição das exportações já tinha sido de -1,4%, portanto, o valor já era bastante aproximado”, comenta Eurico Brilhante Dias.

No entanto, o secretário de Estado lança um alerta em relação aos novos dados da Covid-19 e às medidas de combate à pandemia que têm vindo a ser tomadas, “que fazem com que as exportações possam vir a sofrer mais porque as medidas de confinamento que vamos conhecendo em toda a Europa são medidas que, não regressando ao confinamento geral que vivemos em março e abril, são medidas que se vêm traduzindo em diminuição da mobilidade e é normal que isso se repercuta na evolução das exportações”.

 

Governo aprova 750 milhões de euros para o setor exportador
Nesse sentido, Brilhante Dias refere que “o Governo já avançou já com outros instrumentos: na semana passada, em particular no quadro do último Conselho de Ministros, foi aprovada uma linha de 750 milhões de euros especificamente para o setor exportador”.

Sobre datas de retoma pós-Covid, o secretário de Estado da Internacionalização refere que “grande parte da atual incerteza diz respeito ao facto das pessoas não terem um nível de certeza mínimo quanto à normalidade da sua vida. Isso afeta muito a mobilidade, o transporte e o turismo. Estamos a falar de segurança e da mobilidade das pessoas. Acho que continuamos muito colados à confiança de termos uma vacina ou um medicamento. Quanto à vacina, temos tido boas notícias esta semana. Acreditamos que 2021 pode ser um momento em que podemos começar a ter uma vacina e que pelo menos essa vacina chegue à população mais vulnerável. Para o turismo e para o transporte aéreo isso é um elemento central. Portugal, para continuar a crescer nas exportações de bens e de serviços e no PIB, precisa do regresso do turismo. Nessa medida, penso que 2021, se for um ano com boas notícias quanto à vacina, é seguramente um ano que também poderá ser importante para a retoma progressiva do turismo. Se assim for, creio que 2022 e 2023 poderão ser anos melhores, sendo já 2021 um ano de recuperação, mas evidentemente continuamos fortemente a depender da vacina”.

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