Drásticos e devastadores, os dados económicos referentes a 2020 que se vão conhecendo a menos de 80 dias do final do ano dão conta de um défice reajustado para – 8,1% do PIB, com a dívida pública a disparar para 134% da riqueza nacional criada. E se o Estado, ou seja, todos nós, se encontra nesta situação, como estarão as nossas empresas e as nossas famílias? Como estarão a resistir ao atraso dos apoios à economia real? Com grandes dificuldades.

Neste contexto de crise e sem medidas de apoio expressivas e eficazes por parte do Estado e das instituições, as empresas portuguesas têm sobrevivido a custo, à espera de condições efetivas que lhes permitam sair da depressão económica. Estas empresas, que criam valor, riqueza, retribuição salarial, emprego e receitas decorrentes dos (elevadíssimos) impostos que pagam, apenas querem manter os apoios criados no quadro da pandemia, como são as moratórias e as linhas de financiamento, leia-se endividamento.

O reflexo deste triste diagnóstico reflete-se e muito nos números ontem conhecidos da queda abruta da balança externa, que mergulha ao longo do ano de forma vertiginosa, em território negativo, e que é explicada por um forte agravamento da balança de bens e serviços, que se estima atingir -1,9% do PIB. Importa registar que nem tudo se deve ao decréscimo muito acentuado do turismo, tanto na fase recessiva como na (muito lenta) recuperação que de forma resiliente o mundo empresarial tem efetuado.

Os reflexos na procura externa líquida são arrasadores, com as exportações (-19,5% face a 2019) a diminuir mais intensamente do que as importações (-12,4%), o que agrava e muito o fosso (uma previsão de +7%) para o crescimento da procura externa líquida para o crescimento da economia.

E desta forma se interrompe o ciclo da última década e desde a intervenção externa do início da década passada, em que Portugal viveu sem desequilíbrio externo, no que respeita à perda de capacidade líquida de financiamento da nossa economia, onde passamos novamente a ter necessidades liquidas de financiamento, no valor de 0,6% do PIB.

Portugal precisa de emagrecer o peso do comércio mundial entre nós, e as iniciativas governativas de apoio às empresas devem concentrar-se nas exportações e na internacionalização das organizações, pois também temos a noção de que muitas delas tem experiências exportadoras muito descontínuas e sem capacidade de consolidação, principalmente no que se refere às micro, pequenas e médias empresas. E este é um quadro que deve ser encarado e combatido, para que aconteçam mudanças. Igualmente decisiva é a aposta na capacidade de atrair investimento estrangeiro, que no corrente ano se estima ter diminuído em 25% (de 1,2 mil milhões em 2019 para 900 milhões em 2020).

Para se tornar forte e competitiva, a economia nacional necessita de financiamento – o que não deve significar mais endividamento – e é urgente criar mecanismos de capitalização empresarial, conseguindo encarar este momento como uma oportunidade que não pode ser perdida, tal como a bazuca europeia de apoio à recuperação que está a chegar a Portugal. Este é o momento de ajudar quem não morreu da doença, mas que precisa dos milhões para não padecer da cura.