O ensino superior português enfrenta hoje desafios profundos, muito assentes nas eternas questões do financiamento, dos modelos de governação e da autonomia. Contudo, talvez o maior desafio e aquele que mais impacto (positivo) terá no futuro, seja a afirmação das nossas instituições num mundo cada vez mais globalizado, através de estratégias ambiciosas e de uma oferta de qualidade, capaz de atrair os melhores alunos, professores e investigadores.

Comecemos por simplificar. O “desenvolvimento de conhecimento e competências” é um serviço. Sem dúvida, um serviço cada vez mais procurado nas sociedades atuais, a nível global. O ensino dito superior fornece este serviço de um modo formal, “certificado”, com diplomas e graus académicos, que asseguram a credibilidade das aprendizagens no meio académico/científico e profissional. Pergunta: com a nossa atratividade enquanto país, não poderemos encarar o ensino superior como um grande setor exportador para um vasto universo de clientes e consumidores?

Em boa verdade, isso já acontece, se bem que numa escala reduzida, muito aquém das nossas possibilidades. No início do ano, havia em Portugal cerca de 34 mil estudantes estrangeiros inscritos no ensino superior (o dobro em relação há cinco anos), gerando centenas de milhões de euros de receitas diretas e indiretas.

Não é preciso fazer uma análise prospetiva de mercado muito exaustiva para concluir que o potencial crescimento é enorme, podendo triplicar ou quadruplicar rapidamente com estratégias de transformação (interna) e de promoção (externa). Mercados como o Brasil e restante América Latina, África lusófona ou Europa central e de leste merecem ser explorados.

Muitos países fazem destas aposta uma verdadeira estratégia nacional. A Austrália, por exemplo, é um fantástico polo de atração, conseguindo anualmente centenas de milhares de estudantes que deixam no país milhares de milhões de dólares. Portugal poderá, no contexto europeu, ser um país com um posicionamento similar.

O que fazer? Internamente, capacitar as nossas instituições em termos humanos e materiais, preparando ofertas formativas de excelência em língua inglesa, formando professores nacionais e facilitando também a contratação de professores estrangeiros. E, não menos importante, agilizar a autorização de vistos para estudantes estrangeiros e criar interfaces de informação que facilitem os respetivos processos de decisão. Externamente, promover o País e desenvolver marcas globais que sejam atrativas, como tem sido o caso do “The Lisbon MBA” ou a “Porto Business School”. E, paralelamente, promover projetos disruptivos como o novo campus da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), que há umas semanas começou a ser construído junto à Praia da Carcavelos.

Não tenho dúvidas que, com visão e ambição, este setor que muitos veem apenas como uma fonte de problemas, pode ser uma das áreas de sucesso do Portugal do século XXI.