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Fábrica de cimento da Cimpor é a primeira com rede privada 5G da Vodafone

A cimenteira e a operadora de telecomunicações assinaram esta segunda-feira um contrato a longo prazo, com a duração inicial de 10 anos, que inclui a instalação da tecnologia moderna ‘StandAlone’. É o primeiro acordo desta natureza em Portugal.
14 Outubro 2024, 12h07

A fábrica de cimento da Cimpor em Alhandra está a celebrar 130 anos e a modernizar-se para estar pronta para o próximo século – ou, pelo menos, para as próximas décadas de evolução. A cimenteira portuguesa assinou esta segunda-feira um contrato a dez anos (extensível) com a Vodafone Portugal para instalar uma rede privada de 5G “puro” nas suas várias unidades fabris.

A fábrica de Alhandra, a base de produção de cimento mais antiga do mundo, é a primeira a ter uma MPN – Mobile Private Network de 5G StandAlone (SA), a versão mais apurada da rede móvel de quinta geração, mas seguir-se-ão as fábricas de Souselas e Loulé.

O presidente do conselho de administração da Cimpor caracterizou a multinacional portuguesa como uma “empresa com visão de futuro”, porque tem, “consistentemente”, adotado novas tecnologias ao longo dos anos. “A qualidade, para nós, sempre foi uma prioridade de forma a entregar aos nossos clientes um produto de confiança”, afirmou o chairman da Cimpor.

Este projeto vai ser expandido ao longo dos próximos meses anos, de forma a incluir outras componentes do negócio da Cimpor além do cimento. “É apenas o início”, garantiu Suat Çalbiyik, acrescentando que, apesar de operar em 14 países, Portugal sempre teve um papel importante na inovação e enalteceu o “potencial” da tecnologia 5G.

Num discurso de agradecimento à Cimpor pela “confiança” ao assinar este contrato com a Vodafone, o CEO da operadora de telecomunicações garantiu que as duas empresas vão continuar a desenvolver novos casos de uso (use cases). Os parceiros tecnológicos são a alemã SAP e a sueca Ericsson.

“É muito inovador especialmente numa indústria com mais de 100 anos. Dá-me realmente uma enorme satisfação testemunhar o resultado de tantas equipas de trabalho árduo em colaboração. Esta é realmente uma spring [mola impulsionadora] para fazer avançar a digitalização na indústria, uma vez que a adoção de redes 5G representa um novo capítulo. Muitas indústrias começaram mesmo a repensar a forma como operam”, comentou Luís Lopes, na cerimónia de assinatura do acordo, que se realizou esta manhã na sede da Cimpor, em Lisboa.

O diretor de Tecnologia da Cimpor apresentou as razões pelas quais a empresa sentiu necessidade de fazer este investimento, nomeadamente o facto de a indústria cimenteira não ser apenas intensiva em energia, mas também em dados e a recolha de dados disponíveis ser um desafio devido às condições físicas e operacionais.

Porém, o Chief Technology Officer (CTO) considera que há “vários potenciais escondidos de eficiência, produtividade e sustentabilidade”, que têm requisitos de transmissão de dados a alta velocidade, sem cabos e de baixa latência (sensores sofisticados, computação de ponta, drones, streaming de vídeos em alta definição…). Este avanço tecnológico permite obter revisões de qualidade do cimento fabricado com elevada precisão sem ser necessário esperar 28 dias, além de dar visibilidade total da planta, fazer previsões de processos e emissões ou manutenção ativa e prescritiva, de acordo com Berkan Fidan.

O CTO da cimenteira deixou ainda um alerta sobre as consequências para o cumprimento das métricas de sustentabilidade ambiental: basta 1% de poupança consolidada para se conseguir uma redução de 140 mil toneladas de CO2 por ano, o que equivale à absorção anual de 6,5 milhões de árvores.

Para se ter uma noção mais precisa desta parceria, envolve cerca de 10 mil sensores em 19 fábricas em três continentes, 50 antenas, drones para medir níveis de stocks e câmaras térmicas com capacidade de monitorização em tempo real. A estratégia no longo prazo com a Vodafone passa ainda pela utilização de óculos inteligentes com funcionalidades de streaming em vídeo dentro das fábricas. O CTO reconheceu que, internamente, as fábricas têm alguns desafios de conectividade (Wi-Fi), daí ser preciso fazer um elevado investimento na rede móvel.

A MPN da Cimpor é uma espécie de primogénita em Portugal para a telecom, porque, apesar de a Vodafone já trabalhar com 5G na indústria ou infraestruturaras críticas até agora foram instalações específicas ou testes-pilotos. Ou seja, não um contrato de instalação desta natureza e longevidade. Referimo-nos, por exemplo, à barragem da EDP em Castelo do Bode ou ao Porto de Aveiro.

O que o 5G SA?

É uma versão do 5G assente em infraestruturas construídas de raiz, que promete velocidades muito mais elevadas, latência ultrabaixa, maior fiabilidade e segurança. Dado serem totalmente independentes da rede 4G, elas irão alargar o leque de possibilidades do 5G – de veículos autónomos a sensores de monitorização de edifícios, de smartphones a semáforos inteligentes ligados em simultâneo. E, uma vez que são cloud native, as redes autónomas podem ainda ser atualizadas e geridas muito mais facilmente – Portal 5G da Anacom – Autoridade Nacional de Comunicações

A MPN nasce de uma característica do 5G que é poder-se “fatiar” partes da rede (slicing) para determinados objetivos, sobretudo de segurança, que as empresas tenham. A média de velocidade do 5G SA para carregamentos (upload ) está nos 200 Mbps (megabits por segundo) e a de descarregamentos (download) 1000 Mbps. A latência (“demora”) ultrabaixa disponibilizada pelo 5G SA, inferior a 10 milissegundos (ms), melhora aplicações que requerem interação em tempo real, nomeadamente de realidade aumentada/virtual, jogos eletrónicos ou mesmo o controlo remoto de aparelhos, nomeadamente ecografias ou raio-X.

Notícia atualizada

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