Quase um terço das maiores fábricas europeias automóveis dos cinco maiores produtores europeus – BMW, Mercedes-Benz, Stellantis, Renault e VW – estão a produzir (muito) abaixo da sua capacidade, menos de 50%.
A indústria automóvel europeia está numa encruzilhada: o carro elétrico vai ou não ser o futuro? Vai haver procura suficiente para o investimento que vai ser necessário? As vendas dos elétricos vão aguentar sem subsídios? Os térmicos vão continuar a ser o futuro? Mas e a data de 2035 que prevê o fim de vendas de térmicos na União Europeia?
Curiosamente, nenhuma destas fábricas situa-se nem em Portugal nem em Espanha, estando concentradas em Itália, França, Bélgica, Alemanha e Polónia. A Autoeuropa, a joia da coroa da indústria automóvel portuguesa, surge bem colocada.
Os dados foram revelados pela “Bloomberg” a partir de informação da “Just Auto”. A agência destaca que a utilização de uma fábrica abaixo de 50% deverá estar a provocar perdas.
O tema não é fácil de lidar pelas autoridades europeias, pois implica muitos postos de trabalho: quase 14 milhões entre postos diretos e indiretos, mais de 6% do emprego total na UE, e mais de 8% do emprego na indústria.
As vendas demonstram o problema: um total de 3 milhões de veículos vendidos por ano na Europa, ainda abaixo de níveis pré-pandémicos, menos dois milhões face ao seu pico.
Esta semana, a Volkswagen anunciou que os trabalhadores das suas fábricas alemãs iriam deixar de gozar de proteção a que tiveram direito nas últimas três décadas: quando a empresa precisava de reduzir custos, os despedimentos de trabalhadores tinham sempre lugar fora da Alemanha. A proteção deveria terminar em 2029, mas a garantia vai agora expirar a meio de 2025. A marca de Wolfsburgo perdeu vendas anuais de 500 mil veículos, o equivalente a duas fábricas.
Também a alemã BMW avisou na terça-feira que os seus lucros este ano vão ser afetados, face à previsão, devido a problemas com componentes, que vai levar a um ‘recall’, e uma procura mais fraca na Europa.
“Existe uma pressão massiva para consolidação” no sector automóvel europeu. “Fábricas ineficientes serão valorizadas, e vão haver outro tipo de fábricas que vão ser encerradas”, disse à “Bloomberg” Fabian Brandt da Oliver Wyman.
Já o analista Matthias Schmidt destaca que “mais fabricantes estão a lutar por mais pedaços de uma tarte pequena. Algumas fábricas vão mesmo ter que fechar”. Os produtores “vão querer fechar algumas fábricas para cortar custos e tornarem-se mais competitivos. O desafio vão ser os sindicatos”.
Além dos sindicatos, os políticos e os governos europeus não vão ficar contentes com os eventuais encerramentos. Além dos despedimentos, os governos atribuíram subsídios e regimes fiscais vantajosos para receberem estes investimentos.
Os planos da VW para encerrar fábricas terão de ser aprovados por um conselho de supervisão onde políticos regionais e sindicalistas detêm o maior número dos assentos. Já o Governo francês detém uma fatia de 15% na Renault. Em Itália, o executivo de Giorgia Meloni está pouco satisfeito com a ideia de a Stellantis fechar fábricas para as mover para países com custos de produção mais baratos.
A Volkswagen recuperou bem a sua produção após a pandemia, mas tem muitas fábricas, devido a anos de compras de várias marcas: a Skoda na Chéquia, a Bentley no Reino Unido e a Lamborghini em Itália. Há dois anos anunciou o lançamento de uma versão elétrica do clássico Carocha, mas desistiu do projeto este ano,, com os recuos nas vendas.
Já o português Carlos Tavares também vive tempos conturbados na Stellantis que registou uma queda de quase 50% nos lucros no primeiro semestre, com a queda nas vendas na Europa e EUA.
Por sua vez, a Renault está em dieta há alguns anos, e este mês o seu CEO Luca de Meo disse que o nível de produção global está nos 90% e que está a contratar.
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