O Congresso da APDC vai decorrer nos dias 1 e 2 de julho, no Auditório da Culturgest, em Lisboa. Com o tema “Science & Business: Working Together”, esta 34.ª edição pretende destacar a importância da colaboração entre ciência, tecnologia e empresas, que assume um papel essencial para impulsionar a inovação e o crescimento económico. Rogério Carapuça, presidente da APDC, explica em entrevista ao Jornal Económico (JE) o que falta às empresas portuguesas para deixarem de ser apenas consumidoras de inovação e passarem a liderar projetos científicos disruptivos a nível europeu ou global.
O tema de fundo do Congresso será “Science & Business: Working Together”, que sublinha a importância estratégica de reforçar a colaboração entre ciência, tecnologia e empresas. Num momento em que a Europa aposta fortemente na atração de talento, como é que Portugal pode aproveitar o êxodo de investigadores dos EUA?
A atração de talento, seja ele de que nacionalidade for – e até do talento nacional – faz-se essencialmente, numa economia pequena como a nossa, através dos vários centros de excelência que o país possui. Esses centros de excelência podem pertencer ao conjunto das instituições de ciência e tecnologia ou empresas, quer de origem nacional ou de empresas estrangeiras que operam em Portugal. São locais onde se faz um trabalho de excelência e de qualidade internacional em áreas como o trabalho de investigação, de desenvolvimento, de construção de produto ou de prestação de serviços.
Temos o prazer de ter este ano como presidente do nosso Congresso a Diretora Executiva do GIMM – Gulbenkian Institute for Molecular Medicine, a Professora Maria Manuel Mota, cientista e investigadora mundialmente conhecida. O GIMM é uma Instituição de referência dentre os centros de excelência nacionais e um dos nossos melhores exemplos. Mas no campo empresarial também temos empresas de excelência, em muitas áreas, incluindo nas TIC, sejam startups ou empresas maduras, que desenvolvem a partir de Portugal os seus negócios ou que localizam ativos importantes no país. É nestas organizações que o melhor talento quer estar, porque quer participar nos projetos mais aliciantes e desenvolver e pôr em prática o desígnio que cada um escolheu para as suas vidas profissionais.
Portugal tem vindo a atrair talento estrangeiro e a crescer no setor tecnológico. O que é que ainda falta para que as empresas portuguesas deixem de ser apenas consumidoras de inovação e passem também a liderar projetos científicos disruptivos a nível europeu ou global?
Falta-nos capacidade financeira em muitas das empresas. A inovação custa dinheiro e as nossas empresas são, em média, muito pequenas. A nossa economia é uma economia de microempresas. Segundo dados do INE, em 2022, a faturação média anual das empresas portuguesas — incluindo as de maior dimensão — foi de apenas 371 mil euros. Isto significa que, em média, cada empresa mal consegue suportar um ou dois salários competitivos. Já o grupo das mil maiores empresas portuguesas inclui todas as que faturam cerca de 40 milhões de euros por ano, o que é um valor baixíssimo. Acresce que os lucros líquidos das empresas portuguesas são pequenos, muito pequenos! A maior empresa holandesa e a maior empresa dinamarquesa, por exemplo, países com populações semelhantes ou menores do que o nosso, têm, cada uma delas, lucros líquidos anuais superiores a 15 mil milhões de euros. Portanto, maiores do que a soma dos lucros de todas as empresas portuguesas cotadas no PSI20!
É assim urgente acabar com todos os incentivos negativos que existem para o crescimento das empresas, como ao nível da fiscalidade. Se as empresas com mais lucros pagam uma taxa de IRC e derramas maiores, então o incentivo que se está a dar é que as empresas se mantenham sempre pequenas! Claro há exceções. Temos empresas que fazem e/ou participam em consórcios que desenvolvem projetos disruptivos de nível internacional. Mas para levar esses resultados para o mercado é preciso músculo financeiro, que muitas vezes não existe. Atrair grandes investidores internacionais é uma hipótese, mas neste caso as condições para desenvolver os negócios e os incentivos que são dados também são importantes. Os grandes investidores querem investir em geografias que tenham os incentivos certos.
Como é que a APDC olha para a Estratégia Digital Nacional que foi aprovada este ano. Que balanço faz?
Em geral, concordamos com os objetivos da Estratégia. A APDC apresentou em 2024 um documento a todos os grupos parlamentares com sugestões para o desenvolvimento do nosso setor e da economia em geral. Apresentou-o mais tarde ao XXIV Governo. Este ano, já atualizámos o documento e vimos agora, com satisfação, um bom alinhamento entre as nossas sugestões e o que está refletido no programa do novo governo. Estão até incluídas algumas sugestões em particular, como a adoção rápida e generalizada do chamado princípio ‘once only’, que estipula que os serviços do Estado não podem pedir aos cidadãos e às empresas informação que sobre eles já detém. A adoção desse princípio pouparia milhões de horas de trabalho por ano, que hoje são desperdiçadas a fornecer informação que é desnecessária.
Qual o papel das empresas no ecossistema de inovação nacional: estão a investir suficientemente em I&D ou continuam excessivamente dependentes de incentivos públicos e fundos europeus?
O investimento privado em I&D é ainda baixo, essencialmente pelas razões que são apontadas na sua pergunta 2. As que investem mais são exceções. Não há nenhum mal em aproveitar financiamentos públicos, desde que isso seja uma contribuição para projetos que são necessários e que não são “inventados” só para atrair incentivos públicos, sejam nacionais ou europeus.
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