A isenção do sumo de laranja brasileiro do pacote de tarifas dos EUA é a prova de que Donald Trump não tem toda a força necessária para prosseguir com a guerra comercial. A análise é de Paul Krugman, prémio Nobel da economia. E dificilmente poderia ser menos assertivo ao sinalizar as fragilidades daquele que acha que pode dominar o mundo com as tarifas e a disputa comercial.

O Brasil é a prova de que o republicano não tem a força que pensa para usar as taxas aduaneiras como instrumento de pressão política. Basta ver a exclusão do sumo de laranja brasileiro, responsável por 90% das importações americanas do produto, das tarifas de 50% anunciadas no início de agosto.

Como diz Krugman, esta isenção “é uma admissão implícita” de que, ao contrário do que reza Trump, são os consumidores americanos, e não os exportadores estrangeiros, que pagam as tarifas.

O mercado norte-americano importa 90% do que consome, sendo que o Brasil vende 88% das suas exportações a nações que não os EUA. Questiona-se assim a eficácia da estratégia de Trump, pois embora o mercado americano seja importante, este representa apenas 12% das exportações brasileiras.

Os números reforçam a jogada política clara no tabuleiro da guerra comercial com Lula, onde o governo dos EUA, que não gosta do que a Justiça desse país está a fazer, utiliza barreiras comerciais como instrumento de pressão para outros fins, mas não por razões económicas.

De facto, a legislação americana permite a imposição de tarifas temporárias em situações específicas — como proteção a indústrias estratégicas, práticas comerciais desleais ou emergências económicas. Nenhuma dessas justificações se aplica ao caso brasileiro, servindo apenas de ameaça para forçar grandes mudanças políticas no exterior. Sofre de ‘delírios de grandeza’, diz Krugman.

Tem razão. O seu delírio de poder sobre todo o planeta é a síntese da arrogância orientada para mandar no mundo, mas, como diz o economista, falta-lhe o sumo para usar tarifas para intimidar um país com mais de 200 milhões de habitantes a abandonar os seus esforços de defesa da democracia.

Trump põe a nu os limites do poder americano ao poupar o sumo de laranja, enquanto o café, que ele chama de “nutriente essencial”, não teve o mesmo privilégio.

“Vencer” uma guerra comercial seria usar tarifas para obter concessões significativas de outros países. Com as exceções de tarifas ao Brasil, que elevou para 50% a taxa sobre produtos como café, carnes, minerais, máquinas e aeronáutica, mas trouxe uma lista de 700 isenções nos setores aeronáutico, energético e parte do agronegócio, Trump simplesmente revela não ter a força necessária.

E será que a tem com outros grandes parceiros comerciais? Krugman acha que não e exemplifica com a UE, dizendo que o bloco europeu tem fingido fazer concessões ao republicano, com promessas económicas vazias ou que nunca serão cumpridas. Certo é que Bruxelas teve de se curvar e comprometer-se a pagar mais de 1,3 mil milhões de dólares em compras de energia e armamento americanos e em investimentos em solo americano.

A Europa endossou o cheque para pagar o preço pela estabilidade comercial. Mas ainda não pode suspirar de alívio, que nasce da impotência. Manter-se presa ao gigante americano é capitular e é também revelador de uma Europa “sem sumo”.