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Famílias desalojadas no Talude voltaram a dormir em tendas ou ao relento, diz deputado municipal da CDU

Em declarações à Lusa, Kedy Santos, deputado municipal da CDU em Loures e também elemento do movimento Vida Justa, referiu que “ainda há algumas crianças” entre as pessoas que estão desalojadas desde segunda-feira, dia em que a autarquia de Loures, liderada pelo Partido Socialista, coordenou a operação de demolição de 64 habitações precárias, onde vivem 161 pessoas.
Prédios para habitação própria, arendar, vender ou alugar no distrito de Lisboa, 31 de agosto de 2023. MIGUEL A. LOPES/LUSA
16 Julho 2025, 16h39

As famílias residentes no bairro do Talude Militar cujas casas foram mandadas demolir pela Câmara Municipal de Loures voltaram a dormir esta noite em tendas ou ao relento, relatou um deputado municipal, confirmando que a operação continua suspensa.

Em declarações à Lusa, Kedy Santos, deputado municipal da CDU em Loures e também elemento do movimento Vida Justa, referiu que “ainda há algumas crianças” entre as pessoas que estão desalojadas desde segunda-feira, dia em que a autarquia de Loures, liderada pelo Partido Socialista, coordenou a operação de demolição de 64 habitações precárias, onde vivem 161 pessoas.

Na segunda-feira, 51 foram demolidas, a que se somaram mais quatro na terça-feira, mas, entretanto, a operação foi suspensa, após ser conhecido um despacho do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa, que decretou a suspensão provisória das demolições, após uma providência cautelar interposta por moradores.

“Ontem [terça-feira] fiquei chocado… Vi uma mãe a dormir com crianças, de 14, 15 anos, em cima de um colchão, com o que sobrou da casa e à luz de um telemóvel”, contou Kedy Santos.

“Não sou contra ações para impedir a proliferação de barracas, mas não acho correto colocar as pessoas na rua sem solução”, sublinhou, considerando que a situação no Talude Militar “não é só responsabilidade do município, mas também do Estado”.

Porém, a autarquia de Loures “tem mecanismos que não está a aproveitar, para construção de habitação”, ressalvou.

Entretanto, o movimento Vida Justa lançou uma campanha de angariação de donativos, pedindo comida pronta, enlatados, fogões Campingaz, tendas e apoio para transporte de materiais. É igualmente possível fazer donativos monetários (para o NIB PT50 003502160008117423068).

“Já houve doações”, adiantou Kedy Santos, acrescentando que o Vida Justa está a apoiar as pessoas sobretudo com alimentação, roupa e tendas.

O deputado e ativista confirmou que as máquinas demolidoras continuam paradas e relatou que técnicos da autarquia de Loures estão no local “a intimidar as pessoas” para aceitarem os apoios sociais que lhes são oferecidos.

O executivo camarário garantiu que foi “prestado apoio alimentar e apresentada a possibilidade de a câmara assegurar o pagamento de um mês de caução e outro de renda, como apoio ao arrendamento no mercado habitacional”.

Acontece que, na opinião do Vida Justa, os apoios em causa são insuficientes, colocando nas pessoas o ónus de encontrarem uma casa. “Elas não vão encontrar, porque não há, a um preço que elas possam pagar”, antecipa.

Além disso, “as pessoas têm de sair para os trabalhos ou não querem deixar as suas coisas ao abandono”, para se dirigirem aos serviços da câmara. “Estas pessoas nem tempo para procurar casa têm”, relata.

Na terça-feira, a autarquia de Loures anunciou, em comunicado, que uma das 51 famílias do Talude Militar “foi encaminhada para um centro de acolhimento” e outras duas “para uma unidade hoteleira”.

Contactada hoje pela Lusa, fonte do município liderado por Ricardo Leão (PS) disse que, no primeiro dia, um casal com dois menores e uma família monoparental com um menor tiveram apoio para uma noite, estando em análise agora outras opções.

“A terceira família que ia ficar no centro de acolhimento e cujo apoio foi dado pelo ISS [Instituto da Segurança Social] acabou por recusar”, tendo regressado ao bairro, indicou.

Das 51 famílias que ocupavam as construções precárias entretanto demolidas, 24 deslocaram-se aos serviços sociais da câmara municipal, de acordo com a mesma fonte.

A autarquia de Loures reafirmou na terça-feira que “não pode nem aceitará que se consolide a perceção de que a construção de habitações precárias é uma resposta legítima” ao problema da habitação no concelho, onde a lista de espera para uma casa é atualmente de cerca de 1.000 pessoas.

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