A Reserva Federal cortou esta quarta-feira os juros diretores norte-americanos pela primeira vez desde 2020, optando por um corte ‘jumbo’ de 50 pontos base (p.b.) em linha com as expectativas do mercado, isto apesar de o consenso entre os analistas apontar para uma descida de apenas 25 pontos. E, olhando para as projeções do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC), os cortes não irão ficar por aqui.
Após a subida mais rápida dos juros em várias décadas até um máximo de 23 anos, os juros diretores estavam há mais de um ano no intervalo entre 5,25% e 5,5%, gerando cada vez mais expectativa entre os intervenientes de mercado quanto a um alívio na restritividade monetária. Com a descida anunciada esta quarta-feira, as taxas de referência caem assim para 4,75% e 5%, um alívio mais expressivo do que a generalidade dos analistas antecipava – apesar de nomes de peso como a JPMorgan terem ajustado a sua projeção para 50 p.b. na antecâmara da reunião de setembro.
Excluindo cortes de emergência causados pela pandemia, a última vez que a Fed havia descido os juros diretores em meio ponto percentual havia sido em 2008, fruto da crise financeira que se alastrava.
Jerome Powell, presidente da Fed, abriu a porta a reduções mais significativas no simpósio de verão do banco central em Jackson Hole, no Wyoming, quando praticamente garantiu um alívio da política monetária em setembro, mas também abordando o “ritmo” das descidas – uma linguagem interpretada pelos investidores como admitindo a possibilidade de cortes mais expressivos.
Ao mesmo tempo, Powell sublinhou que o banco central “não procura ou quer ver mais arrefecimento no mercado laboral”, que se tem vindo a tornar no foco da Fed nas últimas semanas. Recorde-se que a Fed, ao contrário, por exemplo, do seu homólogo europeu, tem um duplo mandato relacionado com a inflação e o pleno emprego.
Além da descida desta quinta-feira, a reunião da Fed resultou numa atualização das projeções macroeconómicas do banco central, onde a mediana das previsões individuais dos membros do FOMC aponta para uma taxa de 4,4% no final deste ano. É uma descida considerável em relação aos 5,1% projetados em junho (que teriam implicado um corte menos expressivo já nesta reunião) e que deixa a autoridade monetária norte-americana mais alinhada com as taxas de mercado.
Esta atualização corresponde ainda a mais cerca de 50 p.b. de descidas até final do ano, isto numa altura em que a Fed só se reunirá mais duas vezes, em outubro e em dezembro. Recorde-se que este foi também o último encontro de política monetária antes do ato eleitoral de novembro, sendo que o banco central já se viu pressionado pelo candidato republicano, o antigo presidente Trump, para não cortar taxas tão próximo das eleições.
Para 2025, o banco central antecipa mais 100 p.b. de cortes, seguidos de 70 p.b. em 2026. A taxa de longo-prazo foi revista em alta por 0,1 pontos percentuais (p.p.), ficando assim em 2,9%.
A pressão nos preços medida pelo índice de gastos pessoais de consumo (PCE) recuou de um pico de 7,1% em junho para 2,5% em quatro de sete leituras este ano, dando alguma confiança quanto à luta contra a inflação. Por outro lado, o desemprego, apesar de se manter em níveis historicamente baixos, tem vindo a subir desde o início do ano. De 3,7% no início deste ano, o indicador subiu até 4,3% em julho, igualando máximos de outubro de 2021.
A ideia de que a maior economia do mundo começa a mostrar fraquezas significativas e que deixam antecipar a possibilidade de uma recessão foi um dos principais motores desta mudança nas expectativas de mercado, que se inclinou mais para um corte de maior magnitude nas últimas semanas.
Olhando para a FedWatch Tool, do CMEGroup, as probabilidades implícitas de uma descida de 50 p.b. eram vistas há um mês como sendo de apenas 25%, tendo recuado ainda mais até há uma semana, quando estavam nuns meros 14%; nas horas antes do anúncio da decisão da Fed, o mercado estimava 65% de probabilidade a um corte desta magnitude.
[notícia atualizada às 19h22]
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