[weglot_switcher]

Fed deve resistir a pressões e manter juros inalterados em maio

A política comercial norte-americana tolda quaisquer perspetivas de curto prazo, revestindo a maior economia do mundo de incerteza e dificultando a tarefa da Fed, cada vez mais obrigada a escolher entre o crescimento e a inflação. Descidas de juros só mais para a frente – e até aí começam a surgir dúvidas entre os economistas.
FILE PHOTO: Federal Reserve Board Chairman Jerome Powell holds a news conference after Powell announced the Fed raised interest rates by three-quarters of a percentage point as part of their continuing efforts to combat inflation, following the Federal Open Market Committee meeting on interest rate policy in Washington, U.S., November 2, 2022. REUTERS/Elizabeth Frantz/File Photo
7 Maio 2025, 07h00

A Reserva Federal conclui esta quarta-feira a sua reunião de dois dias sobre política monetária, sendo altamente expectável que não haja alterações nos juros diretores da maior economia do mundo. A incerteza criada pelas tarifas de Trump coloca o banco central numa posição mais delicada, dado o risco de estagflação no país, mas nem isso, nem a pressão do presidente, devem resultar em qualquer alteração na postura monetária atual.

O mercado antecipa 97% de probabilidades de uma reunião sem alterações nas taxas de referência norte-americanas, de acordo com a ferramenta de monitorização das taxas implícitas de mercado do CME Group, a FedWatch Tool, sublinhando a quase certeza dos investidores e analistas quanto ao desfecho do encontro de maio. Os olhos dos agentes económicos estão voltados para as decisões após a reunião desta semana, sendo que o ziguezague de Trump na política comercial torna quaisquer previsões altamente incertas.

Segundo as expectativas de mercado, apenas em julho a Fed deverá voltar a cortar juros, sendo que a visão dominante atualmente passa por três descidas na segunda metade do ano. A Morningstar destaca, contudo, as questões levantadas por inúmeros economistas quanto a esta possibilidade, dado o “momento invulgar” da economia norte-americana.

“Desde que os representantes da Fed se reuniram, houve uma alteração sísmica nas perspetivas”, lê-se na nota da instituição sobre a reunião de maio do banco central dos EUA, sublinhando que “mesmo que as tarifas sejam mais baixas do que Trump ameaçou, isso irá abrandar o crescimento e aumentar a inflação”.

Esse é o dilema que os responsáveis de política monetária terão agora de enfrentar: crescimento fraco e inflação elevada. A isto, acresce a pressão política feita por Trump, que sugeriu várias vezes ter poderes para despedir o presidente da Fed, Jerome Powell, cuja postura tem criticado – sobretudo por não baixar as taxas.

“Devíamos baixá-las [taxas de juro]. E, a certo ponto, iremos baixá-las. Ele [Powell] prefere não o fazer porque não gosta de mim. Sabe, ele não gosta de mim porque é um perfeito totó”, afirmou o presidente este domingo em entrevista à NBC News, embora tenha ressalvado que não o irá afastar. “Porque é que faria isso? Vou poder substituí-lo em pouco tempo”, completou.

Para Paolo Zanghieri, economista sénior na Generali AM, “o mercado forçou o presidente Trump a recuar nas suas ameaças de despedir Powell, mas a pressão para mais cortes mantém-se”. Ainda assim, a Fed manterá a sua independência, projeta Zanghieri, podendo mesmo tomar uma postura mais hawkish para evitar ser vista como cedendo a quaisquer tipos de pressão vinda da classe política.

“Ainda assim, se a atual política tarifária se mantiver nos próximos meses, a Fed poderá ser forçada a intervir caso a economia se deteriore rapidamente”, contrapõe Michael Krautzberger, diretor de Investimento Global em Obrigações da Allianz Global Investors (Allianz GI).

Recorde-se que a economia norte-americana recuou em termos anualizados no primeiro trimestre, perdendo 0,3%, embora com forte impacto negativo das importações – muitas delas antecipadas como forma de evitar as tarifas iminentes. Em termos homólogos, o crescimento foi de 2%, o mais baixo desde o último trimestre de 2022.

A inflação também recuou em março, o mês para o qual existem dados mais recentes, embora ainda antes do anúncio de Trump de tarifas recíprocas a aplicar a um conjunto alargado de países. O índice de preços no consumidor (IPC) abrandou em termos homólogos pelo segundo mês consecutivo, caindo para 2,4%, enquanto o índice de gastos pessoais de consumo (PEC), o indicador de referência para a Fed, desceu de 2,7% em fevereiro para 2,3% em março.

Numa nota positiva, o mercado laboral continua a dar sinais de força, com 177 mil postos de trabalho criados em abril – um ligeiro recuo em relação aos 185 mil de março, mas bastante acima dos 130 mil projetados pelo mercado.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.