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Fed prepara-se para cortar juros pela primeira vez desde 2020

Os investidores dão como certo que os juros diretores da maior economia do mundo irão descer pela primeira vez desde a pandemia, mas dividem-se sobre a magnitude. O consenso dos analistas inclina-se para 25 pontos base, mas um corte de 50 pontos continua em cima da mesa naquela que será a última reunião antes das eleições de novembro.
Fed Jerome Powell Juros
18 Setembro 2024, 07h30

O mercado dá como praticamente garantido que esta quarta-feira trará a primeira descida nos juros diretores norte-americanos desde 2020, embora ainda se divida quanto à magnitude da mesma. Do lado dos analistas, o consenso passa por 25 pontos base (p.b.) de descida, naquela que será a última reunião de política monetária nos EUA antes das eleições de novembro – um evento do qual Jerome Powell procurou distanciar-se, mas ao qual a Fed não consegue escapar.

Há um mês, Powell tinha já garantido que a Reserva Federal é “apolítica” e cortaria juros em setembro, reforçando que não se deixará condicionar pelo calendário das presidenciais nos Estados Unidos. Foi a resposta do presidente do banco central norte-americano às criticas de Donald Trump que a Fed não deveria cortar juros antes das eleições a 5 de novembro.

Após a subida mais rápida dos juros em 40 anos, os EUA preparam-se para finalmente arrancar com a normalização da política monetária, uma decisão que os investidores vinham ansiando desde o final do ano passado. A inflação, o principal motor da restritividade declarada pela Fed, desceu de 6,4% em janeiro do ano passado para 3% em junho, deixando parte do mercado a antever um ciclo curto de taxas diretoras elevadas, mas só nas duas últimas leituras (julho e agosto) este nível foi novamente quebrado, mostrando a persistência da pressão nos preços.

A descida de juros em setembro foi sinalizada pelo presidente da Fed, Jerome Powell, no simpósio de verão do banco central em Jackson Hole, no Wyoming, embora sem qualquer indicação quanto à sua magnitude. A luta contra a inflação parece cada vez mais controlada e, com a vertente dos preços estabilizada, o mercado laboral e o crescimento são as novas preocupações dos decisores de política monetária, com alguma fraqueza deste lado a sugerir que a descida pode ser já de 50 p.b..

Os medos de uma recessão parecem, por enquanto, terem recuado, mas o sell-off causado pelos desapontantes números da criação de emprego em julho (associados ao fim do ‘carry trade’ com o yen japonês) fez com que o mercado colocasse seriamente a possibilidade de uma descida mais expressiva a arrancar o ciclo de cortes, refletindo também a visão de alguns investidores de que a Fed se começa a atrasar na retirada de restritividade da economia.

Ainda assim, os analistas convergem para uma descida de 25 p.b., apesar de reconhecerem que um corte maior não deve ser excluído.

“Apesar de acharmos que um corte de 50 p.b. seria uma precaução sensível contra a possibilidade de mais fraqueza laboral, a liderança da Fed tem comunicado uma função-reação suficientemente dovish para o mercado de obrigações incorporar um corte entre 25 e 50 p.b. para várias reuniões”, escrevem os analistas da Goldman Sachs, apontando a 25 p.b..

Já o gabinete de análise económica e financeira do ING prevê uma “decisão de cara ou coroa”. Os dados do retalho em agosto saíram acima do esperado, subindo 0,1% em cadeia contra uma queda projetada de 0,2%, o que indica que a maior economia do mundo não aparenta esta em apuros.

No entanto, os analistas do banco neerlandês concordam “que há argumentos para a Fed mover a postura para neutra rapidamente e esperamos que Powell defenda um corte de 50 p.b.”.

Apontando também a uma descida de 25 p.b., o Diretor de Investimento Global em Obrigações da Allianz Global Investors (Allianz GI), Michael Krautzberger, adianta que “não deve ser descartado um corte de 50 p.b., dado o recente abrandamento na atividade do mercado laboral e os comentários de responsáveis de política monetária da Fed sobre cortes antecipados nos juros”.

Última reunião antes das eleições

Certo é que esta será a última reunião da Fed antes das eleições de 5 de novembro, algo de que Powell já se procurou afastar, mas que é incontornável para qualquer presidente da Reserva Federal. Ambos os candidatos à Casa Branca já manifestaram visões opostas sobre a influência do poder executivo no banco central, com Powell a rejeitar quaisquer comentários, sublinhando que o papel da Fed não é político.

No seu jeito frequentemente polémico e afastando-se das normas presidenciais, o antigo presidente Trump considerou em julho que uma descida de juros tão próxima das eleições “é algo que eles [Fed] sabem que não deviam fazer”, renovando a pressão sobre o banco central e a política monetária norte-americana.

Esta foi mais uma tentativa de politizar o organismo, na linha das acusações de Trump à anterior presidente da Fed, Janet Yellen, na antecâmara das eleições de 2016. Mais recentemente, e apesar de garantir que, caso fosse eleito, deixaria Powell terminar o seu mandato, Trump defendeu que o presidente deve poder escolher o líder do banco central – e substituí-lo quando achar relevante.

“A Fed é uma entidade independente e, como presidente dos EUA, nunca interferiria com as suas decisões”, afirmou a vice-presidente e candidata democrata à Casa Branca, Kamala Harris, num contraponto claro à posição do 45º presidente.

Apesar da pressão de Trump, vários legisladores republicanos vieram recentemente a público mostrar o seu apoio a um corte de juros, lembrando os impactos que o atual ambiente restritivo tem tido nas empresas norte-americanas. Do lado democrata, três senadores de relevo, com Elizabeth Warren à cabeça, enviaram esta segunda-feira uma carta a Powell a urgir um corte de 75 p.b. perante o enfraquecimento da economia norte-americana e a subida do custo de vida para a população.

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