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Félix Morgado: “A Caixa Económica foi a última a entrar em reestruturação e a primeira a sair”

José Félix Morgado foi ainda questionado sobre a plataforma de gestão do crédito malparado, que foi acordada entre a CGD, o BCP e o Novo Banco, e que segundo Paulo Macedo avançará no próximo ano. Na resposta considerou-a uma iniciativa positiva, mas o Montepio Geral não vê benefícios para si na plataforma do malparado, porque não tem grandes exposições em comum com outros bancos.
  • Cristina Bernardo
29 Novembro 2017, 18h15

O presidente da Caixa Económica Montepio Geral, José Félix Morgado, foi um dos participantes da mesa redonda do Fórum Banca, do Jornal Económico/PwC que ocorreu esta quarta-feira, 29 de Novembro, no Hotel Ritz em Lisboa, que juntou ainda Nuno Amado, Paulo Macedo, António Ramalho e Licínio Pina (do Crédito Agrícola). Sobre o tema das Fintechs e de como convivem os bancos com estes novos players do mercado financeiro, que foi abordado no painel, disse que é preciso mais regulação, pois “a banca precisa de ter as mesmas condições de negócio que têm alguns dos potenciais concorrentes. Há que regular e ver o que queremos da banca no futuro, estimulando mas dando as mesmas condições de concorrência”.

José Félix Morgado salientou ainda que “há um custo em termos de segurança, do ponto de vista do clientes e do ponto de vista das transações. As Fintechs não conseguem transmitir segurança”. Há aí um desafio do próprio regulador que é o de acompanhar a evolução tecnológica. “Portanto esse é o tema do futuro em termos de ajustamento do mercado”.

José Félix Morgado nega no entanto que se fale de banca tradicional. “A banca é tudo menos tradicional, se fosse tradicional não tinha multibanco, não tinha os meios de pagamento que tem hoje, não tinha homebanking, portanto a própria banca tem a capacidade de se renovar e de se adaptar às tecnologias que estão disponíveis”.

A Caixa Económica vê os temas da inovação como uma oportunidade, diz o seu presidente. Porque, acrescenta, “aquilo que se passa no setor bancário é um ajustamento do modelo de negócio. As exigências dos clientes mudaram, hoje querem ter acesso ao banco 24 horas, no canal que entender e onde quer que esteja”, diz, adiantando que o banco “tem tido a capacidade, desde 2016/2017, de corresponder às novas exigências dos clientes”. Em termos de inovação, as Fintechs são bem vindas, são uma oportunidade, estimulam o desenvolvimento. Têm vantagens que os bancos não têm, porque têm de responder às alterações regulatórias ao mesmo tempo que estão a pensar no negócio.

Perante a afirmação de António Ramalho, presidente do Novo Banco, que disse que 2017 é o primeiro ano da estabilização financeira, José Félix Morgado diz que “este Conselho de Administração está a dar uma contribuição fundamental para a recuperação da Caixa Económica Montepio Geral e estabilização, não só do banco, mas de todo o sistema financeiro e, portanto, para a economia nacional”.

A atitude certa do setor é a abertura à mudança, disse o banqueiro.

José Félix Morgado reconhece a fase dura de reestruturação porque passou o sector. O presidente do Montepio Geral recordou que o banco entrou mais tarde na reestruturação, mas saiu mais cedo e deu o exemplo do regresso ao mercado ao fim de oito anos, não com uma emissão, mas com duas. “Obviamente que estamos num ciclo de transformação e tem que haver abertura à mudança. Portanto se há um ajustamento do modelo de negócio todos temos de estar preparados. Esse ajustamento passa pelo investimento em formação dos trabalhadores, para poderem adaptar-se às novas tecnologias e reconvertendo-os para outras áreas de modo a proteger os postos de trabalho. E passa por pensar que utilização vamos dar aos balcões, se vamos manter ou se vamos fechar”.

Já Licínio Pina, da Caixa Agrícola tinha dito, em tom de piada, que hoje quem quiser ser banqueiro tem de tirar o curso de informática.

Félix Morgado discordou da tese proferida na mesa redonda anterior, sobre as Fintechs, onde foi dito que as novas gerações preocupam-se menos com o tema da segurança. “Eu não estou de acordo, os jovens só não ligam à segurança quando não têm património, quando gerem as mesadas, mas quando começam a ter património passam a ligar. Vamos ver como é que as Fintechs vão lidar com os ciberataques e outras ameaças, porque a partir do momento em que tiverem fazer esse investimento em segurança, passam a ter condições de operabilidades semelhantes às dos bancos.

Plataforma do malparado avança no próximo ano, Félix Morgado diz que falta de capital atrasa redução do malparado

José Félix Morgado foi ainda questionado sobre a plataforma de gestão do crédito malparado, que foi acordada entre a CGD, o Banco Comercial Português e o Novo Banco, e que segundo Paulo Macedo avançará no próximo ano. Na resposta considerou uma iniciativa positiva, mas o  Montepio Geral não vê benefícios para si na plataforma do malparado, porque não tem grandes exposições em comum com outros bancos.

O presidente do Montepio disse que a plataforma pode ajudar alguns devedores, e pode ser complementada com incentivos do lado dos bancos, para, em caso limite, haver uma ajuda ao devedor, mesmo em termos de colaboração de capital. “Nesse sentido é uma iniciativa muito relevante”.

“Todos os bancos têm feito um esforço muito relevante para reduzir os NPE (Non-Performing-Exposure), mas só não é mais rápido porque não há capital. O mercado também não ajudava antes porque os descontos que eram pedidos, na venda de carteiras de crédito, eram muito significativos. O mercado entretanto alterou-se e hoje há melhores condições para isso ser feito. A própria Caixa Económica fez uma operação significativa de venda de crédito, portanto estão criadas as condições para que este problema dos NPE tenha de facto uma melhoria significativa”.

Segundo a vice-Governadora do Banco de Portugal, Elisa Ferreira, na sua intervenção inicial,  disse que havia em Junho um montante global de 42,3 mil milhões de euros em activos não rentáveis. “O esforço tem de continuar”, alertou.

 

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